Espelho D’Água. Daqui vê-se a outra margem mas só depois do prato

Espelho D’Água. Daqui vê-se a outra margem mas só depois do prato


Quer ser muito mais do que um restaurante. Já não é o Clube T mas ocupa o mesmo espaço, à beira-Tejo, em Belém.


O primeiro casamento foi o de Mona Camargo e Mário Almeida, o casal que tomou conta do Espelho D’Água. Ali mesmo, no espaço que recuperaram e que hoje reúne um restaurante, uma galeria/espaço musical, uma loja, uma cafetaria e quartos para artistas.

Em 1940 foi Salazar e o cardeal Cerejeira que inauguraram aquele edifício, aberto para funcionar como cafetaria da Exposição do Mundo Português. O Espelho d’Água foi projectado originalmente pelo arquitecto António Lino, mas modificado por diversas vezes. Manuel Graça Dias, entre 1988 e 1990, desenhou o que veio a ser um clube privado, o Belém Clube Museu. O dito durou pouco e ainda na década de 90 passou a restaurante de luxo, Espelho d’Água e Clube T. Antes de ter ido a concurso e a gestão ter passado para Mona e Mário, ainda por ali passou um restaurante chinês. A última remodelação esteve a cargo do arquitecto Duarte Caldas de Almeida.

A união entre um angolano filho de português e uma brasileira trouxe mais mundo ao projecto que agora estão a começar a desenvolver. Até há pouco foram as obras de recuperação, as burocracias e as negociações entre arquitectos, empreiteiros e outros actores que dominaram os acontecimentos.

Antes das obras, um amigo avisou Mário de que, antigamente, o edifício tinha numa das paredes uma pintura do norte-americano Sol LeWitt, um dos principais protagonistas da arte minimalista e conceptual nos anos 60. A meio das obras surgiu o mural, ao qual Mona e Mário deram espaço, numa das salas de jantar. 

É esta a área que nos leva à principal ocupação do espaço, o restaurante e a cafetaria. Entre outros petiscos, o ceviche de bacalhau ou a salada morna de vegetais grelhados, com pasta de grão ao cominho e paprica com queijo parmesão. O atum (mi-cuit) grelhado na crosta de sésamo com vegetais ao molho oriental também faz parte de um menu que inclui ainda manta de porco, costela de vitela e cupim de boi fumados em ervas aromáticas e cozinhados durante oito horas. Da “cozinha do açúcar”, como lhe chamam, vêm potinhos de chocolate quente ao café e especiarias com gelado.

Não é só o monumento aos descobrimentos, que se vê do terraço, que remete para as viagens. Mário viveu em Portugal, mas foi em Angola, com o Espaço Bahia, que conheceu o sucesso – ainda hoje uma casa de referência para a estreia de novos músicos angolanos. No Brasil, no centro histórico de São Paulo, abriu a primeira galeria de arte africana na América do Sul. Mona Camargo trabalhava na comunicação do Ministério da Cultura. Não foi difícil encontrarem-se, mas tomarem conta do Espelho D’Água e virem morar para Portugal é outra conversa e fica mais para os amigos.

Além da loja, com montra à espera de diferentes propostas, o edifício tem três quartos para alojar artistas, músicos ou quem colaborar com o espaço. A responsável pela carta, a chefe brasileira AnaSoares, dormiu por lá enquanto ultimava o menu inspirado nos descobrimentos.

A ideia dos proprietários é promover uma série de acontecimentos artísticos. O jazz vai ter especial atenção, tal como as exposições. Na calha, em Outubro, do dia 3 até ao final do mês, o fotógrafo Ralph Kerle assina a “Water Journeys” numa série de fotos realizadas no famoso porto de Sydney. 

Espelho D’Água, Av. Brasília, ed. Espelho d’Água; tel: 213 010 510; aberto todos os dias, das 11h00 às 00h00