Kunduz. MSF exigem investigação sobre “crime de guerra”

Kunduz. MSF exigem investigação sobre “crime de guerra”


Barack Obama já lamentou o sucedido. Médicos Sem Fronteiras e ONU exigem investigação rápida.


Os ataques aéreos dos Estados Unidos atingiram no sábado um hospital administrado pelo grupo de ajuda Médicos Sem Fronteiras (MSF), em Kunduz, no Afeganistão. 

O acidente vitimou 22 pessoas, 12 médicos e dez pacientes, incluindo três crianças.

Logo após o atentado, o presidente americano, Barack Obama, pediu desculpa pelo sucedido e apresentou as suas “sinceras condolências”.

“Em nome do povo americano, estendo as minhas profundas condolências aos profissionais da área médica e demais civis mortos e feridos no incidente trágico ocorrido no hospital da Médicos sem Fronteiras em Kunduz”, disse Obama num comunicado divulgado pela Casa Branca, acrescentando que os EUA podem ter causado “danos colaterais” com este ataque.

Depois do acidente, os MSF mostraram-se “revoltados” com a situação e, nesse sentido, informou que a organização retirou-se da cidade de Kunduz.

“O hospital dos MSF não pode continuar a funcionar. Os pacientes que estavam em estado crítico foram transferidos para outros estabelecimentos e já não há funcionários no nosso hospital”, informou Kate Stegeman, porta-voz da organização no Afeganistão, acrescentando que possivelmente o centro não voltará a abrir naquela região.

Foi também pedida pelos MSF uma investigação internacional independente. “Sobre a clara presunção de que um crime de guerra foi cometido, os MSF demandam que uma completa e transparente investigação sobre o atentado seja conduzida por um órgão internacional independente”, afirmou Christopher Stokes, director geral dos Médicos sem Fronteiras.

Apesar dos EUA já terem começado uma investigação, Stokes avança que “depender apenas de uma investigação interna por uma parte do conflito seria totalmente insuficiente”.

A Organização das Nações Unidas (ONU) também condenou o ataque que considerou “trágico, indesculpável e possivelmente criminoso”. O alto-comissário para os Direitos Humanos da ONU, Zeid Ra’ad Al Hussein, determinou que ocorrerá uma investigação “rápida, completa e transparente”. “Este incidente profundamente chocante deve ser investigado em detalhe e de forma independente”, disse Al Hussein, acrescentando que os resultados “devem ser levados a público”.

Os ataques, segundo a ONU, podem ser considerados crimes de guerra por terem sido direccionados a um hospital.
A cidade de Kunduz é palco de  confrontos cada vez mais intensos desde que, na semana passada, os talibãs ocuparam a localidade, naquela que foi a sua maior vitória da sua insurgência em quase 14 anos. Seguiu-se uma ofensiva das forças afegãs, apoiadas pelas forças dos EUA.

Os confrontos fizeram vários feridos e os MSF divulgaram um comunicado onde informaram que o hospital estava “inundado de pacientes”. Os números apontavam para 171 feridos, entre os quais 46 crianças.

Na altura do ataque, os MSF esclareceram que todas as partes involvidas no conflito, incluindo Cabul e Washington, foram claramente informadas, “em várias ocasiões” da localização exacta (com coordenadas GPS) de todas as instalações do hospital.

É exactamente por isso que os MSF acusam os EUA de um ataque premeditado. O Ministério da Defesa afegão lamentou o ataque, mas disse que “um grupo de terroristas armados estava a usar o prédio do hospital como posição para atingir forças afegãs e civis”.