“A preguiça é evitar agarrar vida porque isso causa tensão”

“A preguiça é evitar agarrar vida porque isso causa tensão”


Nuno Sousa, psicólogo, explica que a preguiça fé uma tendência intrínseca ao ser humano.


A preguiça faz parte do ser humano?  A preguiça por si só não é necessariamente intrínseca ao ser humano. Nós é que temos uma tendência inata para procurar um estado de pouca tensão. A preguiça entende-se como o não querer executar uma tarefa que pode ser trabalhosa mas, por exemplo, há pessoas que por terem uma baixa autoconfiança, evitam criar grandes desafios. E, portanto, são pessoas que também evitam a procura do prazer – uma necessidade que implica sempre um estado de tensão. Apesar de, aparentemente, a preguiça parecer uma vantagem para o preguiçoso, a médio ou longo prazo é desvantajosa. O preguiçoso coloca-se numa posição de dependência e, da mesma forma que delega nos outros as responsabilidades, não vai depois conseguir criar condições autónomas para poder ter prazer.

“É do ócio que surgem as melhores ideias”. Há alguma verdade nesta máxima?  Ócio e preguiça são coisas diferentes. No estado de ócio, em que a pessoa define não fazer nada para procurar prazer, sim: as boas ideias podem surgir. O prazer por si só é um sentimento criativo porque é estimulante. Leva-nos a querer explorar mais. A preguiça não é tanto esse caso. É sobretudo uma desresponsabilização, um evitar agarrar a vida porque isso causa tensão. Apesar de exteriormente parecerem estados semelhantes, têm, na sua base, diferenças consideráveis: a preguiça é evitar o desafio, porque provoca um conflito, no ócio vai-se à procura desse desafio porque causa prazer e é estimulante.

Quando é que a preguiça se torna preocupante? Pela natureza do ser humano, diria que a preguiça em crianças é menos alarmante do em adultos. É natural que a criança, pela inexperiência que tem de vida, ainda não se sinta confiante o suficiente para abarcar todos os desafios e experimentar coisas novas. Tudo é novo para elas e, não tendo um grande autoconhecimento, não sabem do que gostam ou são capazes. É normal que este confronto com coisas novas cause uma certa retracção. E mais normal é nas crianças pelas circunstâncias mas, obviamente, não é expectável que essa preguiça se mantenha ao longo do desenvolvimento.