Matraquilhos e abaladiças


A 4 de Outubro é a oportunidade da abaladiça pedida durante quatro anos


Agosto esvai-se e retomam-se os ritmos da vida normal, enquanto persiste o frenesim eleitoral e se aproxima o 4 de Outubro das decisões. Pelo Almograve, é tempo das abaladiças, tempo de fazer as últimas coisas antes de abalar (ir embora).

As abaladiças do governo de Passos e Portas oscilam entre a agitação de cenouras para obter o voto dos portugueses, como o anúncio da devolução de 190 milhões de euros de sobretaxa de IRS em 2016, se – e só se – se mantiver a arrecadação de receitas fiscais registada até agora; a arrogância no exercício do poder, na concessão da Metro do Porto e da STCP por ajuste directo, numa semana, a um mês das eleições, ou o desfile de Marretas a esgrimir argumentos com base na leitura “ de algumas coisas”, como fez a ministra das Finanças em funções. É claro que o governo não pensou na abaladiça quando se comprometeu com Bruxelas a cortar 600 milhões na Segurança Social em 2016, ou a cortar 100 milhões no subsídio social de desemprego e no rendimento social de inserção em 2015. A palavra do governo PSD/CDS dada a Bruxelas e a Merkel sempre teve um valor acrescido que agora querem tentar negar. É esse compromisso com a “austeridade custe o que custar” que conduziu à resignação nas negociações com Bruxelas, que não salvaguardou o interesse nacional e que não permitiu um adequado equilíbrio entre a preservação das espécies, a defesa da actividade piscatória e a manutenção da identidade gastronómica nacional em torno da sardinha.

Estremunhados com uma inesperada euforia, a abaladiça desta maioria transformou–se num espectáculo de dissimulação política, numa espécie de intervalo da austeridade para os incautos. Sim, apesar das aparências, as opções de governo são entre a continuidade e o aproveitamento das oportunidades de mudança tantas vezes reivindicadas nos últimos quatro anos. A 4 de Outubro é a oportunidade e o tempo da abaladiça. 

Na abaladiça de um Verão pouco recomendável, o PS comprometeu-se com a reposição dos feriados do 5 de Outubro e do 1.o de Dezembro; com políticas de criação de emprego para atingir o objectivo de gerar na economia 270 mil postos de trabalho e com a aposta na reabilitação urbana com mil milhões de euros. A campanha eleitoral vai começar sem que se tenha conseguido, mais uma vez, encontrar um novo modelo de campanha que assegure o esclarecimento e a mobilização. Os comícios são operações logísticas caríssimas para o impacto que têm. Os debates, depois das polémicas sobre a cobertura mediática das campanhas, vão ser quase inexistentes. Há um défice de debate político em Portugal, além dos bitaites dos comentadores, e a explicação das decisões políticas é demasiado débil. Os cidadãos têm direito a saberem, em cada decisão, como está a ser defendido o interesse público, para que não se repitam as nebulosas que povoam as governações nos últimos anos e os ziguezagues nas políticas. Mas ainda antes das abaladiças, há os matraquilhos. Os que, em coerência, se mantêm na mesma posição de sempre, no meio-campo, o que incomoda quem tem uma perspectiva “tifosa” da vida política, em que as opiniões são de geometria variável e a tentativa de agradar aos chefes se sobrepõe à razão, à objectividade e à realidade. Os matraquilhos que estiveram a jogar ao ataque no passado, mas ainda assim, agora à defesa, querem escamotear a realidade e tentar condicionar a liberdade de acção e de expressão dos outros. São os matraquilhos de gelatina. E, ainda, os matraquilhos que estão ao ataque depois de terem sido a defesa empenhada das actuais soluções de governo para o PS, como é o caso do vice-presidente de Passos Coelho, Carlos Carreiras. Os matraquilhos de circunstância dizem em cada momento o que importa para os interesses, podendo ir do endeusamento à crítica feroz num ápice. Vai assim a política nacional, do apoio eufórico à crítica desenfreada, da crítica injustificada ao apoio acéfalo. Mais do que o “ que se lixem as eleições”, vigora o que se lixe a coerência, o senso e um sentido comum aos de gelatina e aos de circunstância.

Entre matraquilhos e abaladiças, as regras são claras. Não há roletas com os bonecos. Cuidado com os golos na própria baliza. As abaladiças não são a causa de todos os males. O que acontece na abalada resulta do que foi feito antes da abaladiça. O “corram com eles” é uma abaladiça com maioria absoluta.

Político (PS)

Escreve à quinta-feira

 

Matraquilhos e abaladiças


A 4 de Outubro é a oportunidade da abaladiça pedida durante quatro anos


Agosto esvai-se e retomam-se os ritmos da vida normal, enquanto persiste o frenesim eleitoral e se aproxima o 4 de Outubro das decisões. Pelo Almograve, é tempo das abaladiças, tempo de fazer as últimas coisas antes de abalar (ir embora).

As abaladiças do governo de Passos e Portas oscilam entre a agitação de cenouras para obter o voto dos portugueses, como o anúncio da devolução de 190 milhões de euros de sobretaxa de IRS em 2016, se – e só se – se mantiver a arrecadação de receitas fiscais registada até agora; a arrogância no exercício do poder, na concessão da Metro do Porto e da STCP por ajuste directo, numa semana, a um mês das eleições, ou o desfile de Marretas a esgrimir argumentos com base na leitura “ de algumas coisas”, como fez a ministra das Finanças em funções. É claro que o governo não pensou na abaladiça quando se comprometeu com Bruxelas a cortar 600 milhões na Segurança Social em 2016, ou a cortar 100 milhões no subsídio social de desemprego e no rendimento social de inserção em 2015. A palavra do governo PSD/CDS dada a Bruxelas e a Merkel sempre teve um valor acrescido que agora querem tentar negar. É esse compromisso com a “austeridade custe o que custar” que conduziu à resignação nas negociações com Bruxelas, que não salvaguardou o interesse nacional e que não permitiu um adequado equilíbrio entre a preservação das espécies, a defesa da actividade piscatória e a manutenção da identidade gastronómica nacional em torno da sardinha.

Estremunhados com uma inesperada euforia, a abaladiça desta maioria transformou–se num espectáculo de dissimulação política, numa espécie de intervalo da austeridade para os incautos. Sim, apesar das aparências, as opções de governo são entre a continuidade e o aproveitamento das oportunidades de mudança tantas vezes reivindicadas nos últimos quatro anos. A 4 de Outubro é a oportunidade e o tempo da abaladiça. 

Na abaladiça de um Verão pouco recomendável, o PS comprometeu-se com a reposição dos feriados do 5 de Outubro e do 1.o de Dezembro; com políticas de criação de emprego para atingir o objectivo de gerar na economia 270 mil postos de trabalho e com a aposta na reabilitação urbana com mil milhões de euros. A campanha eleitoral vai começar sem que se tenha conseguido, mais uma vez, encontrar um novo modelo de campanha que assegure o esclarecimento e a mobilização. Os comícios são operações logísticas caríssimas para o impacto que têm. Os debates, depois das polémicas sobre a cobertura mediática das campanhas, vão ser quase inexistentes. Há um défice de debate político em Portugal, além dos bitaites dos comentadores, e a explicação das decisões políticas é demasiado débil. Os cidadãos têm direito a saberem, em cada decisão, como está a ser defendido o interesse público, para que não se repitam as nebulosas que povoam as governações nos últimos anos e os ziguezagues nas políticas. Mas ainda antes das abaladiças, há os matraquilhos. Os que, em coerência, se mantêm na mesma posição de sempre, no meio-campo, o que incomoda quem tem uma perspectiva “tifosa” da vida política, em que as opiniões são de geometria variável e a tentativa de agradar aos chefes se sobrepõe à razão, à objectividade e à realidade. Os matraquilhos que estiveram a jogar ao ataque no passado, mas ainda assim, agora à defesa, querem escamotear a realidade e tentar condicionar a liberdade de acção e de expressão dos outros. São os matraquilhos de gelatina. E, ainda, os matraquilhos que estão ao ataque depois de terem sido a defesa empenhada das actuais soluções de governo para o PS, como é o caso do vice-presidente de Passos Coelho, Carlos Carreiras. Os matraquilhos de circunstância dizem em cada momento o que importa para os interesses, podendo ir do endeusamento à crítica feroz num ápice. Vai assim a política nacional, do apoio eufórico à crítica desenfreada, da crítica injustificada ao apoio acéfalo. Mais do que o “ que se lixem as eleições”, vigora o que se lixe a coerência, o senso e um sentido comum aos de gelatina e aos de circunstância.

Entre matraquilhos e abaladiças, as regras são claras. Não há roletas com os bonecos. Cuidado com os golos na própria baliza. As abaladiças não são a causa de todos os males. O que acontece na abalada resulta do que foi feito antes da abaladiça. O “corram com eles” é uma abaladiça com maioria absoluta.

Político (PS)

Escreve à quinta-feira