Um caminho de métodos, disciplina e organização

Um caminho de métodos, disciplina e organização


Tornar o estudo aprendizagem não é imediato. Implica rotinas de trabalho, exige tempo e organização e passa ainda por escolher o melhor método – não o que resulta com outros, mas aquele que lhe serve a si.


Francesco Cirillo era apenas mais um estudante, no final dos anos 80, quando teve uma ideia eficaz. Começou a utilizar um cronómetro de cozinha em forma de tomate para contabilizar o tempo de trabalho e estabelecer intervalos rígidos. E assim descobriu que estas pequenas pausas, cronometradas, ajudavam a garantir uma maior concentração durante o trabalho. 

A simplicidade e facilidade de aplicação tornariam esta prática conhecida e replicada mundialmente, sob o nome de “método pomodoro” (tomate em italiano). Mais de três décadas depois, o que nos diz a história deste italiano sobre o estudo e a aprendizagem?

Não se apresenta necessariamente como o método ideal para todos (existem muitos possíveis, estudados ou postos em prática), mas evidencia um aspecto essencial para que o estudo se transforme em aprendizagem: disciplina e organização do tempo.

Saber estudar passa por “aprender a criar bons hábitos de trabalho”, conta Tânia Rangel, psicopedagoga do centro SEI. “Aprende-se a ser persistente, a lidar com a frustração, a planificar e a trabalhar de forma metódica. Todas estas características são muito importantes tanto para o sucesso académico como profissional.”

 

COMEÇAR CEDO Hábitos e métodos de estudo podem ser adquiridos em qualquer idade, mas levam o seu tempo e, quanto mais cedo se começar a interiorizá-los, melhor. O ideal, portanto, é a partir do 1.o ciclo ou “até antes de ir para a escola”, explica a directora do centro de psicopedagogia Apoio XXI. “A criança deve perceber que há espaço para as brincadeiras, para as responsabilidades, para o descanso…” E quando entra na escola, esta rotina de conhecer cada espaço ganha ainda mais relevância porque começa a perceber diariamente que deve cumprir as tarefas solicitadas: “À medida que a exigência vai aumentando pode ir aprendendo as melhores estratégias para estudar” com a ajuda de pais e professores, diz Márcia Cruz.

No 1.o ciclo, o importante é ajudar a criança a adquirir bons hábitos de estudo e aprendizagem, esclarece Tânia Rangel. Ou seja, estabelecer um horário claro, agendar testes e planificar o estudo, definir um tempo de concentração e pequenas pausas (se possível, cronometrados) e trabalhar a persistência, frustração, erro e insucesso. “A partir do 2.o ciclo, com hábitos já adquiridos, a prioridade passa a ser adquirir bons métodos.”

 

À MEDIDA DE CADA UM Mas nem todos os métodos são bons ou maus em si mesmos, na medida em que não servem a todos os estudantes por igual. “Não existe uma receita universal. O que é válido para um pode não o ser para outro”, avisa Márcia Cruz. “Há jovens que se dão melhor com resumos ou mapas conceptuais, outros que preferem ler, conversar ou falar em voz alta. Há os que estudam bem com música ambiente, outros que se distraem com qualquer mosca.” Pais e escolas devem saber adaptar-se ao aluno que têm à frente, orientando-o em função das suas necessidades. 

“Às vezes, o fundamental é mesmo a disponibilidade para ouvir”, atira Paula Gonçalves, directora do centro de explicações Ás de Saber. “Chegam-me muitos alunos que não têm ninguém a quem explicar a matéria. E aí eu digo-lhes: ‘Falem com os bonecos, expliquem a uma bola de futebol.’ Exteriorizar a matéria ajuda a estruturar o pensamento e a memorizar.”

 

NEM TUDO VALE Embora seja verdade que a eficácia dos métodos varia consoante os alunos, existem erros que podem ser fatais numa aprendizagem. Mais do que estudar, importa saber como estudar. É frequente ver estudantes que passam uma tarde inteira no quarto, sentados à secretária, julgando que estão a aprender. “Eles pensam que estão a estudar, os pais pensam que eles estão a estudar mas, no final, a nota do teste é negativa”, diz Tânia Rangel. “O erro mais frequente é passarem o tempo apenas a ler a matéria, a tentar decorá-la, sem exercitar ou compreendê-la.”

Estudar engloba várias fases. No início, o importante é recolher a informação, ler, sublinhar, destacar o mais importante; depois disso importa resumi-la, exercitar e memorizar o que for necessário. Esse é um trabalho que exige empenho e concentração, mas também que sejam criadas as melhores condições para que o estudo aconteça.

Escolher os métodos que se adequam a si, encontrar a luz certa, alimentar-se bem e ter um horário estruturado que contemple pausas e horas de sono é essencial, assegura Paula Gonçalves. “A cada 90 minutos ou 2h deve fazer-se uma pausa no estudo, idealmente de 15 a 20 minutos.”

O local de estudo também é importante. “Deve existir um espaço específico, sem muito movimento”, explica Márcia Cruz. “O problema é que, hoje em dia, os quartos das crianças e adolescentes estão cheios de distracções – se assim for, devem escolher outro local.” Tudo o que possa distrair (telemóvel, computador, televisão) deve ser eliminado, a não ser que seja essencial para realizar o trabalho. 

Por fim, os momentos e ritmos de estudo também devem ser respeitados. Há alturas para se estar sozinho e outras em grupo. “Regra geral, é melhor estudar primeiro sozinho e só depois, quando o conhecimento está consolidado, conversar com alguém sobre a matéria”, avança. Por fim, não esquecer uma regra que, apesar de básica, nem todos seguem: evitar acumular a matéria. O estudo deve ser contínuo, acrescenta Paula Gonçalves: “O conhecimento tem de ser apreendido, não pode ser comido, mastigado e vomitado.”