O PS está em campanha interna para novas primárias


As eleições legislativas estão aí, mas uma coisa é certa: qualquer que seja o resultado, o 4 de Outubro mostrará um partido dividido


Quando as tropas de António Costa assaltaram o PS de António José Seguro, acreditavam que a marcha até ao poder, tanto no partido como no país, se faria sobre uma passadeira vermelha. Depois do golpe palaciano interno, a preocupação era repetir um golpe constitucional derrubando um governo maioritário. Estavam bem enganados. 2015 tem tudo o que é preciso para ser um annus horribilis para o PS e para António Costa. Ziguezagues permanentes na questão grega, socialistas de candeias às avessas com as candidaturas presidenciais, um programa eleitoral carregadinho de promessas e até de alguns milagres (já vimos a história dos milhares de postos de trabalho em algum lado?), até repor um feriado a 5 de Outubro com as eleições a 4, estudos em que a bota não bate com a perdigota, são “aselhices” a somar às “aselhices” já reconhecidas. O resultado é o que seria de esperar: Costa e o PS afundam nas intenções de voto. As sondagens estão a ter nervosas leituras internas e externas. Internamente, a performance de Costa está demasiado longe de um resultado entendido como convincente para quem tem a maioria absoluta como meta, mas demasiado perto do “poucochinho” que, ironicamente, foi o alfa e o ómega na sua estratégia de derrube da anterior liderança. As eleições legislativas e presidenciais não são mais do que um prenúncio de novas primárias socialistas. Já do ponto de vista externo, o problema inultrapassável de Costa é a sua incapacidade de surgir como alternativa confiável e consistente de governação. Costa não é confiável porque toda a gente tem na cabeça o seu alinhamento desastroso com o Syriza que, como se sabe, conduziu a Grécia para a instabilidade política total e para mais austeridade. Tudo isto num governo que teve apenas sete meses de vida, mas cujo nascimento foi celebrado pelo líder socialista como uma janela de esperança e um sinal de mudança na Europa. 

É, pois, legítimo perguntar: é este o caminho da esperança e da mudança que Costa queria e quer para Portugal? Que ninguém se equivoque: um voto no PS aproxima-nos da trajectória grega. Se é uma impossibilidade prática o PS governar em minoria, e uma improbabilidade ter maioria absoluta, um voto no PS transforma-se num convite explicito à entrada dos radicais do PCP e ou do BE no Governo. Eu acredito que qualquer democrata não deixará de estremecer com esta possibilidade. O BE vive entre a inveja do sucesso eleitoral do Podemos e do Syriza (o que diz muito dos seus limites) e a orfandade motivada pelo fracasso destes partidos enquanto projectos de (contra)poder. Com o desmantelamento do Syriza, não é claro se o BE (e, já agora, uma fatia do PS) se realinha com Tsipras ou com os dissidentes do Syriza. Quanto ao PCP, até Jerónimo de Sousa já disse que pode ser governo. Um quarto de século depois da queda do Muro de Berlim e quase 40 anos depois do 25 de Novembro, data em que uma aliança de forças democráticas (PSD, PS e CDS) evitou que Portugal fosse um protectorado soviético, seria dramático que um partido que quer o país fora do euro e fora da NATO chegasse ao poder. Resumindo, as melhores hipóteses de Costa governar assentam numa coligação com o PCP e BE. Uma coligação negativa que perverte o socialismo democrático. Uma coligação na qual o PS não oferece estabilidade a si mesmo e muito menos é capaz de a garantir ao país. 

As eleições legislativas estão aí, mas uma coisa é certa: qualquer que seja o resultado, o 4 de Outubro mostrará um partido dividido. Não demorará a sair das trincheiras quem queira disputar o poder a Costa, como Costa fez com Seguro ou, olhando para a dispersão dos apoios dos notáveis socialistas, não custa adivinhar que o PS continuará a ser um saco de gatos no caminho para as presidenciais. As feridas vão levar tempo a sarar. Razão pela qual há uma semana, neste mesmo espaço, alertei para a necessidade imperiosa de não se repetirem, no espaço da coligação, o rol de asneiras socialistas. Qualquer candidato presidencial desta família política que tenha aspirações a vencer as eleições, e que para além disso queira manter intacto o seu horizonte de possibilidades políticas, dentro e fora do PSD, deve respeitar os interesses do partido. Quem desafiar esta estratégia comete um pecado capital. Porque presta um péssimo serviço ao país, faz um grande frete ao PS e, como corolário dos anteriores, provoca um afastamento irreversível do PSD e dos seus militantes, fatal para quem tenha aspirações. 
 
Escreve à quarta-feira

O PS está em campanha interna para novas primárias


As eleições legislativas estão aí, mas uma coisa é certa: qualquer que seja o resultado, o 4 de Outubro mostrará um partido dividido


Quando as tropas de António Costa assaltaram o PS de António José Seguro, acreditavam que a marcha até ao poder, tanto no partido como no país, se faria sobre uma passadeira vermelha. Depois do golpe palaciano interno, a preocupação era repetir um golpe constitucional derrubando um governo maioritário. Estavam bem enganados. 2015 tem tudo o que é preciso para ser um annus horribilis para o PS e para António Costa. Ziguezagues permanentes na questão grega, socialistas de candeias às avessas com as candidaturas presidenciais, um programa eleitoral carregadinho de promessas e até de alguns milagres (já vimos a história dos milhares de postos de trabalho em algum lado?), até repor um feriado a 5 de Outubro com as eleições a 4, estudos em que a bota não bate com a perdigota, são “aselhices” a somar às “aselhices” já reconhecidas. O resultado é o que seria de esperar: Costa e o PS afundam nas intenções de voto. As sondagens estão a ter nervosas leituras internas e externas. Internamente, a performance de Costa está demasiado longe de um resultado entendido como convincente para quem tem a maioria absoluta como meta, mas demasiado perto do “poucochinho” que, ironicamente, foi o alfa e o ómega na sua estratégia de derrube da anterior liderança. As eleições legislativas e presidenciais não são mais do que um prenúncio de novas primárias socialistas. Já do ponto de vista externo, o problema inultrapassável de Costa é a sua incapacidade de surgir como alternativa confiável e consistente de governação. Costa não é confiável porque toda a gente tem na cabeça o seu alinhamento desastroso com o Syriza que, como se sabe, conduziu a Grécia para a instabilidade política total e para mais austeridade. Tudo isto num governo que teve apenas sete meses de vida, mas cujo nascimento foi celebrado pelo líder socialista como uma janela de esperança e um sinal de mudança na Europa. 

É, pois, legítimo perguntar: é este o caminho da esperança e da mudança que Costa queria e quer para Portugal? Que ninguém se equivoque: um voto no PS aproxima-nos da trajectória grega. Se é uma impossibilidade prática o PS governar em minoria, e uma improbabilidade ter maioria absoluta, um voto no PS transforma-se num convite explicito à entrada dos radicais do PCP e ou do BE no Governo. Eu acredito que qualquer democrata não deixará de estremecer com esta possibilidade. O BE vive entre a inveja do sucesso eleitoral do Podemos e do Syriza (o que diz muito dos seus limites) e a orfandade motivada pelo fracasso destes partidos enquanto projectos de (contra)poder. Com o desmantelamento do Syriza, não é claro se o BE (e, já agora, uma fatia do PS) se realinha com Tsipras ou com os dissidentes do Syriza. Quanto ao PCP, até Jerónimo de Sousa já disse que pode ser governo. Um quarto de século depois da queda do Muro de Berlim e quase 40 anos depois do 25 de Novembro, data em que uma aliança de forças democráticas (PSD, PS e CDS) evitou que Portugal fosse um protectorado soviético, seria dramático que um partido que quer o país fora do euro e fora da NATO chegasse ao poder. Resumindo, as melhores hipóteses de Costa governar assentam numa coligação com o PCP e BE. Uma coligação negativa que perverte o socialismo democrático. Uma coligação na qual o PS não oferece estabilidade a si mesmo e muito menos é capaz de a garantir ao país. 

As eleições legislativas estão aí, mas uma coisa é certa: qualquer que seja o resultado, o 4 de Outubro mostrará um partido dividido. Não demorará a sair das trincheiras quem queira disputar o poder a Costa, como Costa fez com Seguro ou, olhando para a dispersão dos apoios dos notáveis socialistas, não custa adivinhar que o PS continuará a ser um saco de gatos no caminho para as presidenciais. As feridas vão levar tempo a sarar. Razão pela qual há uma semana, neste mesmo espaço, alertei para a necessidade imperiosa de não se repetirem, no espaço da coligação, o rol de asneiras socialistas. Qualquer candidato presidencial desta família política que tenha aspirações a vencer as eleições, e que para além disso queira manter intacto o seu horizonte de possibilidades políticas, dentro e fora do PSD, deve respeitar os interesses do partido. Quem desafiar esta estratégia comete um pecado capital. Porque presta um péssimo serviço ao país, faz um grande frete ao PS e, como corolário dos anteriores, provoca um afastamento irreversível do PSD e dos seus militantes, fatal para quem tenha aspirações. 
 
Escreve à quarta-feira