Os dias da partilha


Hoje resolvi contar-vos uma pequena história que marcou as coisas simples desta minha semana. A vizinha do lado tocou à porta. Fui abrir. – Bom dia, vizinho. Vim trazer uns figos. A minha figueira está tão carregada que é um pecado deixar tudo a apodrecer no chão. Agradeci com um franco sorriso e voltei para…


Hoje resolvi contar-vos uma pequena história que marcou as coisas simples desta minha semana. A vizinha do lado tocou à porta. Fui abrir.
– Bom dia, vizinho. Vim trazer uns figos. A minha figueira está tão carregada que é um pecado deixar tudo a apodrecer no chão.

Agradeci com um franco sorriso e voltei para casa com a simples oferta daquela mulher, que rematou a conversa com um ”se Deus nos dá, devemos partilhar”.

A Europa demora em reagir à imensa crise dos refugiados, mas a Alemanha e a Áustria abrem parte do quintal, cheio de fruta no chão, para acolher quem perdeu tudo. Mas também na Grécia, cheia de dificuldades, há centenas de pessoas mobilizadas para partilhar o pouco que têm com os que chegam. O mesmo está a acontecer em Portugal, mesmo antes de chegarem os refugiados. A União Europeia foi construída com este princípio solidário, que tem sido demasiadas vezes esquecido. A partilha entre o Norte e o Sul falhou por completo: quem menos tem foi incentivado a não semear nem colher, para assim continuar, pobre e dependente. 

Vamos olhando para as propostas dos estados, que em tempos de campanha se esquecem de pensar e sugerir um rumo para este nosso grande espaço comum. No debate Passos/Costa, o tema não mereceu perguntas nem respostas. O mesmo está a acontecer em Espanha, na Grécia e um pouco por cada uma das “paróquias” que formam este espaço que começa a ser muito pouco comum. Acho que não é apenas uma questão de liderança que aqui está em causa. O problema da Europa é mais profundo e está alicerçado numa falta de princípios que temos de alterar. Se não o fizermos, como a partilha genuína da minha vizinha que tem este ano muitos figos, não sobreviveremos como espaço de liberdade e daremos azo a nacionalismos e egoísmos que a história já nos ensinou serem muito pouco recomendáveis.

Jornalista RTP
Coordenador “Jornal 2” – RTP2
Escreve à sexta-feira

Os dias da partilha


Hoje resolvi contar-vos uma pequena história que marcou as coisas simples desta minha semana. A vizinha do lado tocou à porta. Fui abrir. – Bom dia, vizinho. Vim trazer uns figos. A minha figueira está tão carregada que é um pecado deixar tudo a apodrecer no chão. Agradeci com um franco sorriso e voltei para…


Hoje resolvi contar-vos uma pequena história que marcou as coisas simples desta minha semana. A vizinha do lado tocou à porta. Fui abrir.
– Bom dia, vizinho. Vim trazer uns figos. A minha figueira está tão carregada que é um pecado deixar tudo a apodrecer no chão.

Agradeci com um franco sorriso e voltei para casa com a simples oferta daquela mulher, que rematou a conversa com um ”se Deus nos dá, devemos partilhar”.

A Europa demora em reagir à imensa crise dos refugiados, mas a Alemanha e a Áustria abrem parte do quintal, cheio de fruta no chão, para acolher quem perdeu tudo. Mas também na Grécia, cheia de dificuldades, há centenas de pessoas mobilizadas para partilhar o pouco que têm com os que chegam. O mesmo está a acontecer em Portugal, mesmo antes de chegarem os refugiados. A União Europeia foi construída com este princípio solidário, que tem sido demasiadas vezes esquecido. A partilha entre o Norte e o Sul falhou por completo: quem menos tem foi incentivado a não semear nem colher, para assim continuar, pobre e dependente. 

Vamos olhando para as propostas dos estados, que em tempos de campanha se esquecem de pensar e sugerir um rumo para este nosso grande espaço comum. No debate Passos/Costa, o tema não mereceu perguntas nem respostas. O mesmo está a acontecer em Espanha, na Grécia e um pouco por cada uma das “paróquias” que formam este espaço que começa a ser muito pouco comum. Acho que não é apenas uma questão de liderança que aqui está em causa. O problema da Europa é mais profundo e está alicerçado numa falta de princípios que temos de alterar. Se não o fizermos, como a partilha genuína da minha vizinha que tem este ano muitos figos, não sobreviveremos como espaço de liberdade e daremos azo a nacionalismos e egoísmos que a história já nos ensinou serem muito pouco recomendáveis.

Jornalista RTP
Coordenador “Jornal 2” – RTP2
Escreve à sexta-feira