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Houve um tempo em que estes quatro anos foram definidos como uma maratona. Nesse tempo, enquanto a maioria PSD/CDS impunha soluções de austeridade além do memorando, o PS reafirmava que havia outro caminho para a consolidação das contas públicas, centrado no crescimento económico e na criação de emprego.
Superado esse tempo da maratona com barreiras, quantas vezes colocadas na pista pelos treinadores de bancada, entramos agora na recta final para a conquista da maioria absoluta pelo PS – um objectivo resgatado pelo debate televisivo entre António Costa e Pedro Passos Coelho que deve ser consolidado no debate radiofónico de hoje e na campanha de rua que ainda falta até ao dia 4 de Outubro.
A coligação PSD/CDS continuará igual a si mesma, a olhar pelo espelho retrovisor, a centrar o debate em 2011 para que não se discuta o passado recente, a tentar colar as propostas do PS ao que se passa na Grécia e a fugir do futuro como o diabo da cruz. Passos e Portas têm a troika entranhada no corpo, não revelam ambição para gerir o país sem exercitar a lógica caritativa da subscrição pública para os lesados do BES, a arrogância do chorrilho de decisões em fim de mandato e a agitação de papões.
A coligação joga quase tudo no medo do regresso ao passado, da ingovernabilidade e do futuro. Tudo isto enquanto a sua narrativa é desmentida pela realidade. Diabolizam o consumo mas, segundo o Banco de Portugal, o número de novos créditos para pagar despesas de educação, saúde, energias renováveis e aluguer de equipamentos mais do que duplicou entre Julho de 2014 e igual mês deste ano.
Na voragem do vale-tudo, a coligação PSD/CDS espera que os portugueses tenham uma memória selectiva, que se recordem de 2011, mas não dos quatro anos seguintes, e desespera por um golpe de asa – uma “Marinha Grande” que gere a compaixão hipotecada com os cortes nos rendimentos, a venda desenfreada de activos e o desmantelamento do Estado.
Só essa procura desesperada de uma Marinha Grande justifica o risco calculado de insistir num determinado modelo de campanha que procura a proximidade e o confronto na rua para demonstrar a coragem que não tiveram quando saíam pelas portas dos fundos nas iniciativas do governo.
A questão central é a de saber qual a percepção actual dos portugueses sobre os últimos quatro anos e sobre o futuro. Este é o tempo da bipolarização: ou ganha a coligação PSD/CDS, algo impensável desde 2014, quando alguns diziam que o PS tinha de ter 44% nas europeias ou já devia ter 90% das intenções de voto, ou ganha o PS, com a maioria absoluta prometida.
É por isso que não se deve cair no engodo da coligação de discutir 2011 para não discutir a governação de Passos e Portas; não se deve deixar de sublinhar o que foram os últimos quatro anos para as pessoas e para os territórios; não se deve deixar sem resposta o PCP e o Bloco de Esquerda quando lançam dúvidas sobre as propostas do PS ou quando apresentam condições para apoiar um governo PS. Nos próximos dias, os do tudo ou nada, joga-se a afirmação da alternativa do PS, por confronto com a coligação e por evidenciação da importância do voto útil à esquerda.
É o tempo da afirmação de um perfil de governação em que irritações com a comunicação social são dispensáveis, em que o risco do efeito de bumerangue deve ser ponderado quando se criticam ligações familiares dos jornalistas a políticos e em que é muito importante a sintonia com o mundo em que vivemos.
Depois de quatro anos de vale-tudo nos cortes, na saúde, na educação e na segurança social, a coligação PSD/CDS tudo fará para aprofundar esse modelo de intervenção política sem olhar a meios. Seja no recurso aos instrumentos da governação ou na expressão dos interesses sintonizados e conformados com o desmantelamento do Estado, com a falta de respeito pela dignidade humana e com a desregulação, as desigualdades e as injustiças.
Tudo será em vão se o PS conseguir gerar o sentimento nos portugueses de que “para esse peditório já demos”; erradicar as dúvidas que possam ainda persistir quanto à credibilidade das propostas políticas; e mobilizar os cidadãos para a mudança. Faltam três semanas, ainda é muito tempo.
Uma nota final sobre o tempo que se esgota: o tempo de resposta aos refugiados. Miserável uma Europa que já não se consegue mobilizar para o mínimo da dignidade humana.
Político (PS)
Escreve à quinta-feira