“Justiça social em democracia e na Europa, hoje, só com o PS”. A frase é de… Diogo Freitas do Amaral, que ontem anunciou o voto nos socialistas nas próximas eleições de 4 de Outubro. Depois de ter apelado ao voto em Passos Coelho nas últimas legislativas, o fundador do CDS não poupa agora nas críticas ao primeiro-ministro.
Num artigo publicado na revista “Visão”, Freitas acusa Passos de “manipular os números, para poder fugir à verdade plena, sobretudo através de omissões e meias verdades”.
Freitas diz que foi pouco edificante ver o “desprezo público de Passos Coelho pelo CDS”
“Como democrata, também não gostei nada do estilo neoautoritário do PM, que aos poucos conseguiu controlar quase todos os órgãos de comunicação social.
E sustento que foi mesmo antidemocrático fazer repetidas e graves acusações ao Tribunal Constitucional”, critica o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros.
Freitas admite que “Passos Coelho conseguiu alguns resultados económicos positivos”. “Mas a que preço?”, questiona. “Como democrata-cristão chocou-me e indigna-me a falta de sensibilidade social desta direita neoliberal, que conscientemente tributa mais o trabalho que o capital”.
O governo “alienou a estrangeiros quase todas as melhores empresas portuguesas”, acusa ainda, acrescentando que “tão pouco foi edificante ver o desprezo público de Passos Coelho pelo CDS”. Até ao dia em que “concluiu pelas sondagens que ia precisar outra vez do CDS, logo transformando arrogância e humilhações em sorrisos e palmadinhas nas costas”.
Uma “impressão positiva”
Há quatro anos, também num artigo publicado na “Visão”, Freitas do Amaral fazia o apelo inverso, dirigindo então as críticas ao candidato socialista, José Sócrates. Freitas – que dirigiu a diplomacia portuguesa no início do primeiro governo de Sócrates, cargo que abandonou logo em 2006 invocando razões de saúde – tinha já entrado em rota de colisão com o então líder do executivo, a quem acusava de ter “começado a viver num mundo irreal”.
“O seu tempo passou”, vaticinava Freitas sobre Sócrates nas vésperas das legislativas de 2011. Já sobre Pedro Passos Coelho o fundador do CDS não tinha dúvidas: “Conheço-o bem; li o que escreveu e tenho-o seguido na televisão. A minha impressão pessoal é francamente positiva”.
“Às vezes é necessário mudar de partido para não ter de mudar de princípios”
Agora, os elogios de Freitas vão para António Costa – um político “experiente, sério e democrata”. Rejeitando que o PStenha uma tradição despesista (“a verdadeira tradição doPS tem sido a de corrigir os excessos de outros”), o ex-MNEdiz esperar dos socialistas respeito pela Constituição, o arranque do crescimento económico, respeito pelos direitos adquiridos dos reformados, medidas de emergência para os mais carenciados.
Preocupações distantes de um PSD que está longe do “espírito social e progressivo de Sá Carneiro e dos outros sociais-democráticos que o acompanharam”.
“Se houvesse uma verdadeira AD, de carácter vincadamente social e progressista não seria com certeza necessário que tantos sociais-democratas e democratas-cristãos (como eu) tivessem de votar nos socialistas”, argumenta Freitas. O fundador do CDS faz questão de dizer que está onde sempre esteve – “sou democrata-cristão” – e acaba a citar Churchill: “Às vezes é necessário mudar de voto ou de partido para não ter de mudar de princípios”.