Quando começou a ser pressionado pelo partido para fazer uma oposição mais agressiva, António José Seguro começou a fazer voz grossa para atacar o governo. Esse era, obviamente, um fato que não lhe assentava bem. A imagem que os portugueses faziam dele era a de um político relativamente jovem e talvez sem grande rasgo, mas com quem era fácil criar empatia – uma vantagem estratégica que os seus ataques exagerados deitaram a perder.
António Costa, que substituiu Seguro na liderança do PS há cerca de um ano, parecia ser a pessoa mais adequada para representar esse papel. Parecia – até fisicamente – mais sólido, mais convicto e mais empolgante. Mas as coisas não lhe correram bem desde o início. Da prisão de Sócrates na noite da sua consagração ao flop dos cartazes, passando pelo elogio ao governo perante uma plateia de empresários chineses, aconteceu-lhe de tudo um pouco. Acresce que o secretário-geral do PS pretendia capitalizar o descontentamento popular contra o governo, mas entretanto surgiram indicadores positivos e o sentimento geral tornou-se menos pessimista – logo, menos adverso ao governo.
Há dias, o candidato a primeiro-ministro jogou uma cartada que deveria ter sido, desde o início, uma das pedras de toque da sua campanha:a obra feita. Por um lado, o ex-autarca afirmou as suas qualidades de gestor, explicando como abateu a dívida da câmara. Mas mesmo isso ainda é do domínio do abstracto, pelo que o líder socialista foi mais longe e organizou uma visita à capital para jornalistas, passando por algumas das realizações do seu consulado como presidente do município.
A verdade é que, nestes últimos anos, Lisboa tornou-se uma cidade mais bonita e mais moderna. A requalificação da Ribeira das Naus é uma obra notável que redefiniu a relação daquela zona com o rio. Mas não é a única. Há outros casos que nos levam a acreditar que talvez Costa seja, acima de tudo, um concretizador. E isso pode revelar--se um trunfo mais eficaz do que todas as promessas de baixar impostos e todos os ataques ao governo juntos.