Um dos destaques desportivos dos últimos dias estava relacionado com o jogo de qualificação para o Mundial de 2018, na Confederação Asiática de Futebol, entre a Palestina e os Emirados Árabes Unidos. Muita tinta correu sobre o assunto, com o intuito de vender esse jogo, disputado hoje, como o primeiro de qualificação para um Mundial em solo palestiniano, depois da entrada do Estado na FIFA, em 1998. Terá sido mesmo o primeiro? Não. Foi apenas uma estreia desde que a Palestina evoluiu de “entidade observadora” para “Estado observador não-membro” da ONU, em 2012. Uma alteração simbólica, que não interfere com a importância de outros jogos de selecções que tiveram lugar em solo palestiniano, depois de 1998.
O estádio Internacional Faisal Al-Husseini, renovado em 2008, é considerado um dos símbolos da independência do Estado da Palestina, e por três vezes até hoje, utilizado para os poucos jogos de relevo disputados em casa pela selecção local, alguns deles de qualificação para o Mundial. Em menos de sete anos, a selecção palestiniana disputou quatro jogos em casa, já a contar com o de hoje. Desses, apenas dois fizeram história. O primeiro jogo disputado em solo palestiniano desde que o Estado pertence à FIFA, um particular frente à Jordânia, que terminou com um empate a uma bola, a 26 de Outubro de 2008; e o segundo, já em 2011, que marcou a estreia do país a jogar em casa, em jogos oficiais, a contar para a qualificação para o Mundial de 2014. Foi a 3 de Julho de 2011, e terminou com um novo empate a uma bola, desta feita frente ao Afeganistão.
Apenas uns dias mais tarde, o estádio Faisal Al-Husseini voltou a receber um novo encontro de qualificação para o Mundial, com a Tailândia, que terminou empatado a dois golos. Daí até ao presente, não mais os palestinianos viram a sua selecção jogar em casa, mas a história continuou a ser escrita. A 30 de Maio de 2014, em Malé, a Palestina venceu a Challenge Cup, uma taça menor da Ásia, cuja vitória dava acesso à Taça Asiática. E aí sim, em Newcastle, a 12 de Janeiro deste ano, a Palestina foi cilindrada pelo Japão por 4-0, naquela que seria a sua estreia na Taça da Ásia.
Voltemos ao jogo em questão onde, já agora, a Palestina conseguiu um empate frente aos Emirados Árabes Unidos, sem golos. Pela quarta vez em outras tantas ocasiões, a Palestina empatou em casa, sendo que a versão sem golos é definitivamente uma estreia. A selecção da Palestina continua, desta forma e ao fim de quatro jogos, sem conhecer tanto a derrota como a vitória em casa. Com este resultado, e a título de curiosidade, a Palestina manteve o terceiro lugar, à frente da Malásia e de Timor Leste, e atrás da Arábia Saudita e dos Emirados Árabes Unidos, que lideram o grupo A.
No outro jogo do grupo, entre a Malásia e a Arábia Saudita, o ambiente prometia ser quente. Depois de uma humilhante derrota por 10-0 frente aos Emirados Árabes Unidos, na quinta-feira, o governo malaio chegou a ameaçar suspender a federação de futebol do país. A federação não ficou quieta, despediu o seleccionador Dollah Salleh que, além desse descalabro, somou ainda um empate com Timor Leste (1-1) e uma derrota frente à Palestina (6-0). Ong Kim Swee assumiu interinamente o comando da equipa e mostrou preocupação com o que os adeptos pudessem fazer contra a Arábia Saudita, em Kuala Lumpur. Os seus temores tinham razão de ser, algo que ficou provado depois de a Arábia Saudita ter operado uma cambalhota no marcador em apenas três minutos, colocando-se a vencer por 2-1 ao 76 minutos. Os Ultras Malásia acabaram por perder a paciência, lançando várias tochas para o relvado, o que obrigou o árbitro a suspender o jogo.