A NOSSA IDENTIDADE
Teresa Melo – Professora de Português
É a língua que nos torna humanos. É a língua que nos confere uma identidade e singularidade culturais e a capacidade de comunicar com os outros. Por isso, quando me perguntam qual a relevância da língua portuguesa no mundo, respondo que é grande, na medida em que através dela estabelecemos pontes de contacto com os outros, passamos a nossa forma de ver o mundo e de estar, a nossa identidade, o nosso património histórico, artístico, cultural e científico. Através da língua portuguesa transmitimos o nosso modo de sentir, que se distingue dos outros povos que não falam, não escrevem, nem pensam em português e não podem, por isso, abarcar a totalidade do sentido da palavra saudade. Pessoa dizia que a sua pátria era a língua portuguesa. Somos habitados e construídos pela língua, e onde quer que estejamos é sempre na nossa língua que pensamos e sentimos, por muito que vivamos além-fronteiras. Não esqueçamos que a língua portuguesa sempre foi dada a grandes aventuras e trocas culturais com os povos que por cá passaram ou com os quais se cruzou nas suas viagens quinhentistas por esse mar fora. E daí sempre resultou mais mundo, mais saber, mais cultura.
Mesmo sabendo que nem todos esses contactos e viagens foram de cariz humanista, pois essa perspectiva, na prática, sempre foi contagiada pelos interesses económicos e imperialistas vigentes, a verdade é que o português sempre soube abrir-se a novas pátrias e culturas. Hoje, todos sabemos que o português é a quinta língua mais falada no mundo e a língua oficial nos países da CPLP, que se encontram espalhados pelos quatro cantos do mundo, o que a transforma num poderoso elemento facilitador e potenciador na relação com outros povos, culturas e mercados de trabalho. A idade, aliada aos anos de profissão e às várias reformas do sistema educativo, nomeadamente no ensino do português, dizem-me que cada vez mais há que investir na língua e na educação literária, desde muito cedo, pois o seu domínio é uma ferramenta preciosa no acesso ao conhecimento, ao mundo do trabalho, ao pensamento e à acção.
UM MODO DE VIDA
Celeste Simões – Professora de Inglês
Desde muito nova, o meu sonho sempre foi comunicar com qualquer pessoa do mundo na sua própria língua. Para mim, essa seria a verdadeira essência da comunicação: compreender uma outra língua e a cultura desse povo. A decisão de seguir um curso de línguas tornou-se, pois, a escolha óbvia. E nesse percurso fui assistindo a uma valorização da língua inglesa ao longo dos tempos. Lembro-me de, nos primeiros anos em que dei aulas, ter alguns alunos e alunas que desvalorizavam a aprendizagem desta língua estrangeira porque não a viam como essencial para o seu futuro profissional ou pessoal.
Hoje em dia, já não é possível imaginar o futuro sem a aprendizagem do inglês e são cada vez mais aqueles/as que procuram desenvolver e melhorar as suas competências nesta língua, regressando à escola e procurando uma certificação de proficiência em inglês. Só assim sentem que estão mais bem equipados/as, com as qualificações necessárias para lutar por um melhor emprego, seja no seu país ou no estrangeiro. E o inglês acaba por ser a língua que lhes oferece mais vantagens, porque abre as portas da comunicação em todas as partes do mundo, em todas as áreas da sociedade: a informática, a ciência e a investigação, o jornalismo e a cultura, a economia e os negócios.
É por esse motivo que a importância dada ao inglês perpassa todos os sectores da sociedade e todas as camadas sociais e etárias. Actualmente, os/as jovens são constantemente expostos à língua inglesa.
O inglês deixou de ser uma mera imposição, uma disciplina como outra qualquer obrigatória no currículo, já não é útil apenas para trautear aquela música “fixe” que ouvem nos seus gadgets, mas é importante para entenderem os viners e os youtubers, que ouvem invariavelmente em inglês, para comunicarem no Twitter, com as suas abreviaturas (wtv – whatever; idk – I don’t know; idc – I don’t care; pls – please), para jogarem online com colegas de outros países ou simplesmente para seguirem as instruções do jogo. O inglês é também, neste momento, uma forma de lazer, um modo de vida, um hábito que entrou no quotidiano das pessoas.
A LÍNGUA QUE VAI OCUPAR O LUGAR DO INGLÊS
Pablo Aznárez – Professor de Espanhol e director do Instituto Espanhol
Hoje em dia, num contexto globalizado, a diversidade e a diversificação dos núcleos económicos estão a fazer com que países que até agora assumiam pouca importância comecem a adquirir grande relevância. Nesse sentido, os países da América do Sul e as relações que mantêm entre si evidenciam a importância das relações entre os países lusófonos e hispânicos à escala global. Hoje, chega às aulas de Espanhol um número cada vez maior de alunos brasileiros e angolanos que querem aprender a língua antes de regressarem aos seus países de origem – e esta situação representa apenas o início de uma grande tendência a larga escala.
A globalização que está em curso acarreta igualmente o aumento das relações entre os dois países ibéricos, Espanha e Portugal. Esta proximidade e as vantagens que advêm da União Europeia fomentam e estimulam a circulação de pessoas na península Ibérica. Cada vez há mais alunos que tencionam tirar uma licenciatura ou um mestrado em Espanha, por uma questão de proximidade ou de prestígio.
E também as empresas ponderam as vantagens que podem ter com o espanhol num contexto ibérico, pela vantagem competitiva e tendo os olhos postos no crescimento das vendas. Um exemplo disso é o contínuo aumento do volume de trabalho do nosso departamento de tradução, que traduz inúmeros documentos de empresas, tanto de português para espanhol como no sentido inverso. Há, aliás, uma grande quantidade de empresários que apostam na formação em espanhol para os seus trabalhadores, pela relevância actual e futura deste idioma no campo económico e dos negócios. Não há qualquer dúvida de que o espanhol está a tornar-se uma língua com força e importância no mundo, a todos os níveis. Além disso, irá tornar-se a segunda língua mais falada, à frente do inglês e logo a seguir ao mandarim. Com este último dado, a necessidade de falar espanhol vai ser, no futuro, crucial para as empresas, para os particulares e até na educação das pessoas – e a língua espanhola vai ocupar o lugar da língua inglesa nos estabelecimentos de ensino.
UMA RIQUEZA CULTURAL E DE SENTIDOS
Aurélie Favre-Félix – Professora de Francês
“Os limites da minha linguagem são os limites do meu mundo.” A frase não é minha (é atribuída a Ludwig Wittgenstein), mas serve para retratar aquilo que sinto em relação à língua e às infinitas possibilidades que ela permite. Há muitas coisas que deveríamos repensar quando olhamos para as línguas. Aprender uma língua é uma abertura a uma cultura, às ideias, à história de um país ou comunidade – e por isso não gosto de olhar para um idioma apenas sob uma perspectiva comercial ou de negócio. Claro que essa vertente mais económica também é importante, mas não consegue resumir tudo aquilo que a língua comporta. O francês tem, pois, uma imensa riqueza cultural, de sentidos, de saber viver… Para mim é prazer, riqueza de palavras e significados. É um idioma muito engraçado de se ouvir, de certa forma sedutor.
E, tal como o português, é marcado por uma enorme diversidade, com uma base de vocabulário muito rica – para cada palavra conseguimos encontrar uma dezena de sinónimos, imensas expressões idiomáticas… Os franceses e os portugueses são culturalmente muito próximos. Sinto sempre uma certa pena quando vejo jovens de 20 e tal anos que não têm a mais pequena ideia das relações que Portugal e França tiveram no passado.
É por este passado comum, por esta proximidade histórica que temos também uma cultura comum que se reflecte em outras dimensões da vida – por exemplo, numa forma semelhante de fazer negócio. São múltiplas as vantagens que a língua francesa pode trazer. Para além de, hoje em dia, poder constituir um factor de distinção no currículo de uma pessoa, facilita também o encontro com outras pessoas, no nosso ou em outros países. Apesar da omnipresença do inglês, o francês ainda é hoje uma língua importante, com uma grande influência diplomática, cultural e política. Basta olharmos para a Europa: quando vamos a Bruxelas, o francês é um dos idiomas relevantes. E na Europa, pela nossa identidade e cultura comuns, não devemos nunca perder a oportunidade de falar, escrever e compreender outras línguas para além do inglês.
NOVOS HORIZONTES
Carolina Machado – Professora de Alemão
Hoje, mais do que nunca, o alemão atingiu um estatuto de quase supremacia no panorama europeu e mundial.
A Alemanha tem uma grande preponderância no contexto económico e político europeu, é a maior economia da Europa e uma das maiores do planeta. Existem cada vez mais produtos “made in Germany”, há ainda a BMW, a Mercedes, a Adidas… Há um mercado muito vasto e seguro à espera de bons profissionais. O que vai regulando o mercado das línguas são, de certa forma, as ondas económicas. E, tendo em conta a estrutura mental da sociedade alemã e dos países de expressão alemã (Suíça, Áustria, Liechtenstein, entre outros), penso que a posição de quase supremacia alemã irá manter-se nos próximos anos. Mas esta dimensão económica não é tudo. Os benefícios imediatos de aprender alemão podem tornar-se ganhos no decorrer da vida, a nível profissional, individual e pessoal. E por isso o alemão é hoje, mais do que nunca, uma mais-valia no futuro dos jovens.
O alemão é desafiador. As pessoas pensam que é muito difícil, mas não é tanto quanto pode parecer à primeira vista. Claro que exige esforço, mas é uma língua muito matemática, que ajuda a estruturar o pensamento, e esta estruturação permite um desenvolvimento mental disciplinado, podendo ter repercussões noutras dimensões da vida, ajudando quem o estuda a ganhar novos horizontes, autoconfiança e uma nova forma de perceber o mundo. A sua aprendizagem abre oportunidades no mercado de trabalho: quem fala alemão tem um factor diferenciador e, por isso, uma maior probabilidade de encontrar emprego. Já no campo pessoal, permite o acesso a uma cultura e história muito vasta, já que muitos dos grandes pensadores e filósofos são de origem alemã.
Aprender este idioma é, assim, uma viagem de descoberta de uma cultura, história e modo de vida de um conjunto de países. E nós temos ainda uma herança europeia a preservar: se ainda estamos numa tentativa de construção de uma Europa comum, necessitamos de perceber quem somos, como funcionam os nossos parceiros, o que nos une e aquilo que nos separa.