Um mês à beira de um ataque de nervos


É seguro e certo que vai ser um mês com os nervos à flor da pele entre a continuidade e a mudança. Não havia necessidade de tanta indefinição.


© Miguel A. Lopes/Lusa

Dentro de um mês, os portugueses vão decidir como avaliam os últimos quatro anos e que futuro querem para Portugal. Os sinais sobre o esclarecimento em torno das propostas, a mobilização e a participação dos cidadãos não são famosos, mas até agora houve a desculpa do Verão.

A indiferença dos que permaneceram em território nacional e a ausência dos que tiveram de emigrar nesta legislatura podem ser decisivas para o confronto político em presença: continuidade ou mudança.

A coligação de Passos e Portas continua igual a si própria, na mesma voragem de “vale tudo” que exercitou desde 2011, com acréscimo de ânimo nas palavras que não disfarça o nervosismo. Se a coligação PSD/CDS está tão tranquila com o trabalho realizado, qual é a necessidade de Paulo Portas lançar a primeira pedra de uma fábrica de componentes metálicos para o sector aeronáutico que abre apenas dentro de um ano?

Se Passos Coelho e afins estão tão convictos, qual é a pressa do primeiro-ministro em inaugurar o Brigantia Ecopark, um parque de ciência sem qualquer empresa instalada? E depois há Paulo Rangel. Um tarefeiro do bitaite, consciente reincidente num misto de prova de vida e de serviço ao partido, nos intervalos da liderança da sociedade de advogados Cuatrecasas no Porto.

Mais um a precisar de uma inequívoca separação entre a política e os negócios. Para Rangel, não há separação entre política e os negócios nem tem de haver separação entre a política e a justiça. A prestação do eurodeputado é a prova de que a coligação está à beira de um ataque de nervos: insiste em fazer o contrário do que diz, em desmentir a realidade e recorrer a tudo para tentar a manutenção do poder.

Rangel fez nas legislativas o que já tinha feito nas europeias com a papagaiada em torno da presença ou não de José Sócrates na campanha eleitoral. Sabia então, e agora mais, que o tema é impactante e prestou esse serviço de forma articulada. Foi uma encomenda política como a da “claustrofobia democrática”.

Supostamente alarmado pelo impacto da empreitada, como desejado, Rangel retomou em escapatória o tema do “ar que se respira”. Mas, sobre o ar que se respira, o melhor é perguntarem mesmo aos desempregados, aos que têm trabalhos precários, aos que tendo emprego não ganham o suficiente para as despesas essenciais e aos idosos se respiram melhor agora do que em 2009 ou 2011.

A coligação de Passos e Portas não consegue falar de futuro. Está refém de uma estratégia que passa por centrar a campanha no debate do passado que antecedeu os quatro anos de governo PSD/CDS em sufrágio e no sublinhar dos frágeis dados económicos e sociais que são divulgados por estes dias. Sobre o futuro, zero ou mais do mesmo. Aliás, sobre o futuro, a coligação revelou uma confrangedora incompetência ao não conseguir injectar nas empresas, nas comunidades intermunicipais (tão acarinhadas) e nas autarquias locais o dinheiro do novo quadro comunitário de apoios.

Essa incompetência com o futuro é reveladora da incapacidade para construir e para laborar num registo que não seja o da austeridade “custe o que custar”, dos cortes nos rendimentos dos portugueses e do desmantelar dos serviços públicos. Este rotundo fracasso de quem dizia, em 26 de Maio de 2013, “vamos conseguir iniciar a execução do próximo programa comunitário já no início de 2014, quando no quadro anterior demorou dois anos”, é trágico para o país e vai ter um custo eleitoral. 

No Portugal em que meio milhão ganha menos de 419 euros, de muito pouco vale a ministra das Finanças diabolizar o papel do consumo nas propostas do PS quando este já tem, actualmente, uma relevância nos ténues sinais positivos da economia e, com o investimento, alavanca o crescimento de 1,5% do PIB.

Como sempre aconteceria nas legislativas, depois do trabalho realizado desde 2011 e das vitórias nas autárquicas e nas europeias, o PS é o epicentro das atenções e dos ataques à direita e à esquerda. A alternativa do PS precisa de diferenciação, de credibilização, de mobilizar para a maioria absoluta e de não cair na banalização dos compromissos, susceptíveis de soarem a prometer tudo a todos. É seguro e certo que vai ser um mês com os nervos à flor da pele, à beira de um ataque de nervos entre a continuidade e a mudança. Não havia necessidade de tanta indefinição.

Escreve à quinta-feira

Um mês à beira de um ataque de nervos


É seguro e certo que vai ser um mês com os nervos à flor da pele entre a continuidade e a mudança. Não havia necessidade de tanta indefinição.


© Miguel A. Lopes/Lusa

Dentro de um mês, os portugueses vão decidir como avaliam os últimos quatro anos e que futuro querem para Portugal. Os sinais sobre o esclarecimento em torno das propostas, a mobilização e a participação dos cidadãos não são famosos, mas até agora houve a desculpa do Verão.

A indiferença dos que permaneceram em território nacional e a ausência dos que tiveram de emigrar nesta legislatura podem ser decisivas para o confronto político em presença: continuidade ou mudança.

A coligação de Passos e Portas continua igual a si própria, na mesma voragem de “vale tudo” que exercitou desde 2011, com acréscimo de ânimo nas palavras que não disfarça o nervosismo. Se a coligação PSD/CDS está tão tranquila com o trabalho realizado, qual é a necessidade de Paulo Portas lançar a primeira pedra de uma fábrica de componentes metálicos para o sector aeronáutico que abre apenas dentro de um ano?

Se Passos Coelho e afins estão tão convictos, qual é a pressa do primeiro-ministro em inaugurar o Brigantia Ecopark, um parque de ciência sem qualquer empresa instalada? E depois há Paulo Rangel. Um tarefeiro do bitaite, consciente reincidente num misto de prova de vida e de serviço ao partido, nos intervalos da liderança da sociedade de advogados Cuatrecasas no Porto.

Mais um a precisar de uma inequívoca separação entre a política e os negócios. Para Rangel, não há separação entre política e os negócios nem tem de haver separação entre a política e a justiça. A prestação do eurodeputado é a prova de que a coligação está à beira de um ataque de nervos: insiste em fazer o contrário do que diz, em desmentir a realidade e recorrer a tudo para tentar a manutenção do poder.

Rangel fez nas legislativas o que já tinha feito nas europeias com a papagaiada em torno da presença ou não de José Sócrates na campanha eleitoral. Sabia então, e agora mais, que o tema é impactante e prestou esse serviço de forma articulada. Foi uma encomenda política como a da “claustrofobia democrática”.

Supostamente alarmado pelo impacto da empreitada, como desejado, Rangel retomou em escapatória o tema do “ar que se respira”. Mas, sobre o ar que se respira, o melhor é perguntarem mesmo aos desempregados, aos que têm trabalhos precários, aos que tendo emprego não ganham o suficiente para as despesas essenciais e aos idosos se respiram melhor agora do que em 2009 ou 2011.

A coligação de Passos e Portas não consegue falar de futuro. Está refém de uma estratégia que passa por centrar a campanha no debate do passado que antecedeu os quatro anos de governo PSD/CDS em sufrágio e no sublinhar dos frágeis dados económicos e sociais que são divulgados por estes dias. Sobre o futuro, zero ou mais do mesmo. Aliás, sobre o futuro, a coligação revelou uma confrangedora incompetência ao não conseguir injectar nas empresas, nas comunidades intermunicipais (tão acarinhadas) e nas autarquias locais o dinheiro do novo quadro comunitário de apoios.

Essa incompetência com o futuro é reveladora da incapacidade para construir e para laborar num registo que não seja o da austeridade “custe o que custar”, dos cortes nos rendimentos dos portugueses e do desmantelar dos serviços públicos. Este rotundo fracasso de quem dizia, em 26 de Maio de 2013, “vamos conseguir iniciar a execução do próximo programa comunitário já no início de 2014, quando no quadro anterior demorou dois anos”, é trágico para o país e vai ter um custo eleitoral. 

No Portugal em que meio milhão ganha menos de 419 euros, de muito pouco vale a ministra das Finanças diabolizar o papel do consumo nas propostas do PS quando este já tem, actualmente, uma relevância nos ténues sinais positivos da economia e, com o investimento, alavanca o crescimento de 1,5% do PIB.

Como sempre aconteceria nas legislativas, depois do trabalho realizado desde 2011 e das vitórias nas autárquicas e nas europeias, o PS é o epicentro das atenções e dos ataques à direita e à esquerda. A alternativa do PS precisa de diferenciação, de credibilização, de mobilizar para a maioria absoluta e de não cair na banalização dos compromissos, susceptíveis de soarem a prometer tudo a todos. É seguro e certo que vai ser um mês com os nervos à flor da pele, à beira de um ataque de nervos entre a continuidade e a mudança. Não havia necessidade de tanta indefinição.

Escreve à quinta-feira