Muito mais que uma eleição


Num tempo em que a política e a economia do engano vigoram, domingo só pode ser de recuperação da esperança num futuro diferente.


© Andre Kosters/Lusa

As eleições de domingo não são uma espécie de segunda volta de 2011 nem podem ser uma expressão de mínimos denominadores comuns. São muito mais do que uma eleição normal. 

O expectável será o encerramento de um ciclo político da direita no governo e a terceira vitória consecutiva do PS em eleições de âmbito nacional. Depois da vitória histórica do PS nas eleições autárquicas de 2013, em que conquistou 150 municípios, e da vitória nas europeias contra o PSD e o CDS coligados, este é o momento do “corram com eles” que tantas vezes ouvimos nos últimos quatro anos. 

O expectável é que o PS e a sua liderança tenham sido competentes e eficazes no relembrar do que foram os últimos quatro anos de governo de Passos e de Portas e na apresentação das propostas alternativas para cumprir o desígnio da vitória com maioria absoluta. Aliás, é delicioso o debate sobre os estudos de opinião. No passado eram convenientes e quem os faz eram próximos de quem agora os critica. No passado, Paulo Portas vociferava contra os ditos e agora está calado que nem um rato. No pretérito, as famosas tracking polls eram um mero instrumento de trabalho interno dos partidos políticos para avaliar as tendências e a evolução; agora são protagonistas. 

O expectável é que a estratégia de negligenciar o centro e privilegiar um discurso à esquerda para alavancar o voto útil no PS produza o efeito desejado e seja um elemento fundamental da obtenção da maioria absoluta de que Portugal precisa. Tudo isto apesar de PCP e BE exercitarem a permanente acidez contra o PS. Para a esquerda à esquerda do PS, é irrelevante se a direita continua ou não no poder, o que importa é que o PS não cresça. No meio da gritaria eleitoral, em que não querem abdicar de nada para a convergência, ignoram a premissa fundamental: para formar governo, domingo, ou ganha o PS ou ganha a coligação PSD/CDS. O PS já abdicou de algo importante como partido de poder ao afirmar que não viabilizará o Orçamento do Estado para 2016 caso a direita ganhe as eleições (cruz credo!), mas a esquerda prossegue os jogos florais.

O PCP diz que o PS não existiu nos últimos quatro anos, como se os 10% de intenções de voto fossem sinónimo de capacidade suplementar de atracção de descontentamento. A aposta do PS foi a da construção do posicionamento do partido como alternativa credível, depois da governação e da subscrição do Memorando, da criação de condições para, com responsabilidade, criticar e apresentar soluções viáveis e a da intransigência como nunca, quando se tratou da tentativa de desmantelar o Estado social. Alguns já se esqueceram que, pela primeira vez na história parlamentar, o PS impediu a criação de uma comissão parlamentar para a chamada reforma do Estado, cortes na saúde, na educação e na protecção social. A reforma caiu. 

O BE, com as falinhas de sempre, mói mas não mata, porque o intento nunca é a construção. Restam os projectos pessoais convertidos em partidos ou movimentos e os que desesperam por um lugar ao sol. 

Domingo é muito mais que uma eleição entre a continuidade ou a mudança. No dia seguinte, não há espaço para desculpas ou lamúrias. Ganha o estado de espírito “estes são maus mas já sabemos com o que contamos” ou a esperança do “ é correr com eles, tirá-los de lá”? Ganha o medo ou a mudança?

Ganham as sondagens e afins ou a mobilização dos cidadãos, alguns para darem uma última oportunidade, a derradeira réstia de confiança a um sistema político configurado há 41 anos, sem grandes alterações? 

Ganham os comentadores de direita a enxamear os órgãos de comunicação social ou os fazedores de comentários que a partir da zona de conforto, em Lisboa, nos cafés e nos copos, procuram modelar o ambiente político e impedir perturbações por quem não pertence a essa nata? 

Num tempo em que a política e a economia do engano vigoram, espero de domingo a recuperação da esperança num futuro diferente; o fim do vale-tudo; o regresso dos políticos que respeitam a dignidade humana e não se resignam com as desigualdades, os interesses instalados e todo um país à espera de respostas. 

Não é uma eleição qualquer, mas o voto será o de sempre. 

Escreve à quinta-feira

Muito mais que uma eleição


Num tempo em que a política e a economia do engano vigoram, domingo só pode ser de recuperação da esperança num futuro diferente.


© Andre Kosters/Lusa

As eleições de domingo não são uma espécie de segunda volta de 2011 nem podem ser uma expressão de mínimos denominadores comuns. São muito mais do que uma eleição normal. 

O expectável será o encerramento de um ciclo político da direita no governo e a terceira vitória consecutiva do PS em eleições de âmbito nacional. Depois da vitória histórica do PS nas eleições autárquicas de 2013, em que conquistou 150 municípios, e da vitória nas europeias contra o PSD e o CDS coligados, este é o momento do “corram com eles” que tantas vezes ouvimos nos últimos quatro anos. 

O expectável é que o PS e a sua liderança tenham sido competentes e eficazes no relembrar do que foram os últimos quatro anos de governo de Passos e de Portas e na apresentação das propostas alternativas para cumprir o desígnio da vitória com maioria absoluta. Aliás, é delicioso o debate sobre os estudos de opinião. No passado eram convenientes e quem os faz eram próximos de quem agora os critica. No passado, Paulo Portas vociferava contra os ditos e agora está calado que nem um rato. No pretérito, as famosas tracking polls eram um mero instrumento de trabalho interno dos partidos políticos para avaliar as tendências e a evolução; agora são protagonistas. 

O expectável é que a estratégia de negligenciar o centro e privilegiar um discurso à esquerda para alavancar o voto útil no PS produza o efeito desejado e seja um elemento fundamental da obtenção da maioria absoluta de que Portugal precisa. Tudo isto apesar de PCP e BE exercitarem a permanente acidez contra o PS. Para a esquerda à esquerda do PS, é irrelevante se a direita continua ou não no poder, o que importa é que o PS não cresça. No meio da gritaria eleitoral, em que não querem abdicar de nada para a convergência, ignoram a premissa fundamental: para formar governo, domingo, ou ganha o PS ou ganha a coligação PSD/CDS. O PS já abdicou de algo importante como partido de poder ao afirmar que não viabilizará o Orçamento do Estado para 2016 caso a direita ganhe as eleições (cruz credo!), mas a esquerda prossegue os jogos florais.

O PCP diz que o PS não existiu nos últimos quatro anos, como se os 10% de intenções de voto fossem sinónimo de capacidade suplementar de atracção de descontentamento. A aposta do PS foi a da construção do posicionamento do partido como alternativa credível, depois da governação e da subscrição do Memorando, da criação de condições para, com responsabilidade, criticar e apresentar soluções viáveis e a da intransigência como nunca, quando se tratou da tentativa de desmantelar o Estado social. Alguns já se esqueceram que, pela primeira vez na história parlamentar, o PS impediu a criação de uma comissão parlamentar para a chamada reforma do Estado, cortes na saúde, na educação e na protecção social. A reforma caiu. 

O BE, com as falinhas de sempre, mói mas não mata, porque o intento nunca é a construção. Restam os projectos pessoais convertidos em partidos ou movimentos e os que desesperam por um lugar ao sol. 

Domingo é muito mais que uma eleição entre a continuidade ou a mudança. No dia seguinte, não há espaço para desculpas ou lamúrias. Ganha o estado de espírito “estes são maus mas já sabemos com o que contamos” ou a esperança do “ é correr com eles, tirá-los de lá”? Ganha o medo ou a mudança?

Ganham as sondagens e afins ou a mobilização dos cidadãos, alguns para darem uma última oportunidade, a derradeira réstia de confiança a um sistema político configurado há 41 anos, sem grandes alterações? 

Ganham os comentadores de direita a enxamear os órgãos de comunicação social ou os fazedores de comentários que a partir da zona de conforto, em Lisboa, nos cafés e nos copos, procuram modelar o ambiente político e impedir perturbações por quem não pertence a essa nata? 

Num tempo em que a política e a economia do engano vigoram, espero de domingo a recuperação da esperança num futuro diferente; o fim do vale-tudo; o regresso dos políticos que respeitam a dignidade humana e não se resignam com as desigualdades, os interesses instalados e todo um país à espera de respostas. 

Não é uma eleição qualquer, mas o voto será o de sempre. 

Escreve à quinta-feira