Sortudo, o cão que se tornou personagem principal de um conto lançado pela Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral de Leiria, está no centro do "UIVO", um projecto que pretende contribuir através da arte para a inclusão social.
O projecto quer ainda alertar para questões relacionadas com os animais e cidadãos com necessidades especiais.
Os responsáveis pelo "Projecto Matilha" iniciaram neste ano lectivo o "UIVO", projecto que envolve crianças e jovens do Agrupamento de Escolas de Marrazes, idosos do lar/centro de dia da Amitei – Associação de Solidariedade Social de Marrazes e crianças e jovens portadores de deficiência da Associação Portuguesa de Paralisia Cerebral e da Cercilei, em Leiria, que pretende educar os mais novos para a "diferença" e para o "respeito para com o outro".
"É o grande projecto do ‘Projecto Matilha’. É o projecto que desde o início estava pensado e que tivemos alguma dificuldade em pôr em prática, mas acreditamos que vai fazer muito bem à sociedade. Agora, finalmente, vão-se juntar todas as peças do puzzle e as pessoas vão perceber o que é o ‘Projecto Matilha’ e o que pretendemos", explicou à agência Lusa Ricardo Romero, revelando que terá uma duração de "dois a três anos" e será implementado na União de Freguesias de Marrazes e Barosa.
O autor das pinturas de cães espalhadas pela cidade de Leiria acrescentou que o "UIVO" é um "complemento" do "Projecto Matilha" e que tem uma "enorme preocupação com a inclusão social".
"A nossa principal preocupação é educar as próximas gerações, para que no futuro não existam os problemas que temos hoje. As leis em relação aos maus-tratos de animais mudam e o número de abandonos em Portugal continua a aumentar. Isto não faz sentido nenhum. Algo está errado", sublinhou.
Catarina Dias, coordenadora do "Projecto Matilha", explicou também que o projeto tem a sua vertente educacional. "Vamos utilizar contos e histórias já existentes. O mote vai ser o Sortudo da APPC, um cão diferente, que faz o paralelo entre os animais e os humanos diferentes. Vamos tentar explorar o tema com os miúdos. Não é dizer que está correcto ou incorrecto, mas mostrar a realidade para se poder alterar as atitudes. São crianças, mas precisam saber que há pessoas que fazem mal aos animais", acrescentou.
O projecto, que começou a ser sonhado há cerca de um ano, será uma "intervenção concertada", que terá uma preocupação especial com as crianças do pré-escolar e ensino básico. "Temos de lhes começar a colocar a sementinha para criar empatia e terem a obrigação de se sentirem responsáveis pelos outros. Nós vivemos num mundo redondo, estamos todos ligados".
Ao longo do ano escolar será feita a reinterpretação e reinvenção do conto por parte de todos. "Já foi convidada uma pessoa para ajudar no arranjo musical, pois vamos fazer uma orquestra onde estarão desde as crianças com três anos aos mais idosos, mas utilizaremos instrumentos musicais adaptados. Aqui, vamos ter ajuda do CRID [Centro de Recursos para a Inclusão Digital da Escola Superior de Educação e Ciências Sociais] e do Cinform [Centro de Integração e Formação Socioprofissional da Cercilei] para construir os instrumentos".
A parte mais visível do projecto será a arte urbana, através dos grafitos e da "experimentação da lata".
"Vamos pô-los a fazer grafitos, desde os mais novos aos mais velhos" e irão ajudar a criar os "murais representativos da história do Sortudo".
"Vamos tentar que cada mural esteja próximo do espaço físico de cada entidade envolvida no projecto e criar um roteiro, não só para as pessoas conhecerem as pinturas, como para perceberem a história e conhecerem também as próprias instituições".
"Mais do que o produto final, interessa-nos todo o processo até lá chegar", remata Catarina Dias.