Síria. Ocidente treme com a entrada da Rússia na luta contra o terrorismo

Síria. Ocidente treme com a entrada da Rússia na luta contra o terrorismo


EUA, Reino Unido e França ajudam os terroristas bons que atacam Assad. Moscovo ataca todos os que o ameaçam.


Outubro de 2015. O território sírio é bombardeado pelos EUA, Reino Unido, França e Rússia. Os países ocidentais dizem combater o Estado Islâmico e apoiam grupos terroristas que atacam o presidente Assad. A Rússia ataca todos os que se opõem ao líder sírio, incluindo os terroristas jihadistas. 

Tudo começou a 18 de Março de 2011. A Síria entrou em guerra civil e deste então não mais voltou a ser a mesma. A culpa desta guerra é atribuída pelo Ocidente ao governo do presidente Bashar al-Assad. Os sírios aproveitaram a Primavera Árabe e pediram uma reforma democrática. Os protestos não foram bem aceites pelo governo que respondeu com medidas extremas. E os grupos da oposição, criados por civis, também começaram a combater contra o governo. Foi o início da guerra civil síria. Esta guerra já tirou a vida a cerca de 100 mil pessoas e mais de quatro milhões já se viu obrigada a fugir em busca de melhores condições de vida. 

Actualmente, a Síria não enfrenta apenas uma guerra civil. E, em pouco mais de quatro anos, a guerra na Síria tomou proporções colossais. O conflito tornou-se maior quando a frente Al- Nusra da Al-Qaeda começou a operar na Síria em 2012. Um ano depois foi a vez dos jihadistas do Estado Islâmico. E é aqui que a ajuda exterior começa a ser necessária em território sírio.

Em Janeiro de 2012, a Síria anunciou que rejeitava a proposta da Liga Árabe para que Al-Assad se afastasse do cargo e para que fosse criado um governo de unidade nacional. Além da Liga Árabe, a ONU, a União Europeia e os Estados Unidos também condenaram a violência e o regime do governo sírio.

Ajudas e estratégias A Rússia e o Irão são os maiores apoios do presidente sírio Bashar Al-Assad. É através destes países que a Síria recebe grande parte do armamento militar. Mas as ajudas destes países na Síria são, obviamente, estratégicas. Além de não defender intervenções internacionais noutros países, a Rússia detém uma base naval em território sírio que não só é importante estrategicamente como é a última do país fora da antiga União Soviética. O apoio do Irão à Síria é mais directo. É do conhecimento comum que o Irão considera Israel e os Estados Unidos como países inimigos e usa a Síria como “protecção” ao enviar armamentos para os grupos combatentes em Hezbollah, no Líbano, e Hamas, na Faixa de Gaza. A ajuda russa poderá servir os interesses do Kremlin de várias formas: ajudar a fortalecer o governo de Assad. e pôr Moscovo numa posição mais forte para dar forma a um novo governo sírio caso Assad seja afastado do poder. Isto ajuda também a Rússia a cimentar os seus interesses estratégicos. Especialistas consideram a Rússia como o mais importante posto militar no Médio-Oriente nos últimos tempos.

Caso Al-Assad seja afastado do poder, tanto a Rússia como o Irão perdem um enorme aliado. 

Os ataques aéreos russos na Síria tiveram início na quarta-feira e foram logo criticados pelos governos americano e francês que declaram que a Rússia não quer combater contra o Estado Islâmico mas sim contra os grupos que tentam fazer cair o governo sírio.

Os interesses dos Estados Unidos passam por impedir o uso de armas químicas e controlá-las para impedir que o Irão consiga dominar a região. O estado americano tem também intenção de conseguir destronar o Estado Islâmico.

Contudo, os ataques aéreos da coligação liderada por Washington têm sido alvo de bastantes críticas por ainda não terem conseguido travar a progressão dos terroristas na Síria. Depois do atentado do 11 de Setembro, o principal inimigo dos EUA é a Al-Qaeda que também está a actuar na Síria. A presença americana em território sírio está também relacionada com a oportunidade de impedir que a Rússia e o Irão fortaleçam as suas posições e forças militares no Médio Oriente.

Também a França está a ajudar nesta luta contra o terrorismo na Síria e tem como principal alvo o Estado Islâmico. Segundo o presidente francês François Hollande, os principais objectivos destes ataques são evitar que o Estado Islâmico tenha como alvo interesses franceses. E, como é óbvio, pretendem também proteger os civis sírios. 

Duplicidade turca A Turquia, tal como a França e os EUA, não apoia o governo de Assad. Apesar de querer evitar o avanço do Estado Islâmico na região, o governo turco, segundo avança o presidente Recep Tayyip Erdogan, pretende também atacar os militantes do grupo separatista PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), que há muito luta por um estado independente e que estão também presentes em território sírio. A Turquia autorizou os Estados Unidos a usar as suas bases aéreas no país, no sentido de obter apoio nos ataques ao autoproclamado Estado Islâmico. 

Apesar de todas as ajudas estrangeiras que estão actualmente presentes na Síria, o conflito parece não mais ter fim. E as maiores consequências de todas estas divergências políticas, económicas e estratégicas são o elevado número de mortos (que só em Setembro ultrapassou os quatro mil) e os milhões de refugiados que procuram melhores condições de vida longe da guerra em que se encontra o seu país. 

O Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados, ACNUR, emitiu recentemente um comunicado em que afirma que “a perda de esperança e as péssimas condições de vida na Síria são os principais factores por trás do recente aumento do número de sírios que procura refúgio na Europa”.

Segundo o ACNUR, “quatro milhões de refugiados sírios vivem actualmente em países vizinhos, mas nos últimos meses houve um aumento acentuado no número de pessoas que procuram asilo mais longe, principalmente na Europa”. E o êxodo vai continuar.