Jerónimo de Sousa confirmou ao i que, por sua vontade, o próximo congresso, em 2016, não será o da despedida. É verdade que não pôs ênfase na sua disponibilidade, nem determinação, fez até questão de repetir que a decisão dos seus camaradas será a fundamental, mas poucos serão os que acreditam que, havendo tal disponibilidade do seu secretário-geral para prosseguir na liderança ou, como disse, estando ele “ali para as curvas”, alguém possa querer suscitar um problema que, à partida, parece estar resolvido.
Já nas presidenciais, a candidatura de Jerónimo é improvável, mas pode servir para dar tempo de maturação política a um dos jovens quadros.
O assunto das presidenciais é um tabu que o PCP garante apenas revelar depois das legislativas. E se há partido que consegue cumprir esse silêncio, por razões estratégicas ou outras, esse partido é o PCP. No PS, no PSD, no CDS ou até no Bloco de Esquerda, às vezes, o discurso oficial, por mais ruidoso que seja, deixa-se abafar pelo oficioso que, invariavelmente, diz sempre muito mais que o oficial. No PCP, não. O i questionou o gabinete de imprensa do PCP sobre presidenciais e a resposta saiu pronta: “A seu tempo, que não o presente, em que a concentração de energias está mobilizada para as eleições de 4 de Outubro, com toda a sua importância para contribuir para a ruptura com a política de direita, o PCP adoptará as decisões correspondentes à concretização das conclusões do XIX Congresso.”
Ora, as conclusões do congresso são verdadeira resposta de oráculo. Qualquer que seja a decisão do PCP, ela está consagrada no documento que resulta do congresso: “(…) assegurar uma intervenção própria sobre o modo como o PCP vê e defende o exercício das funções presidenciais”, mas também “contribuir para assegurar na Presidência da República o efectivo respeito pelo juramento de cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa”. Aqui está a conclusão que dá cobertura a qualquer que seja a estratégia presidencial. No esclarecimento, o gabinete de imprensa do PCP respondeu: “Não é possível conceber uma intervenção própria do PCP que possa ser assumida por outros.” Sendo uma verdade do senhor de La Palice deixa, no entanto, a ideia de que as presidenciais podem abrir a porta a um candidato próprio numa primeira volta. Não seria inédito que quem vá defender a mensagem do PCP nas presidenciais possa fazer tirocínio para uma futura liderança. Assim foi com Carlos Carvalhas, candidato do PCP em 1991.