Muito se tem dito sobre o actual governo, e sobre o seu PM, Pedro Passos Coelho. Alguns desses, raros, comentários que vão aparecendo na comunicação social, não lhe são muito abonatórios. As sondagens já lhe foram profundamente desfavoráveis. Já houve manifestações de protesto nas ruas de todo o Portugal, que não se viam desde o 1º de Maio de 1974. Já teve um ministro das finanças que se demitiu, confessando-se mais ou menos enganado, outro que disse que era doutor sem o ser, outro que foi irrevogável e passou a vice. Já viu o maior partido da oposição mudar de líder, porque o anterior era timorato, já assistiu à entrada triunfal do novo secretário-geral que ia ganhar as eleições com uma perna às costas. Foi assobiando para o lado sempre que camaradas do seu partido se transformaram nos seus mais acérrimos críticos, viu os partidos mais à esquerda do espectro parlamentar acusarem-no de tudo e de mais alguma coisa. Passou incólume. Muito barulho para nada. Enfim, já disse que se estava nas tintas para as eleições e também o contrário, conseguiu acusar o antigo governo disto, daquilo e mais aqueloutro, prometeu nunca fazer isto, aquilo e aqueloutro, e uns dias depois fez isto, aquilo e aqueloutro, elevado ao cubo, e parece que nada lhe aconteceu. Privatizou, privatizou e quer continuar. Anda a distribuir o bolo por chineses, angolanos, brasileiros, e não desarma. Manipula com agilidade números e estatísticas, acusa os outros de práticas que o seu governo executa amiúde, já o ouvimos gabar-se de instituir no nosso país a Liberdade e de fazer mais pela justiça social que qualquer outro em 40 anos de democracia, e vai de roda, vai de roda…
É altura de reconhecer que Pedro Passos Coelho enfeitiçou uma boa parte do eleitorado português. Nunca se viram tantos desempregados, tanto reformados, tantas vítimas do BES (e de outros bancos), tantos professores, tantos médicos e enfermeiros, tantos militares e para-militares, tantos servidores públicos a lamentarem-se da sua sorte. E, no entanto, as sondagens mostram que a coligação “Portugal à Frente” até pode ganhar as próximas eleições. E só irá perder as presidenciais se os candidatos da direita não se unirem em torno de Marcelo. E se ganhar as legislativas e as presidenciais em 2015-2016 teremos PSD-CDS até 2020, mais coisa menos coisa.
Há, pois, que tirar o chapéu a Pedro Passos Coelho. Se ninguém o leva a mostrar a careca, pelo menos faça-se justiça: o homem é um malabarista habilidoso que sabe tirar-se a si próprio da cartola.
Escreve à sexta-feira