O tempo em que o livro, o lápis, a borracha e a caneta bastavam para recomeçar as aulas ficou no passado. Agora, a matemática é outra e não é tão simpática para as famílias: é sempre a multiplicar. E, no caso, dos casais com mais de um filho, há ainda mais contas a fazer. Este início de ano lectivo foi o primeiro “verdadeiramente complicado” para Sónia e Carlos.
Os filhos mais novos – Gustavo e Gonçalo, de 6 anos – entraram no 1.o ano e, ao contrário do que aconteceu com a mais velha, tiveram de levar para a escola tudo e mais alguma coisa: “Ficamos mal habituados com o aconteceu com a Leonor. Logo na primeira reunião, o professor avisou que queria os livros e todos os outros materiais didácticos disponíveis”, conta o casal. A lista era grande e as exigências caíram todas ao mesmo tempo: “Se fosse faseado também ajudava a equilibrar os gastos cá de casa.”
Ana e Paulo Antão também têm três filhos – Catarina, André e Joana, separados por três anos. O André passou para o 5.o ano e isso foi suficiente para gastarem mais este ano com o acréscimo de manuais. O que vale é que contam com uma ajuda. A família de Odivelas tem usufruído de um programa da câmara municipal que oferece os livros às crianças a frequentar o primeiro ciclo: “Desde o tempo da Catarina, a nossa filha mais velha, que temos esse desconto. No ano passado beneficiámos dos livros do André e da Joana e este ano passou a ser só para a mais nova. Mesmo assim foi uma poupança de 50 euros”, diz Ana Antão.
Fazer parte de uma família numerosa também fez com que Ana e Paulo aguçassem o talento para a poupança. “O André no 5.o ano tem cinco disciplinas base e eu não comprei quatro desses livros até começarem as aulas porque os nomes coincidiam com os que a Catarina tinha usado”, explica a mãe.
Decidiram comprar só o manual de Inglês porque o da irmã já estava muito manuseado. “Qual não foi o nosso espanto quando percebemos que o livro tem uma capa completamente e um código diferente do que usou a Catarina, mas por dentro é exactamente igual. Ficámos frustrados”, contam. Ana optou então por levar os restantes livros da filha mais velha às professoras de André para ver se haveria alguma possibilidade de reutilizar mais algum. “Dos quatro que sobraram só comprei dois”, conta. “Matemática mudou completamente mas este aproveitamento de dois livros não foi mau de todo.”
Sónia e Carlos, por outro lado, não tiveram outra opção senão comprar todos os manuais da lista. “Os livros para os anos que eles estão a frequentar ainda não são dos mais caros mas os da Leonor já chegaram aos 70 euros.
Sabemos que daqui para a frente é sempre a subir”, desabafa Carlos Miranda. Nem os livros dos primos mais velhos serviram porque agora há novas edições. E as bolsas de empréstimos também não tiveram qualquer utilidade porque com as novas metas curriculares definidas pelo Ministério da Educação, os manuais têm mesmo de ser os mais actualizados. Resta aproveitar o que sobra: “Em vez de termos de recorrer a mais fichas ou apoios usamos livros dos primos.”
Truques e poupanças A família Miranda tem outros truques guardados na manga. O papel é sempre usado dos dois lados e os excedentes dos lápis de cor da Leonor são agora utilizados em casa pelos gémeos Gustavo e Gonçalo. “Tudo é passado a pente fino para saber se se pode voltar a usar”, explica Sónia entre risos. Até Leonor já tem a noção que não pode ter tudo novinho em folha: “Ela entende que há muitos gastos. A mochila tem-se aguentado mas houve sempre um pormenor ou outro que fizemos questão de lhe comprar.” No total, a família Miranda gastou cerca de 200 euros em livros e material escolar. A somar vêm ainda as despesas com sapatilhas, roupa, computadores e, mensalmente, também com centros de actividades de tempos livres.
A família Antão gastou 500 euros apenas com os livros escolares e os materiais necessários para o arranque do ano lectivo. E a conta só não foi maior devido aos descontos tentam apanhar aqui e ali: “Aproveitei a promoção de uma das editoras que dá 15% de desconto até Julho e também não comprámos tudo no mesmo mês, o que ajudou a organizar o orçamento”, conta Ana.
As mochilas e os estojos foram comprados numa loja com 50% de desconto em talão. “Escolhemos materiais um bocadinho melhores porque sabemos que vão durar mais e podem passar de uns para os outros. Há lápis que já temos há três anos.” O truque é não ir às compras sem ter uma lista do que há em casa e se pode aproveitar. Tal como aconteceu com a reutilização dos livros da Catarina para André, o casal têm uma esperança: “Pode ser que os livros dele depois passem para a Joana.” Para o ano logo se vê.