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Na semana da vindima na Quinta dos Monteirinhos, em Mangualde, na Região do Dão, e a dez dias das eleições, nunca foi tão evidente que até ao lavar dos cestos vai ser vindima. E para vindimar, com a tesoura da poda ou com meios mecânicos, é preciso ter investido no fruto que se quer colher, ter respeitado os ritmos da natureza e não ter somado mais dificuldades às que resultam das circunstâncias.
Tal como na política, no final da vindima, não há espaço para os estados de alma. Só contam os resultados. A quantidade de uva angariada para os cestos, a competência do enólogo e o produto final do trabalho coletivo.
Para colher é preciso semear. As intenções de voto indicam que a Coligação PSD/CDS, Pedro Passos Coelho e Paulo Portas, depois de proibidos por Marco António Costa de aparecerem nos cartazes, estão a querer colher o que não semearam.
Na colheita de Amnésia, vinho alentejano servido no almoço de campanha eleitoral em Beja, a Coligação PSD/CDS conta com a memória curta em relação ao passado, a resignação perante o presente e o conformismo com o futuro. Nesta vindima impensável, depois do dia 4 de outubro, não haverá espaço para desculpas, lamúrias ou conversa inconsequente.
Em matéria de governo, as opções são claras, continuidade ou mudança em coerência com 4 anos de estados de alma, de empobrecimento e desigualdade, de emigração, de desrespeito pela dignidade humana e de captura do direito a sonhar.
A amnésia conforma-se com a idosa que foi uma vez por semana à urgência durante dois anos por falta de respostas humanistas; com o “poucochinho” de geometria variável; com um governo que, depois de todos os sacrifícios e da carga fiscal, em julho, aumentou a dívida do estado em 1,3 milhões de euros, fez disparar o défice de 2014 para 7,2% com a não venda do Novo Banco e regozija-se com os (frágeis) resultados alcançados.
É por isso que há meses sublinho a importância do PS relembrar os 4 anos de governo PSD/CDS e de afirmar a sua alternativa, com rigor, senso e sem lapsos, equívocos ou nebulosas.
Um ano depois das Primárias do PS, do compromisso de união do partido e de conquista de uma maioria absoluta, de pouco vale aos comentadores da praça desdizerem o apoio que deram então; é ridículo diabolizar as sondagens e afins das mesmas empresas que sustentaram os impulsos da ocasião; é contraproducente vociferar contra a comunicação social que assegurava a boa imprensa e é inaceitável qualquer hesitação dos militantes, dos simpatizantes e das figuras públicas que nos idos clamavam por uma mudança inequívoca.
Este é o tempo da vindima. O brilhozinho nos olhos da Coligação mais do mesmo, a obsessão à esquerda com o PS e a propensão presidencial para falar quando devia estar calado- este é o tempo dos partidos- são sinais preocupantes para quem quer outro caminho. Portugal já foi grande mesmo sem o regresso de D. Sebastião, mas contou com a visão, o impulso, o sonho e a mobilização dos portugueses. Não tendo sido antes, esse é o despertar que é preciso gerar nos próximos dez dias.
Nos últimos 4 anos, a sua opinião em casa, no trabalho, no café ou na rua contou, mas foi quase inconsequente. Foi tão confortável para a maioria PSD/CDS que sugeriu aos jovens que emigrassem e aos desempregados que saíssem das suas zonas de conforto. Agora, sair da zona de conforto é ir votar. Ser consequente com 4 anos de estados de alma, de “é preciso correr com eles” e de permanente conflitualidade político-constitucional.
A verdade é que é imperativo completar o ciclo político de duas vitórias do PS nas eleições autárquicas e nas eleições europeias.
Por agora, pode rejubilar o país das cartas marcadas que nomeia além do mandato, que apressa as decisões que hipotecam instrumentos para futuro ou que tenta esconder os “danos colaterais” das suas opções políticas. Nesse país das cartas marcadas e dos de sempre, o passado, o presente e o futuro são indiferentes, pois estão sempre garantidos.
O problema são os outros. E para esses há demasiada realidade além dos discursos políticos para que tudo fique na mesma. Nos resultados, no funcionamento da Democracia, na relação dos cidadãos com a política e com os políticos, na forma como se faz política ou como se governa. Não perceber essas dinâmicas é correr riscos desnecessários no momento da vindima.
Político (PS)
Escreve à quinta-feira