Não houve debate na estreia dos debates para as legislativas de 4 de Outubro. Jerónimo de Sousa e Catarina Martins estiveram no mesmo estúdio da RTP Informação a explicar as diferenças que têm não um com o outro, mas com o PS. Não se falou do que distingue o PCP do BE. Quem ouviu Catarina Martins e Jerónimo de Sousa a “debater” poderia julgar que estava perante dois líderes do mesmo partido.
“Se os problemas do país fossem as nossas diferenças, o país estava muito bem”, disse Jerónimo de Sousa logo no arranque.
A porta-voz do BE ainda ensaiou que existiam diferenças entre os dois partidos:“As pessoas reconhecem as diferenças. Temos formas de agir e preocupações diferentes, mas também temos tido posições convergentes, nomeadamente na frente contra a austeridade”. Sobre as diferenças nada explicou.
A questão da saída do euro, que o moderador considerou poder ser uma divergência, também não foi.
“É irresponsável não fazer um estudo de preparação para a saída do Euro, tendo em conta que por decisão do povo português, ou de outros, corremos o risco de ficar numa situação dramática”, afirmou o líder dos comunistas, que se manifestou contra a “submissão” trazida pelo Euro e invocou “a necessidade de uma libertação do nosso país”.
Na mesma linha, Catarina Martins afirmou que o BE “aprendeu muito”: “Devemos olhar para o que aconteceu na Grécia e aprender com isso. Quem não tiver capacidade para ter uma alternativa para romper com a União Económica e Monetária, pode ficar a governar com um plano feito no Conselho Europeu por Wolfgang Schäuble .
“Se for preciso o rompimento com a União Económica e Monetária, o país tem que estar preparado para isso”, acrescentou.
Mas a proximidade entre comunistas e bloquistas não ficou por aqui. Catarina Martins e Jerónimo de Sousa juntaram-se para repetir o coro de críticas ao PS e à sua “política de direita”. Jerónimo de Sousa sintetizou: “O problema está do lado de lá”.
Tanto um como o outro líder recusaram-se a considerar o PS um partido de direita, mas não foram claríssimos em denunciar as políticas de direita dos socialistas. “OBE tem trabalhado com pessoas do PS. Temos feito propostas em conjunto. OPS sistematicamente ignora as propostas dos próprios socialistas e alinha com o PSD e o CDS”, disse Catarina Martins.
Ora, face a estas críticas, os dois líderes voltaram a clarificar que a participação numa solução de governo com o PS só depende dos socialistas mudarem de políticas. Jerónimo apontou as “omissões” do programa socialista e “o silêncio de chumbo em relação à necessidade incontornável da renegociação da dívida”.
“O PS continua comprometido, amarrado ao Tratado Orçamental que exige uma redução do défice a mata-cavalos”, disse Jerónimo de Sousa.
Acusados constantemente de terem contribuído para derrubar o governo de José Sócrates, o que abriu caminho à entrada da direita no poder, os dois justificaram a sua opção em 2011, ano em que chumbaram o quarto PEC. “A melhor resposta é ler a proposta do PEC IV. Defendia cortes de salários, pensões, cortes nos direitos dos trabalhadores e redução dos serviços públicos. Como se podia exigir ao PCP que votasse a favor de um documento que faria parte do memorando de entendimento?”.
“Houve uma escolha doPS em fazer Orçamentos com o PSD”, disse Catarina Martins que lembrou a fotografia de Eduardo Catroga em casa de Teixeira dos Santos tirada para “celebrar” o acordo.
O governo caiu porque “o PSD achou que estava na altura de ir ao pote, quebrou o acordo com o PS e juntou-se à esquerda para chumbar o PEC IV”.