Islândia. Sim ao Euro-2016 mas sem McDonalds

Islândia. Sim ao Euro-2016 mas sem McDonalds


Empate com Cazaquistão (0-0) garante presença inédita na primeira grande prova


Eyjafjallajökull. Há um antes e depois da erupção do vulcão islandês em 2010? Não, nada disso, o futebol islandês continua o mesmo, com muita entrega e pouca magia. Há quem diga que o melhor jogador islandês de sempre é Gudjohnsen (tanto faz, o pai ou o filho) ao que os humoristas rebatem com o nome da cantora Björk, num claro sinal trocista sobre a pobreza franciscana do futebol daquele país. Primeiro, Arnor Gudjohnsen. Depois, Eidur Gudjohnsen. Pai e filho. Acredite se quiser, mas ambos jogam na selecção ao mesmo tempo. Acontece na noite de 24 de Abril de 1996, num 3-0 à Estónia em Helsínquia.

Aos 67 minutos, Arnor sai, Eidur entra. E o futebol islandês não é mais o mesmo. A proeza entra para a história do Guiness. Arnor é um avançado puro, de concluir as jogadas dos outros. Eidur sai ao pai, como homem de área, mais móvel até. Aos 14 anos, já joga na selecção sub-17. Aos 16, sobe para os sub-19. Aos 17, substitui o pai no tal jogo histórico com a Estónia. A sua carreira não conhece fronteiras, é campeão holandês (PSV Eindhoven), inglês (Chelsea, com Mourinho) e espanhol (Barcelona), além de conquistar a Liga dos Campeões pelo Barça em 2009. Só lhe falta
levar o país a uma grande prova. Será o Mundial-2014?

A Islândia entra no play-off e calha-lhe a Croácia em sorte: 0-0 em Reykjavik, 2-0 em Zagreb. O veterano Eidur Gudjohnsen entra aos 64 minutos, já com o resultado feito a favor dos balcânicos, que marcam aos 27’ por Mandzukic, curiosamente expulso com vermelho directo aos 38’. Mesmo com dez jogadores, a Croácia domina e amplia a vantagem por Srna, aos 47’. Quando soa o apito final, os croatas unem-se, é a sua quarta fase final depois de 1998, 2002 e 2006. A
Islândia, essa, adia o sonho. Tal como Gudjohnsen. Até quando?

Euro-2016, fase de qualificação. A Islândia calha num grupo complicado, com República Checa, Turquia e Holanda. Nas três primeiras jornadas, nove pontos. Uau. E o último jogo é um claro 2-0 à Holanda, em Reykjavik. Na segunda volta, por assim dizer, os islandeses surpreendem em Amesterdão (1-0). Três dias depois, a Islândia só precisa de um empate em casa com o Cazaquistão para selar o inédito apuramento para a primeira grande prova. Bem dito, bem feito: 0-0 e allez allez Islande. Jamais visto, incrível.

Com um comando bicéfalo (o islandês Heimir Hallgrimsson e o sueco Lars Lagerback), a Islândia sela o apuramento com uma categoria irrepreensível: apenas cinco pontos perdidos (derrota com República Checa e este empate com o Cazaquistão). O avançado Gudjohnsen é um dos convocados, ou não fosse ele o melhor marcador de sempre da selecção, com 25 golos, um deles nesta qualificação — o rei é outro, chama-se Sigurdsson, joga no Swansea e já leva cinco (é o indiscutível melhor marcador do grupo A)

Seis anos depois da grave crise financeira, a Islândia fecha-se ao mundo e liberta-se de algumas amarras. A mais carismática de todas é a McDonald's. A cadeia sai oficialmente do país a 31 de Outubro de 2009 e o último hamburguer é comprado por Hjortur Smárason, um comum mortal mais visionário que todos os outros. O homem pede um hamburguer com queijo e expõe-o como peça de museu, ao alcance de uma câmara de vídeo ligada à internet para se perceber como o alimento se deteriora. Ou não.

Eyjafjallajökull. Há um antes e depois da erupção do vulcão islandês em 2010. Isso é certo. A qualificação para o Euro-2016 comprova-o em absoluto. O hamburguer também.