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Quatro de Outubro de 2016. Passou um ano desde as eleições. Ainda recordo o dia de sol no litoral e chuva no interior, ideal para a abstenção útil que congregou a maioria do país descontente. Às 20h00, as televisões anunciaram a vitória do Partido Esperado.
Seguiram-se as intervenções da praxe e a enésima conversa em família de políticos profissionais sobre negócios de futebol e arbitragem. Nessa noite, o líder do Partido Esperado vociferou sobre os perigos de instabilidade. Estava irritado por lhe faltarem uns deputados para alcançar o poder total. Os diferentes partidos-muleta não tinham conseguido garantir a eleição dos seus responsáveis representantes.
O Partido Esperado afirmava-se preocupado com os perigosos avanços, ainda que escassos para a época, dos partidos insurgentes.
Mas não se assuste o leitor. A estabilidade estava garantida. O derrotado das eleições, o Partido da Esperança, promoveu uma substituição administrativa de liderança. O novo chefe, amigo de pactos e de costas, passou a dispensar os votos necessários para o que fosse preciso. Um rio de responsabilidade salvou-nos a estabilidade.
Por isso, a vida segue tranquila.
O 5 de Outubro continua a ser dia de trabalho. Os reformados preparam-se para acomodar os cortes nas pensões que PE e PdE negaram até à noite eleitoral. As decisões dos seus anteriores governos, entidades distantes de que não se recordam, são o argumento para aplicarem novos sacrifícios.
Mais impostos sobre o trabalho, IVA, privatizações, desemprego, emigração… Está para breve o regresso daqueles senhores de preto que nos virão pôr as contas em ordem. Devemos mais, pagamos muito, mas cumprimos tudo.
Sobrevivemos bem.
Escreve à segunda-feira