Será normal um homem como António Costa, com a sua experiência política e com os objectivos que se propõe, discutir os assuntos com tanta leveza e com uma postura tão descontraída? Não creio. Das duas uma. Ou António Costa usa a graçola fácil como defesa para se desviar de perguntas difíceis cujas respostas não preparou ou então goza de um excesso de confiança tal que as gracinhas são a forma que encontrou de se tornar mais afável aos olhos dos eleitores.
Mas ser primeiro-ministro é muito mais do que ser um tipo porreiro e bem-humorado. É preciso alguma substância e, no mínimo, um rumo alternativo e credível. Ora Costa, também nesse campo, não inspira grande confiança, contrariando o seu lema de campanha. Prova disso foram as correcções anunciadas há dias, que, para além da conversa do fim dos cortes, da sobretaxa, da redução da TSU para empresas e trabalhadores, acrescentaram a previsão de 207 mil novos empregos até 2019. Um maná de facilidades que nem uma “invasão de marcianos”, como aludiu à possibilidade de entendimentos com o PSD/CDS, nos salvará do destino que nos traçaram em 2011.
Mas esta leveza no discurso, na postura e nas medidas não é assunto solitário nesta sui generis campanha de António Costa. Os elogios a Ferreira Leite e a “identidade de pontos de vista” entre ela e Costa são um truque em que poucos patos cairão. Nem Costa pensa como Ferreira Leite nem o contrário se verifica. Trata--se apenas de um apontamento politiqueiro para desviar as atenções daquilo que é essencial. Esmiuçar as propostas que defende obrigando-o a dizer como e de que forma as vai concretizar e que impacto terão na sustentabilidade das contas públicas.
Deputado Escreve à segunda-feira