A disputa presidencial à esquerda também é uma guerra de reitores

A disputa presidencial à esquerda também é uma guerra de reitores


Luís Reto, reitor do ISCTE, é o principal estratega da candidatura de Maria de Belém, a candidata que veio estragar a festa ao reitor honorário Sampaio da Nóvoa.


A disputa presidencial no PS entre Maria de Belém e Sampaio da Nóvoa está longe de ser apenas uma guerra de antigos dirigentes seguristas contra a actual direcção. É também uma “guerra de reitores”. Luís Reto, reitor do ISCTE, é o grande estratega da candidatura de Maria de Belém, que veio diminuir drasticamente o sucesso da candidatura de Sampaio da Nóvoa, o reitor honorário da Universidade de Lisboa, dentro do Partido Socialista.

“O país precisa de alguém que tenha experiência política, seja serena e tenha pontes nas diversas forças políticas. O país precisa de um árbitro isento na Presidência da República”, afirma Luís Reto ao i. E porque não Sampaio da Nóvoa? “Já lhe fiz o perfil do que para mim deve ser o candidato presidencial ideal. Sampaio da Nóvoa tem o perfil ao contrário”. 
O reitor do ISCTE aponta ao reitor honorário da Universidade de Lisboa “a falta de experiência política”. “É necessária mais experiência política para o cargo de Presidente da República do que para o de primeiro-ministro. É preciso sensibilidade, capacidade de negociação, experiência de vida e contactos em todo o espectro partidário”, defende o reitor do ISCTE. 

“Acho que Maria de Belém é muito melhor candidata do que o professor Sampaio da Nóvoa”, diz Luís Reto ao i, enquanto vai negando o seu papel central na candidatura, onde existem “vários grupos de trabalho”.

O reitor do ISCTE não é um estreante em candidaturas presidenciais: em 1985/86 trabalhou para eleger Maria de Lurdes Pintasilgo, a única mulher a candidatar-se à Presidência da República até à semana passada, quando Belém anunciou a decisão de avançar para a corrida presidencial. Ao i, Reto aponta semelhanças entre Maria de Belém e Maria de Lurdes Pintasilgo: “Tal como Maria de Lurdes Pintasilgo, a candidatura de Maria de Belém tem uma grande capilaridade com a sociedade civil”. O reitor do ISCTE aponta a experiência de Maria de Belém no contacto com as Misericórdias, por exemplo, para invocar a sua experiência política “no sentido social”.

Se nos anos 80, Luís Reto foi o responsável pelo marketing da candidatura de Pintasilgo, mais tarde, em 2006, fez parte de um grupo de pessoas que tentou incentivar o general Ramalho Eanes a recandidatar-se a um terceiro mandato. O general recusou, mas Reto ainda hoje considera que teria sido uma boa decisão de Eanes avançar naquela altura.

Luís Reto é reitor do ISCTE desde 2005. A sua reeleição em 2013 esteve envolta em polémica. Segundo um parecer de Freitas do Amaral, Reto não se poderia recandidatar porque seria um terceiro mandato – tinha já sido presidente do ISCTE entre 2005 e 2009 e reitor desde 2009 – o que violaria a lei da limitação de dois mandatos consecutivos, tal como está no Regime Jurídico das Instituições de Ensino Superior. Alberto Costa, ex-ministro da Justiça, alegava que a lei da limitação de 2007 não poderia ter efeitos retroactivos e que o cargo de presidente não era igual ao de reitor. Reto foi reeleito com 17 votos a favor, 11 nulos e dois brancos.