Reverence. Se não gostar do cartaz, a culpa é de Nick Allport

Reverence. Se não gostar do cartaz, a culpa é de Nick Allport


A 2.ª edição do festival de rock de Valada começa hoje.The Horrors, Sleep e The Jon Spencer Blues Explosion fazem parte do cartaz.


Ao telefone com Nick Allport não conseguimos ignorar as galinhas que são banda sonora da conversa durante vários minutos. Sem dúvida que estamos a ligar para o campo e o britânico confirma-nos a sua localização, em Porto de Muge, uma pequena aldeia a quatro quilómetros de Valada. Foi para ali que se mudou com a mulher em 2009, vindos directamente da confusão londrina. “Queríamos fugir da cidade e mudarmo-nos para um sítio calmo, ter uma vida familiar”, conta. “Não estávamos à espera de começar a trazer bandas, mas foi uma coisa natural.”

A calma familiar de Valada vai começar a ser interrompida a partir de hoje, com a segunda edição do Reverence, o festival de rock que o britânico de 48 anos começou a organizar o ano passado no parque de merendas da vila. Um parque de merendas com muito espaço, diga-se de passagem, e um campo de futebol (o da foto em cima) a servir de palco principal para os muitos concertos que estão para vir.

Não ter de fazer nada O ano passado Nick Allport compôs o seu “cartaz de sonho” para a primeira edição do Reverence. Black Angels, Psychic TV, Hawkwind, Red Fang, Electric Wizard, Mão Morta… Ao todo eram mais de 80 bandas e DJs mas Nick não conseguiu ver mais que meia hora de concertos.

“Foi muito frustrante porque era o meu cartaz de sonho, gostava de todas as bandas e não consegui vê-las”, continua. “Éramos só três a trabalhar na produção e não parei. Este ano temos uma equipa de pessoas que já tinham feito isto antes e espero que seja diferente. Espero não ter de fazer nada”, ri-se.

A primeira edição do festival, com 8000 pessoas nos três dias, acabou por superar as expectativas da organização. “Para ser sincero foi uma coisa muito arriscada de fazer. Tivemos sorte que as pessoas tivessem vindo e que tenha corrido  bem”, diz. “Foi muito desafiante, especialmente neste país em que as pessoas não estão habituadas a festivais que começam cedo e com tantas bandas.”

Demasiadas bandas, queixaram-se alguns, o que levou a muitos atrasos (até os bombeiros, que não estavam no alinhamento, conta Nick) e a concertos demasiados curtos, de apenas 30 minutos. “Sempre gostei de ver bandas como Jesus & Mary Chain e My Bloody Valentine que tocam durante meia hora. Mas com este tipo de música, com bandas psicadélicas, algumas canções são longas, podem durar até 30 minutos [risos] e não funciona muito bem para alguns.”

Iuminação e porto no espeto A pensar nisso, a edição deste ano terá menos bandas no cartaz – mas não muitas menos. “Temos 25 performances por dia, mais os DJ’s, e tentámos este ano que os sets mais curtos fossem maiores, com 50 minutos”, explica.

Além disso, a organização diz ter melhorado alguns aspectos menos positivos do ano passado, “como a falta de iluminação no campismo e as casas de banho” e também a comida, com uma variedade de opções vegan e vegetarianas que faltaram em 2014. Os carnívoros que ainda estão a salivar só de pensar no porco no espeto da edição passada, podem ficar descansados que o bicho vai continuar a rolar.

Sleep, Stoned Jesus, The Horrors, The Jon Spencer Blues Explosion, Bizarra Locomotiva, Fuzz, Amon Dull II, Fast Eddie Nelson, Electric Moon, Samsara Blues Experiment e 10000 Russos são algumas das bandas do cartaz deste ano. “Estou muito feliz com o cartaz, embora haja bandas que não conseguimos trazer. Por exemplo, Brian Jonestown Massacre, Witchcraft ou os Suicide, mas vamos continuar a tentar”, afirma Nick. “Estamos muito entusiasmados com os Sleep. Nunca estiveram em Portugal e vai ser bom.”

Chocar com o festival gótico O ano passado o festival aconteceu em Setembro, mas este ano foi antecipado para Agosto, uma altura “mais parada e pior para trazer bandas para Portugal”, lamenta. Ainda assim, a data não parece ter afectado o cartaz. 

“Toda a gente envolvida queria fazer o festival em Agosto e para mim até é mais conveniente porque tenho filhos e posso trabalhar melhor”, conta Nick. “Estávamos preocupados com o tempo, o ano passado choveu mas este ano acho que vai estar muito calor. Por outro lado estamos a chocar com o festival [gótico de Leiria] Entremuralhas, o que é mau porque somos amigos deles e eles também vieram ao nosso festival o ano passado.”

Não se pode agradar a todos e esta ainda é a segunda edição, com muita coisa para experimentar e afinar. Apesar disso, Nick diz já estar a pensar no próximo ano e nas bandas que vai trazer. 
Se no primeiro ano chamaram as bandas que mais gostavam, para o cartaz de 2015 tentaram conjugar isso com a vontade do público. “A primeira edição foi basicamente a introdução, só agendámos bandas de que gostávamos porque ninguém nos conhecia. Nesta segunda edição começámos a perguntar no Facebook o que gostavam de ver no próximo ano e fizemos uma lista enorme de bandas se adaptam ao conceito do festival.”

Software developer e J. & Mary Chain No Cartaxo, Nick já era conhecido por organizar as Cartaxo Sessions, com uma série de concertos (os britânicos The Telescopes, por exemplo) no Centro Cultural do Cartaxo. Com a ajuda do actual presidente da câmara, Pedro Ribeiro, organizador da primeira edição do Festival Tejo, em 2001, também em Valada e só com bandas portuguesas, reuniram-se as condições para montar o Reverence, este banquete de rock e psicadelismo.

No resto do ano, e quando não está a pensar no festival, Nick trabalha como software developer para uma empresa londrina. “É  bom porque consigo ouvir muita música enquanto trabalho.”

Natural do Reino Unido, cresceu no País de Gales mas mudou-se para Londres quando tinha 18 anos, para estar mais perto das bandas que ouvia na altura. “Echo & The Bunnyman, The Smiths, Jesus & Mary Chain, Cocteau Twins, Nick Cave & The Bad Seeds, Psychic TV…” No fim dos anos 80, chegou a ter uma fanzine, “Sowing Seeds, como a música dos Jesus & Mary Chain”. “Durou dois anos e depois criámos uma editora. Ainda entrevistamos bandas que na altura eram pequenas, mas que se tornaram grandes, como os Jesus & Mary Chain ou My Bloody Valentine.” 

Bandas

Quinta
•  Jeff The Brotherhood
•  Keep Razors Sharp
•  The Vickers
•  Purple Heart Parade
•  Chicos de Nazca
•  Galgo
•  Beautify Junkyards
•  Luna Marada

Sexta
•  Sleep
•  Alcest
•  Bizarra Locomotiva
•  The Warlocks
•  Ufomammut
•  Cheatahs
•  Grave Pleasures
•  Stoned Jesus
•  Saturnia
•  Yawning Man
•  Black Rainbows
•  Process Of Guilt
•  Blown Out
•  Electric Eye
•  Ancient River
•  The Dead Mantra
•  Los Waves
•  The Jon Spencer Blues Explosion
•  DeWolff
•  Fuzz
•  The Blue Drones
•  Bom Marido
•  Brahma-Loka
•  Novella

Sábado
•  The Horrors
•  Amon Duul II
•  Joel Gion feat. members of The Brian Jonestown Massacre
•  Samsara Blues Experiment
•  10000 Russos
•  Echo Lake
•  Electric Moon
•  Dead Ghosts
•  Calibro 35
•  Magic Castles
•  Celica XX
•  Ghost Hunt
•  Acid Acid
•  The Act-Ups
•  The Altered Hours
•  One Unique Signal
•  Fast Eddie Nelson
•  Sean Riley & The Slowriders
•  Miranda Lee Richards
•  The Jack Shits
•  Lâmina
•  Spectres
•  Jaguwar