Em 1960, Danny Ocean era Frank Sinatra. Em 2001 foi George Clooney. Em ambas as situações era o líder de uma equipa que juntava os melhores. O objectivo do grupo em questão não era necessariamente legal, mas também não deixava grande nódoa. Enfim, isto para dizer que somos sensíveis às histórias de gente com atitude, que tem objectivos e junta os meios necessários para lá chegar. Chama-se empreendedorismo e está na moda. E é também o motor de “Scorpion”, a série que estreia hoje na FOX (22h15), com o brilhante – mas nem sempre aconselhável – Walter O’Brien a acreditar que vai mudar o mundo.
Walter (interpretado por Elyes Gabel) não tem culpa de ser como é. Desde garoto que é um génio das coisas tecnológicas. Ainda na escola primária, já entrava no sistema informático da NASA. Isso era complicado porque depois apareciam lá em casa as equipas de militares com armas ameaçadoras e instrumentos afins. Nada disso lhe tirou o gosto por fazer o que não devia. Chegou a adulto e juntou outros com a mesma mania. Toby Curtis (Eddie Kaye Thomas) descodifica o comportamento de qualquer um em segundos; Happy Quinn (Jadyn Wong) é um entendido nas coisas da mecânica; e Sylvester Dodd (Ari Stidham) faz contas de cabeça como nunca julgámos possível.
Esta rapaziada vai ser descoberta por Cabe Gallo (Robert Patrick, ou o homem que em “Exterminador Implacável 2” era uma máquina feita de metal líquido, um encanto), agente federal que os vai pôr a trabalhar a favor da lei e da ordem – ou, pelo menos, assim eles pensam. É o Departamento de Segurança Interna a trabalhar ao nível do recrutamento como é raro ver. Mas compreende-se: Walter O’Brien é, afinal, uma das pessoas mais inteligentes do mundo. O seu QI é de 197, o que ultrapassa o máximo que Einstein terá atingido (entre 160 e 190). Não chega para estar à frente de William James Sidis, o puto-maravilha que na primeira metade do século XX impressionou o mundo com as suas habilidades matemáticas – diz a história que Sidis chegava aos 210, mas foi a mesma história que perdeu todos os registos de todos os testes que lhe foram feitos, por isso vale o que vale.
Naturalmente, com grande poder vem grande responsabilidade – ou então uma enorme falta de senso comum. Daí que este mesmo O’Brien, esperto como mais ninguém, precise de alguma ajuda para perceber o resto do mundo quando o que está em causa são coisas quotidianas e triviais, as tais que podem ser as mais complicadas. Para isso, o nosso herói (e a restante equipa) conta com as graças de Paige Dineen (Katharine McPhee), que vai servir de tradutora para o mundo real. Ela que também sai a ganhar desta troca, já que o filho vai pelo mesmo caminho dos restantes prodígios. Ajudam-se uns aos outros e isso é bonito.
“Scorpion” é uma criação de Nick Santora, um antigo advogado que, depois de seis anos perdido no meio das leis, decidiu que a televisão é que era. Escreveu e produziu para diferentes séries (“Prison Break” ou “Lei e Ordem”, por exemplo), mas guarda o troféu maior de ter assinado um episódio dos Sopranos: “Watching Too Much Television”, da quarta temporada, aquele que termina com Tony a chorar no carro enquanto ouve e canta “Oh Girl” dos Chi-Lites. Nick, és grande, amigo.