Japão. Os “gajos do sumo” estão a abrir espaço para o râguebi

Japão. Os “gajos do sumo” estão a abrir espaço para o râguebi


Vitória sobre África doSul na estreia fez dos nipónicos a história do Mundial. Seleccionador quer provar contra Escócia que não foi um acaso


A sensação do Mundial de râguebi está de volta. Quatro dias depois de chocarem o planeta com um triunfo histórico sobre a África do Sul (34-32), os japoneses vão entrar em campo contra a Escócia com a determinação de continuar a surpreender e demonstrar que o triunfo não foi um acaso. Opassado é esmagador. 
O Japão participou em todos os Mundiais desde 1987 e até aterrar em Inglaterra só tinha uma vitória: 52-8 com o Zimbabué em 1991. De resto, dois empates com o Canadá (um em 2007 e outro em 2011) e derrotas, derrotas e mais derrotas.

O resultado de sábado surpreendeu por duas invulgaridades: a vitória do Japão e a derrota da África do Sul. Afastados das edições de 1987 e 1991 por causa do apartheid, os Springboks não precisaram de muito para se consolidarem como uma das selecções mais fortes do mundo. Na estreia, baptizada por Nelson Mandela em 1995, foram campeões. Doze anos depois, em França-2007, chegou o segundo título. Durante todo o processo, os sul-africanos só tinham sofrido quatro derrotas:duas com a Austrália, uma com a Nova Zelândia e outra com a Inglaterra. Desse por onde desse, o adversário era sempre um peso pesado. Até chegar o Japão.
No país do Sol Nascente, os pesos pesados são outros. O país dá mais atenção a modalidades como o sumo e o basebol, mas a vitória de Brighton no sábado provocou uma revolução nos ciclos de informação japoneses. A garantia é dada pelo seleccionador. “O râguebi está nas notícias, o que não é comum. Normalmente é sumo e basebol, por isso os gajos grandes do sumo têm de abrir espaço para o râguebi”, brincou Eddie Jones na antevisão do encontro com a Escócia desta quarta-feira.

O momento é perfeito para os japoneses, que vão organizar o Mundial em 2019 e podem ter neste resultado o impulso perfeito para lançar ainda mais a modalidade e o interesse da população. “É fantástico para o desporto, fantástico para o râguebi. Só pode ser bom no caminho para o futuro. Há sempre o interesse de o tornar um desporto global e não há nada mais global do que quando um país asiático consegue derrotar uma selecção de topo”, continuou, garantindo que a vitória sobre a África do Sul está longe de ser o último capítulo dos Cherry Blossoms nesta competição. “Não viemos aqui para ser uma pedrada no charco. Queremos mesmo ter uma oportunidade no Mundial”, avisou.

A Escócia vai ter de se cuidar. Eddie Jones, filho de pai australiano e mãe japonesa, frisa que a Escócia continua a ser dada como principal favorita na maior parte da imprensa e ignora a actualização do ranking feita na segunda-feira, que lançou o Japão para o 11.o lugar, uma posição à frente da… Escócia. “Não recebemos pontos de bónus por causa disso. E se lermos a maior parte dos jornais, parece claramente que não somos favoritos. As pessoas ainda acham que vencemos a África do Sul por acaso, por isso há uma enorme oportunidade para mostrarmos que não foi nada disso e que temos de ser encarados como um país de râguebi a sério”, continuou, antes de lançar uma farpa ao adversário: “É interessante relembrar que, antes do Mundial, a Escócia dizia que íamos abdicar de disputar o jogo com a África do Sul para nos prepararmos para a segunda jornada. Por isso, se realmente o fizemos, devemos estar frescos para fazer uma boa exibição agora.” O Japão vai entrar contra a Escócia com cinco alterações na equipa que se traduzem numa perda de experiência de 90 jogos internacionais: 484 comparados com os 574 da equipa que arrancou no sábado.

A Escócia garante que tem a lição estudada. “Sabemos que eles são uma boa equipa, andamos a dizer isso há um ano. Jogaram 11 ou 12 jogos internacionais e têm melhorado de partida para partida”, explicou o seleccionador Gavin Scott. 

E o resultado contra a África do Sul não mudou em nada a estratégia delineada. “Possivelmente foi uma surpresa maior para o público do que para nós, mas acho que ninguém pensava que o Japão venceria a África do Sul. Sabíamos que íamos defrontar uma equipa difícil e nada mudou”, reiterou.
O jogador mais experiente da selecção escocesa, Sean Lamont, com 97 encontros, anunciou a receita para garantir que não há deslizes. “Temos de afastar os pensamentos negativos. Às vezes somos complacentes e não demonstramos respeito suficiente. Não podemos cometer esse erro outra vez, seja com o Japão ou com outra equipa qualquer”, alertou. O problema é que o tempo em que a Escócia derrotava o Japão por 92 pontos já lá vai e ter respeito poderá não ser suficiente.