Charlie Chaplin. O novo roteiro do vagabundo clássico

Charlie Chaplin. O novo roteiro do vagabundo clássico


“The Charlie Chaplin Archives” é o título do livro publicado agora pela Taschen que recupera imagens, documentos, esquemas de cena e entrevistas inéditas


O melhor que Charlie Chaplin fez pelo próprio mito foi não revelar muito de si mesmo, ter pouca tolerância para ver gente estranha enquanto rodava os filmes, gostar ainda menos de expor as ideias e as piadas que construía. Tudo isto apesar da quantidade de filmes que fez, do estatuto que alcançou e de ter escrito até uma autobiografia. O resultado é que 126 anos depois de ter nascido, Chaplin continua a ser um mistério popular, uma espécie de ídolo familiar mas distante.

Ganha quem tem o privilégio de ir revelando, de tempos a tempos e em doses controladas, mais do que já se sabia. Este é o mais recente capítulo dessa saga: “The Charlie Chaplin Archives”, uma antologia de documentos raros e esclarecedores.

Fotografias das rodagens ou de um Chaplin que ensaia uma nova cena, textos escritos pelo próprio, entrevistas perdidas, notas que o actor/realizador acrescentou aos argumentos, apontamentos que o homem fazia para não se esquecer disto e daquilo. “The Charlie Chaplin Archives” é feito de todo este material, que reforça a ligação inevitável entre a vida privada e a obra artística do inglês que mudou o cinema a partir de Hollywood. 

A Taschen conquistou a sorte de ter acesso à documentação protegida pela família Chaplin desde a morte do autor de “A Quimera do Ouro” (1925), “Tempos Modernos” (1936) ou “O Grande Ditador” (1940). Tratou de fazer uma selecção cuidada e apresenta a história abrangente do herói do cinema. Éuma biografia porque passa por todos os momentos da vida de Chaplin – do difícil ambiente familiar aos primeiros palcos de vaudeville, as aventuras iniciais nos Estados Unidos e o convite para Hollywood, a United Artists, a fama e as mulheres. Mas é também uma oportunidade para uma atenção técnica sobre algumas das cenas mais emblemáticas que Charlie Chaplin criou.

Ao mesmo tempo, é fácil perceber, com este “Archives”, como cada um destes momentos filmados era trabalhado em antecipação até ao mais pequeno dos detalhes, sempre no tempo certo, com todas as posições, mudanças e movimentos encaixados num encadeamento minucioso. E mesmo com a fita pronta, Chaplin era perfeccionista para continuar a alterar os filmes até ao limite do possível – normalmente, aquele que lhe era imposto pela data de estreia. 

Entrevistas com colaboradores habituais de Chaplin e uma colecção de artigos da imprensa sobre o artista completam a colecção (artigos esses que atravessam toda a carreira que construiu até morrer aos 88 anos, no dia de Natal de 1977). Nada que altere a imagem de génio complexo que deixou, o mais provável é que torne tudo isso ainda mais evidente.