Uma ou duas vezes por mês, o restaurante La Parisienne, no Chiado, enche-se de sons e palavras francesas. Não por iniciativa própria (ou sequer pelo facto de os donos serem franceses), mas porque aí se reúne um grupo de estudantes da Alliance Française para jantar e participar numa tertúlia. O ambiente é informal e sem a rigidez da sala de aula, o que lhes vai permitindo praticar a fluência e a oralidade no idioma.
A iniciativa foi tomada pelo instituto, que se apercebeu das possibilidades da aprendizagem fora das quatro paredes da sala de aula. As aulas na Alliance Française “são muito importantes”, explica a directora dos cursos, Marie-France Carrondo, mas “não se pode ficar por aí”. É por essa razão que investem nestes encontros, conversas pelas redes sociais e estadas linguísticas em França. Se é verdade que é possível aprender uma língua estrangeira exclusivamente na sala de aula, “muitas vezes a falta de prática leva as pessoas a esquecê-la”, avisa Marcos Freijo, responsável pela comunicação do Instituto Espanhol, que aposta numa forte agenda cultural relacionada com Espanha.
Celeste Simões, professora de Inglês no Agrupamento de Escolas de Carregal do Sal, defende o mesmo: “A aquisição linguística faz-se através das experiências.”
É por isso que é tão importante falar com nativos da língua, viajar ou viver num país onde se fale o idioma. É ainda aqui que entra o Erasmus, um dos programas de maior êxito na União Europeia e com uma importante componente de aprendizagem da língua.
VIAJAR SEM SAIR DE CASA Nem todas as pessoas podem sair do país, seja para viver seja para viajar. Mas há outras maneiras de sair, recorda Inês Espada Vieira, professora e coordenadora do curso de Línguas Estrangeiras Aplicadas da Universidade Católica. “Através da leitura, da música, da internet, conseguimos ter experiências internacionais bastante ricas” – ainda que virtuais. Estudar e experienciar devem então ser “modos de aprendizagem que se complementam, que não se excluem”, alerta a professora.
Também Celeste Simões aponta no mesmo sentido: ler livros ou jornais, ver filmes e televisão no idioma que se quer aprender é um excelente contributo, mas “apenas quando as pessoas já têm uma base, um mínimo de conhecimento da língua”. Senão servem de muito pouco. Esse mínimo não se alcança de um dia para o outro. “A aprendizagem de uma língua é muito complexa e demora anos”, relembra a professora de Inglês. E “é aconselhável começar a estudá-la cedo, desde crianças”. Essa viagem é um processo que envolve estudo, persistência e conhecimento do idioma. Trabalhos de casa e na aula, avaliações e conversação na sala de aula não podem por isso ser descurados.
SABER ESCOLHER Se o estudo e a aprendizagem dentro de portas são também importantes, como saber qual o melhor curso no mercado? Primeiro é preciso saber escolher. “Uma escola que se especializa apenas numa língua normalmente fá-lo bem”, assegura Marie-France Carrondo. O Instituto Espanhol, por exemplo, empenha-se no ensino da língua a luso-falantes, encontrando desta forma uma maneira de se centrar mais nas necessidades destes alunos – que passam, em parte, por eliminar o portunhol do seu vocabulário. De seguida é necessário perceber “porque vamos estudar esse idioma, qual o tempo e a disponibilidade que temos”.
Hoje existem cursos em variados formatos e horários – intensivos ou espaçados ao longo do ano, para empresas, crianças ou adultos – que procuram adaptar-se às diferentes situações vividas pelos alunos. Mas nem só de cursos e escolas se faz uma aprendizagem. É preciso olhar ainda para os métodos e os professores. Existem os mais práticos e os mais teóricos, os que apostam mais na gramática e os que preferem a oralidade, os que fazem testes e os que apostam em avaliações qualitativas. A escolha dependerá do gosto e da necessidade, mas acima de tudo a formação mais completa será, tendencialmente, a que utilizar um pouco de tudo. E “se os professores forem nativos será melhor para uma aprendizagem correcta da língua”, explica a directora de cursos da Alliance Française.
Mas existem metodologias que, para alguns, ficam aquém do que seria desejável.
“Sou contra os antigos cursos através de CD ou cassetes”, atira Celeste Simões. “Repetirmos frases ou palavras sem alguém para nos corrigir não serve de nada.” Já a aprendizagem de línguas através da internet, com a presença (ainda que virtual) de um professor, é outra história. “Esse formato pode funcionar”, diz. “Tudo depende do curso e da intenção e vontade do aprendiz.”