Basta ver umas horas de campanha eleitoral para entender que tem um bocadinho de Carnaval e outro tanto de Natal. As multidões rodeiam os candidatos a recitar as suas cartas ao Pai Natal, e os candidatos bem que podiam deixar crescer a barba branca porque reagem tal e qual o velhinho de encarnado dos centros comerciais (porque o do Polo Norte é outra coisa): acenam que sim, sentam os meninos ao colo, as famílias ao lado e flash, dispara a máquina para a posteridade.
Esta semana, António Costa até sacou do bloco e da caneta para tomar nota do número de telefone de um desempregado que lhe pedia uma colocação digna. É claro que não é publicidade enganosa, porque tanto uns, como outros sabem que nada daquilo é a sério, mas sempre se bebem uns copos e se quebra a rotina.
O mesmo se pode dizer dos números com que se digladiam, que têm sempre tantos zeros que o comum dos mortais não retém nada, e ainda bem porque na meia hora seguinte virá logo alguém dizer que são falsos, e uns tantos comentadores somar e multiplicar para concluir que não é nada daquilo. Em abono da verdade é preciso dizer que também cada um só ouve aquilo que quer ouvir, e só acredita naquilo em que já acredita, e quanto aos indecisos sinceramente não é nenhuma das revelações discursadas em gritos roucos que o vão fazer mudar de ideias, mas mais os traços de caráter que os candidatos vão revelando.
Contudo, no meio de tudo isto, pode haver quem se pergunte em que é que, afinal, param Portugal: sempre há mais ou menos desemprego, mais ou menos celeridade na Justiça, mais ou menos ensino pré-escolar, e por ai adiante.
E é para esses que tenho uma grande notícia. A Fundação Francisco Manuel dos Santos já tinha prestado um serviço extraordinário ao País ao sistematizar e arrumar as estatísticas, tornando-as acessíveis através de um portal na Internet, o Pordata. Importante porque as estatísticas, mesmo para quem não gosta de matemática, são a forma mais clara de vencer a demagogia, desde que lidos com honestidade.
Que importa , por exemplo, dizerem-nos à boca cheia que o desemprego está a crescer (ou a decrescer) graças a uma medida tomada no ano anterior, se o gráfico deixa bem claro que se trata de uma tendência que vem de há dez anos e que nada tem a ver com a política concreta em questão? E quem diz desemprego, diz sucesso (ou insucesso) escolar, mais (ou menos) rapidez na resolução de processos judiciais, ou qualquer outra coisa quantitativamente mensurável.
Mas o hábito, e as competências para saber ler os números, criam-se desde a escola, e portugueses mais capazes, e menos manipuláveis, serão os que vão aprender desde pequenos a aprofundar por si mesmos as questões. E é nesse sentido que a FMS criou agora o Pordata Kids, um site fascinante, claro e intuitivo, onde se pode saber muito sobre Portugal.
Passei uma tarde inteira a olhar para os números. A possibilidade de comparar anos, e de ver num gráfico como cada problema evolui, permite ir fazendo um retrato mais exato do País. E a primeira constatação é de enorme optimismo, e os nossos filhos bem precisam que os números contradigam o pessimismo quase irracional de muitos dos adultos que os rodeiam: quando comparamos qualquer item (excepto população) com o que se passava há 55 anos (1960 é o ano primeiro ano de que há dados), a curva é sempre ascendente.
Depois, pode pesquisar à vontade. Porque não experimenta colocar o ano das últimas legislativas, e o de 2014 (não há dados de 2015), e ver no que dá?
Número: 5
Pordata celebra cinco anos,
com a criação da Pordata Kids
Jornalista e escritora
Escreve ao sábado