Sérgio Silva, o desempregado de 36 anos que na semana passada ganhou 10 mil euros no programa “Quem Quer Ser Milionário” já arranjou um emprego: no dia 1 de Outubro começa a trabalhar no Restaurante Babete, na Calçada do Duque, em Lisboa.
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A entrevista de emprego foi ontem de manhã e Sérgio Silva foi logo contratado. “Mais de 80% dos nossos clientes são estrangeiros e o facto de falar três línguas é uma grande mais-valia”, explica o dono do restaurante, João Ferro Baptista, um farmacêutico que chegou a concorrer à presidência da Associação Nacional de Farmácias e que deixou a carreira para se dedicar à restauração.
Sérgio vai começar por trabalhar no bar do restaurante com um ordenado de 600 euros “limpos”. A maior vantagem do emprego, conta, é “ficar perto de casa” – podendo, assim, continuar a tomar conta do primo autista com quem divide o quarto.
E as mudanças na vida do concorrente que “limpou” quase todas as perguntas do concurso da RTP não ficam por aqui: a Universidade Aberta vai oferecer--lhe um curso – “de línguas ou de informática”, ainda está indeciso – e a Malo Clinic vai pagar–lhe um tratamento dentário.
A primeira ida ao dentista é já na segunda-feira. Depois de o i ter contado a história de Sérgio Silva, no último sábado, chegaram à redacção contactos de dezenas de leitores interessados em ajudá-lo. Um deles ofereceu-se para lhe pagar uma viagem com tudo incluído a Paris, para que pudesse cumprir o seu maior sonho: visitar o Museu de Ciência. Mas Sérgio teve de recusar porque a mãe, que vive num lar, “está a ficar bastante doente”.
Também chegaram várias propostas de trabalho. Além do Restaurante Babete, Sérgio Silva foi chamado para uma entrevista na Padaria Portuguesa. “Mas não fui contratado, disseram que não me enquadrava no perfil que procuravam”, conta.
Nas redes sociais multiplicaram-se os grupos de apoio e no site do i a notícia foi partilhada mais de 40 mil vezes em apenas quatro dias. A história do génio que parece saber tudo sobre tudo, apesar de não ter estudos, comoveu o país. O programa foi gravado há dois meses e transmitido na RTP na quinta-feira. Sérgio não escondeu que vive num apartamento partilhado com 12 pessoas e que divide o quarto com o primo autista de quem toma conta.
A renda é paga pela Misericórdia e Sérgio Silva estava a ganhar apenas 178 euros por mês do rendimento social de inserção. Nos últimos anos foi a “muitas entrevistas” de trabalho, mas nem a McDonald’s o quis contratar. Comeu várias vezes na sopa dos pobres, viveu com a família em pensões depois de terem sido despejados, em 2007, da casa onde viviam, e deixou os estudos devido a problemas de saúde.
Mesmo assim, continuou sempre a ler e a estudar: aprendeu a escrever e a traduzir em três línguas e define-se como um “apaixonado por ciência, história e astronomia”. Agora, e com a vida “arrumada”, Sérgio Silva diz que a prioridade é ajudar a irmã e os sobrinhos, porque o cunhado está desempregado.
