Há males que vêm por bem, já se sabe, mas Diana Marques e Nuno Domingues podem voltar a contar-lhe uma história dessas. Foi em 2013, e depois de Nuno ter ficado desempregado pela “quinquagésima nona vez”, exagera Diana, responsável pela comunicação da TAP, que o casal começou a pensar em mudar de vida.
Antes de se apaixonar por Nuno, Diana, que também tirou um curso de Fotografia na Associação Portuguesa de Arte Fotográfica, já se tinha apaixonado “pelas fotografias dele”. Em Março de 2013, Nuno decidia oferecer-lhe a sua primeira máquina analógica, “uma Olympus OM2”, até porque Diana – que por acaso também é o nome de uma câmara – já estava farta do “digital”.
Um mês depois, em Abril desse ano, era a vez de Nuno fazer anos e Diana também escolhia uma máquina analógica para lhe oferecer. Já se tinha pegado o “bichinho das máquinas”, como lhe chamam, e não havia volta a dar.
“Em Maio, o Nuno voltou a ter uma proposta de emprego, mas era tão má que isso nos deixou um bocado chocados e nos acordou para fazer qualquer coisa e mudar de vida”, continua Diana.
O casal sempre teve vontade de montar um negócio próprio e de não estar susceptível aos interesses dos patrões e começou a ver nas máquinas fotográfico um flash ao fundo do túnel. “Começámos a reparar que no curso onde estávamos havia muita gente à procura de máquinas analógicas, mas que aqui em Lisboa não era muito fácil encontrá-las, principalmente a um bom preço”, explicam.
As máquinas que tinham encomendado nos aniversários tinham vindo do Porto, da loja online Máquinas de Outros Tempos, com peças vintage, “mas encomendar pela internet não é a mesma coisa que ver e experimentar as máquinas”, diz Diana.
Outra vez graças à crise, os dois perceberam que havia muita gente a querer desfazer-se de coisas velhas que tinham em casa. Principalmente máquinas de avôs, tios, pais e afins.
Percorreram sites do género OLX e começaram a negociar “a um preço justo” com os vendedores e a reunir uma boa colecção de máquinas para vender em feiras.
Bancas A primeira onde estiveram, foi há precisamente dois anos, no LX Market, aos domingos na LX Factory, em Alcântara. “Vendemos uma máquina”, recordam. Mais clientes vieram, principalmente depois de Abril do ano passado, quando se juntaram à Feira das Almas, nos primeiros fins-de-semana de cada mês na Taberna das Almas, nos Anjos. “Quando abriram as portas da feira, parecia as promoções do Pingo Doce em versão máquinas fotográficas”, conta Diana. “Não conseguíamos sair da banca nem para fotografar o que se estava a passar, foi surreal.”
Este fim-de-semana voltam a estar presentes na Feira das Almas no domingo. No sábado, conseguiram pela primeira vez um espaço na Feira da Ladra, onde deverão estar ao fim-de-semana no resto do mês se o tempo o permitir, até porque por enquanto ter uma loja fixa ainda é só uma ideia. “Temos uma página no Facebook com os contactos e, além das feiras, o Nuno [que entretanto se dedica ao negócio a tempo inteiro] também costuma vir a Lisboa encontrar-se com interessados.”
Há clientes que já chegaram a comprar três máquinas destas. “Por exemplo, o senhor Zé, que diz que qualquer dia até a mulher o expulsa de casa”, riem-se.
Diana e Nuno não têm problemas desses. “Só se estraga uma casa”, brincam, e na sua têm máquinas por todo o lado. Costumam testar o material que vendem com pelo menos um rolo e às vezes o mais difícil é separarem-se das máquinas.
Como a Nikon f/2 AF que venderam por 400 euros (“quando na verdade valia 800 euros”) a um cliente em Timor Leste, “um fotógrafo português que vive lá”. “Foi a menina dos olhos, quase que chorámos quando a vendemos e ainda hoje falamos dela”, contam. Já se sabe, é um negócio e “não nos podemos apegar a tudo”, mas Nuno ainda pensa um dia ter uma só para si. “Aliás, a minha foto de perfil no Facebook é com essa máquina e não quero tirá-la.”