Os sindicatos da PSP e as associações sócio-profissionais da GNR marcaram uma greve de zelo às multas, em protesto contra a não aprovação dos respectivos estatutos profissionais. Mas, a avaliar pelos dados provisórios da fiscalização rodoviária, o apelo dos sindicalistas não está a ter grande adesão.
No caso da GNR, as estatísticas da actividade operacional de anteontem – o primeiro dia da greve de zelo – mostram mesmo que todas as multas subiram. Houve mais condutores autuados pelo uso de telemóvel ao volante (63 contra 58 no dia anterior), por estacionamento indevido em passadeiras (oito contra cinco), por falta de seguro (32 contra 25) e de cinto de segurança (67 contra 54) ou por consumo de álcool (51 contra 46). Todos os números subiram à excepção de um: o de veículos controlados por radares, que diminuiu – desmentindo assim o suposto reforço de radares nas estradas denunciado ontem, no “Correio da Manhã”, pelo presidente da maior associação da GNR, a APG.
César Nogueira garantiu que a GNR estaria a pôr mais radares no terreno para evitar que o número de multas caísse devido à greve de zelo. Porém, os dados provisórios da actividade operacional do Trânsito – publicados a cada 24 horas no site da GNR – demonstram que anteontem foram controlados por radar 11861 veículos, enquanto no dia anterior o número foi superior: um total de 18 740. Recuando mais nas estatísticas conclui-se que o número de veículos controlados por radar costuma ser bem superior. Na quinta-feira da semana passada, por exemplo, foram controlados 39469 carros.
Militares “têm medo” Este aumento no número de multas é interpretado de forma diferente pela APG e pelo comando--geral da GNR. A Guarda garante que anteontem foi um dia “normal” e nega ter colocado mais radares nas estradas ou organizado mais operações stop para obrigar os militares a autuar mais. Já o líder da APG tem outra explicação. “Sabemos que o normal, quando se apela à pedagogia, como nós fizemos, é que a GNR coloque mais radares e fiscalizações no terreno”, garante César Nogueira, que acrescenta que os “militares mais novos” têm “medo” de não passar multas por estarem “acompanhados por oficiais” durante as fiscalizações e por se sentirem “pressionados para apresentar números aos superiores”.
No caso da PSP, os dados disponibilizados a cada 24 horas não vão tão ao detalhe. Ainda assim, as estatísticas operacionais do trânsito publicadas no site da polícia não conheceram, nos primeiros dois dias de greve de zelo, grande variação. Nas primeiras 24 horas foram fiscalizados 1901 condutores, contra os 2244 fiscalizados na segunda-feira anterior. E anteontem, segundo dia de protesto, foram fiscalizados 2186, em comparação com 2381 na terça-feira anterior.
Quanto ao número de viaturas controladas por radar, no primeiro dia foram 6635 e no segundo 8631, contra as 8827 e as 3438 controladas nos mesmos dias da semana anterior. Relativamente aos autos levantados, os números têm variado bastante desde o início do mês, mas há casos de infracções que até subiram nos dias da greve de zelo – como a condução sem carta ou as contra-ordenações muito graves por excesso de velocidade. Trata-se, no entanto, de infracções que podem pôr em risco a segurança pública e, como sublinha o líder do maior sindicato da PSP, a greve de zelo abrange apenas as contra-ordenações mais leves. Paulo Rodrigues garante, aliás, que a adesão ao protesto tem sido “bastante elevada em todo o país”.
Hoje é o dia d O protesto dos agentes da PSP e dos militares da GNR – que, além da greve de zelo vai incluir concentrações à porta de comícios do governo durante a campanha eleitoral e uma grande manifestação marcada pelos militares da GNR para 18 de Outubro – tem a ver com a não aprovação das alterações aos estatutos profissionais negociadas com os sindicatos da PSP e as associações sócio-profissionais da GNR com a tutela há já dois meses. Os dois diplomas tardam a ser aprovados em Conselho de Ministros e a reunião de hoje é a última oportunidade do governo para o fazer.
Ontem a APG garantia num comunicado que o estatuto da PSP é aprovado hoje, mas que o da GNR não, devido a “pressões” do Ministério da Defesa, da Presidência da República e de generais do Exército – uma vez que as regras do novo estatuto prevêem que, a médio prazo, os oficiais do Exército deixem de poder comandar a GNR, como tem acontecido até aqui.
Hoje é assim o dia D para Anabela Rodrigues. Aconteça o que acontecer no Conselho de Ministros, terá sempre de enfrentar contestação. Caso os diplomas não sejam aprovados, a ministra terá de lidar com as manifes que os polícias e os militares já anunciaram. Caso sejam aprovados, terá de enfrentar os protestos de um outro grupo de sindicatos da PSP– que não concorda com o estatuto e não quer que seja aprovado.