Em Maio deste ano o i comparou a popular série “Guerra dos Tronos” com os nossos políticos. À líder do Bloco de Esquerda (BE) Catarina Martins calhou a personagem Arya Stark e na altura, descrevemo-la assim: “Princesa guerreira com o ar de rapaz travesso, aprendeu a lutar com a mão esquerda. A morte do pai (Francisco Louçã) torna mais radical uma viragem para a vingança, a sua história está longe de ser um conto de fadas, muito pelo contrário, como bem atestam os últimos resultados eleitorais do BE”. Esta sexta-feira, no último dia de campanha eleitoral em Portugal, na última arruada do Bloco no Porto, a “pequenina” Catarina demonstrou que essa “luta toda” de esquerda- como diz a canção deste partido- está preparada para reverter os resultados das legislativas de 2011, próximo Domingo, e aumentar o grupo parlamentar. E, quem sabe, “ser governo”. Pelo menos, foi isso que testemunhámos a Norte.
“Até os comemos!” Bandeiras vermelhas, às cores (LGB), uma pequena enchente perfilava-se na Rua de Santa Catarina perto das 17h30. Os tambores já tocavam, os jornais do Bloco empacotados e distribuídos por vários militantes, e o cheiro a castanhas fazia o aquecimento para a última arruada do Bloco. O número dois do BE na Invicta, José Soeiro, a cabeça-de-lista por Lisboa Mariana Mortágua e o ex-coordenador João Semedo já se tinham juntado ao grupo, sorridentes, bem dispostos e sobretudo confiantes que “desta vez vai ser Bloco de Esquerda”. Todos à espera da tal “princesa guerreira” que venceu todos os debates televisivos, da tal “pequenina grande” Catarina, como se ouviu de norte a sul ( menos no interior, onde a caravana bloquista não passou) nestes dias.
No centro do país, os outros três partidos com assento parlamentar, CDU, a coligação PSD/CDS e PS, todos liderados por homens, preparavam a descida na Baixa Chiado, para a batalha final, enquanto que a Norte, uma mulher, Catarina, chegava à sua arruada, ao lado da eurodeputada Marisa Matias- outra das figuras femininas centrais na estratégia de apelo ao voto feminino do BE- e cumprimentava os primeiros militantes. Nas várias arruadas passadas, Catarina está sempre ao lado de um dos cabeça-de-lista dos distritos por onde passa, mas esta tarde- não sendo excepção-, ganhou mais um “simpatizante”, o actor António Capelo, cara bem conhecida das novelas portuguesas. “Olho para o Bloco como uma grande família, espero que as pessoas quando forem votar, tenham na cabeça a ideia da imagem de um país que sofreu muito””, confessou aos jornalistas.
A confusão ia crescendo à medida que a comitiva “vermelha” descia a rua, muita gente, nova, mais velha, reformados, pensionistas, pais, feirantes, interpelavam os jornalistas- “deixe-me dar um beijinho à Catarina!”- para abraçar e beijar a responsável máxima do BE. O Director Ricardo Moreira, juntamente com um militante, fazia um círculo à volta dos repórteres de imagem, para que ninguém caísse ou se magoasse, a azáfama ia crescendo, e até turistas, tal era o espanto, rompiam a multidão para tirar fotografias com Catarina. “Le Bloc de Gouche!” gritou a também número 1 do Porto para um francês. “Trés bien!”, devolveu o turista, que mais tarde, interromperia novamente a iniciativa para uma selfie. Um espanhol, talvez por inveja ao francês, ou simples curiosidade, cumprimentou Catarina e desejou-lhe “suerte”, a líder bloquista, qual poliglota, retorquiu: “gracias!”.
A emoção nos olhos de Catarina, que muitos achavam que se reverteria em lágrimas, não deixava enganar ninguém, pois os apelos, as mensagens, os desabafos, de quem quer ajuda para “salvar Portugal”- e em que a busca pelo nome dos testemunhos foi impossível graças ao ritmo frenético-, foram o motor de um partido que parecia estar a jogar em casa. “O Bloco pode crescer por todo o país, e com isso derrotar a direita”, chutou Catarina Martins às televisões, demonstrando a ambição de “jogar em todas as casas” do país, para recuperar deputados perdidos, e aumentar o grupo parlamentar.
“Ah aqui anti-capitalista!” cantavam os militantes, empurrando o metro e meio de Catarina já para o final da arruada. Houve tempo para declarar que Paulo Portas deveria ter “vergonha na cara” por se ter apresentado em 2011 como o partido dos pensionistas, e acabou por prejudicar os mesmos, ou até de transmitir, que “um país que não respeita quem trabalhou uma vida inteira, não se respeita a si mesmo”, a uma idosa, essa sim, muito emocionada.
O ex-líder do BE Francisco Louçã- que entrou na campanha, juntamente com outros históricos do partido como Fernando Rosas e Luís Fazenda-, já mesmo na recta final, decidiu entrar pelo confusão a dentro, dar um abraço a Catarina e definir ao i, numa palavra, a campanha bloquista de 2015: “um encanto!”, rematou de sorriso cheio. A actual responsável máxima pelo Bloco saiu abruptamente para o veículo bloquista, tal foi a enchente inesperada de gente que engoliu Catarina durante perto de 40 minutos. “Até os comemos!” desabafou um senhor, demonstrando, e também pelo embalo das sucessivas sondagens que dão o BE a crescer, que a 4 de Outubro, existe mesmo a hipótese de concretizar as ambições bloquistas.
Caro leitor, como escrevemos, em Maio deste ano, o i comparou Catarina Martins à personagem Arya Stark. Ao olhar para esta campanha, para a tal “luta toda” que o Bloco andou a pregar durante estes últimos 12 dias, parece mesmo que a porta-voz bloquista leu o artigo e quer agora demonstrar, não só a este jornal como a todo o país, que quer fazer esquecer as crónicas da morte anunciadas do BE no ano passado, mas sobretudo, provar que o seu partido quer passar a ser governo, e deixar de ser só de protesto. “Estará na hora?” Talvez, resta saber se as urnas ajudam, e se é possível para o Bloco chegar ao poder sem acordos com os restantes partidos de esquerda, especialmente com o principal, o PS.