Tecer ligações entre emoções é um processo natural em qualquer arte, ainda mais se é de teatro que se fala, mas na zona de Braço de Prata, na freguesia de Marvila, em Lisboa, há um novo projecto onde se procura juntar todos os retalhos que ajudam a colorir a tapeçaria artística de um espectáculo.
O TEAR – Espaço de Artes, que abre oficialmente na quinta-feira, apresenta–se como lugar de pesquisa e encontro entre diversas áreas artísticas. O objectivo é proporcionar uma formação artística adicional e regular a artistas de palco, estudantes ou simples curiosos e servir para apresentar espectáculos produzidos pela AR Produções, oriundos tanto da multidisciplinaridade criada no TEAR como de grupos externos.
Anaísa Raquel, directora da AR produções e co-fundadora do TEAR com Miguel Matias, explica que a ideia de implementar um projecto com estas características não é recente. “Sempre tive o sonho de frequentar uma escola onde as várias áreas artísticas se casassem, mas a verdade é que não existe nenhum espaço onde a música, a dança e o teatro convivam no mesmo espaço físico.”
O plano de formação do TEAR inclui aulas de interpretação, canto, voz, dança contemporânea, teatro físico, sapateado, dança aérea, acrobacia de solo, ballet e barra de chão. O estudo e aperfeiçoamento das diferentes técnicas de teatro, dança e acrobacia aérea são, de resto, a aposta do espaço enquanto local de formação.
“Nós [AR Produções] fizemos, há uns meses, ‘Um Sonho’, espectáculo de teatro físico aéreo, e percebemos que existe aqui uma falha na educação artística. Existem muitos actores e bailarinos que sabem cantar, cantores que sabem interpretar, mas na altura da encenação do espectáculo tivemos de escolher acrobatas e actores, e os actores tivemos de os formar em acrobacia. O Miguel foi meu assistente de encenação e houve uma vontade de fazer mais para o futuro”, refere Anaísa, que iniciou a sua formação teatral no Chapitô e tem dividido o seu trabalho em áreas artísticas diversas.
À vontade de aproveitar o que começou em “Um Sonho”, seguiu-se a procura de um sítio onde coubessem todos esses desejos, ou pelo menos suficientemente versátil para os abarcar. Sem apoios financeiros e institucionais, encontraram no n.o13 da Rua Dr. Estevão de Vasconcelos, junto à estação de Braço de Prata, o local que descobriram como ideal para desenvolver o projecto, um espaço multidisciplinar, género black box. “Também temos uma vertente criativa, porque somos ambos do teatro e estamos ligados à acrobática aérea, portanto há um encontro entre estas duas áreas que queremos explorar e este espaço dá-nos possibilidade para isso”, acrescenta Miguel Matias.
Ginásio artístico
A multifuncionalidade que o espaço pretende ter torna difícil dar-lhe uma designação convencional. À falta de melhor nome, Miguel apelida-o de “ginásio artístico” e a lista de professores parece encaixar nessa designação improvisada. Além de Anaísa Raquel, as aulas regulares estarão a cargo de Rosário Vale, Marinela Mangueira, Bruno Rosa, Ana Sofia Leite, Ana Clóe, Miguel Freire e Isabel Campelo. Estão também já programados workshops trimestrais com profissionais nacionais e internacionais – e tudo isto encaixa também no âmbito alargado que o TEAR visa ter.
Não sendo exactamente uma escola, mas antes um espaço de cultura, o tempo de formação será distribuído de segunda a sexta, deixando, no final da semana horários livres para a apresentação de espectáculos, sejam os produzidos na casa, sejam os que ali desejem ser acolhidos. “Queremos trazer o que está à nossa volta, tanto a nível nacional como internacional”, diz Miguel Matias.
O TEAR abre portas na quinta-feira, mas a festa de inauguração é já amanhã e vai contar uma apresentação de dança aérea, com Ana Cristina Henriques e Inês Santos, um pequeno monólogo teatral de João Ascenso com interpretação de Gonçalo Oliveira e um número de dança contemporânea por Ana Sofia Leite, uma das professoras desta black box que promete ser muita coisa, até um “ginásio artístico”.
TEAR: http://www.arproducoes.org/
SENHAS
A pensar na irregularidade dos horários dos artistas, a frequência de aulas é feita através de um sistemas de senhas. Pode ser avulso (5€), em packs de uma vez por semana, por disciplina (20€), duas vezes por semana (30€) e três vezes por semana (40€). O livre-trânsito custa 60€.