Fuga de cérebros. Só um em cada dez volta a Portugal

Fuga de cérebros. Só um em cada dez volta a Portugal


Estudo indica que só 14% dos que emigraram, sobretudo depois de 2008, regressaram a Portugal. A maioria não pretende fazê-lo.


São jovens, formaram-se em Portugal, tinham um futuro promissor, mas foram-se embora. Mudaram-se sobretudo para países da Europa central, mas o principal destino foi o Reino Unido. Informáticos e engenheiros estão entre as profissões que mais procura tiveram lá fora. São estas algumas das conclusões do estudo “Fuga de Cérebros: a Mobilidade Académica e a Emigração Portuguesa”, um trabalho de 12 investigadores de várias universidades apresentado ontem no Porto e que surge como o maior retrato da emigração qualificada feito em Portugal.

Só um em cada dez licenciados que deixaram o país, principalmente durante anos da troika, regressou entretanto a Portugal. A maioria dos inquiridos pretende ficar no país que escolheu, sobretudo por uma questão de realização profissional e económica. Reino Unido foi a escolha de 27% dos inquiridos, seguindo–se a Alemanha com 9,6%, a França com 8,9% e a Bélgica com 5,5%.

O estudo, que incidiu sobre 1011 jovens qualificados, indica que mais de metade (53,8%) tinham emprego na hora em que decidiram emigrar. Cerca de 10% estavam a trabalhar mas de forma ocasional, e os restantes (36,1%) partiram porque procuravam trabalho. 

O desemprego, embora afectasse grande parte dos jovens inquiridos, não foi a principal razão para deixar o país. A ambição de progredir na carreira e a realização profissional foram os aspectos que mais pesaram para 95,4% desta população. 

Aliados à concretização profissional vêm os motivos económicos: 80,6% disseram que saíram em busca de melhores salários e para fugir à iminente ou provável situação de desemprego em Portugal. 

A diferença salarial é um aspecto que acabou também por ser decisivo. Senão vejamos: dos que tinham emprego em Portugal, 70% recebiam menos de 1000 euros. Lá fora, mais de metade ganham 2000 ou mais e 26% contam com um salário superior a 3000 euros. 

No que toca à integração no mercado de trabalho, os dados deste inquérito revelam que quase todos conseguiram trabalho. E os homens tiveram mais facilidade em consegui-lo do que as mulheres: 95% e 90%, respectivamente. 
Mas não se trata apenas de encontrar um emprego, mas sim o emprego certo. Se em Portugal 46% dos jovens não estavam a desempenhar funções em áreas compatíveis com a sua formação, lá fora esse valor é significativamente mais baixo: 25%. De salientar que a emigração tem efeitos directos no emprego, mas não para todos aqueles que partiram. Dos que não tinham trabalho antes de emigrar, apenas 3,8% continuam na mesma situação.

Por estarem a trabalhar naquilo que estudaram e por verem as suas competências valorizadas no plano financeiro, a maioria não pretende voltar, embora tenha inicialmente pensado na emigração como solução transitória. “A experiência entretanto vivida mudou os planos para uma perspectiva de emigração de médio ou de longo prazo”, lê-se no estudo. A maioria dos inquiridos projecta-se numa emigração para “toda a vida” no actual país de residência ou em outros países europeus, conclui a investigação.

E quanto é que isso custa ao Estado? A equipa de investigadores estima que a fuga de cérebros que se verificou em Portugal entre 2001 e 2011 vai custar pelo menos 8,8 mil milhões de euros aos cofres públicos ao longo dos próximos anos.