A disputa presidencial ainda vai no adro, mas a divisão no PS já não encontra paralelo na luta fratricida Soares/Alegre de 2006. Aliás, nessa altura de fratricida a luta só teve mesmo o facto de opor dois velhos amigos e sempre camaradas de luta (que ficaram afastados até 2013), porque o PS esteve em peso com Mário Soares, até mesmo quem dois anos antes tinha estado com Manuel Alegre na disputa pela liderança do PS, caso de… Maria de Belém.
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A cinco meses das presidenciais já existem três candidatos presidenciais na área socialista, Maria de Belém, Sampaio da Nóvoa e Henrique Neto, mas são os dois primeiros que concentram a discórdia socialista, basta ver como se separam as águas (ver apoios à esquerda e à direita do texto) que voltam a deixar os velhos amigos em lados opostos da barricada presidencial. Mário Soares apoia Nóvoa desde a primeira hora e Manuel Alegre apoia Maria de Belém desde o primeiro minuto (ainda que já tenha visto o reitor honorário da Universidade de Lisboa como “um académico e um intelectual brilhante”).
Ontem, num artigo publicado no “Diário de Notícias”, o poeta diz que apoia Maria de Belém: “Porque não me considerar órfão de ninguém nem admito que o PS e a esquerda se resignem a perder a eleição presidencial”. Belém foi a mandatária da última campanha presidencial de Alegre, mas na primeira candidatura, quando o socialista avançou sem o apoio do partido e contra o candidato oficial, Mário Soares, Maria de Belém ficou com o PS. “Com todo o respeito e amizade por Manuel Alegre, o candidato à Presidência da República, o candidato apoiado pelo PS é o Dr. Mário Soares”, disse então.
Não foi a única. Vera Jardim e Alberto Martins também tinham estado com Alegre quando disputou a liderança do PS com Sócrates e João Soares e decidiram seguir a orientação que o partido ditou. Nesse Verão, também a cinco meses das eleições, o líder Sócrates resolveu logo o assunto presidenciais numa reunião da ComissãoPolítica Nacional dias depois de Soares oficializar a candidatura. Em Setembro o assunto estava arrumado, mas pelo meio não havia legislativas, como agora.
O que Costa não queria
Nesta fase, com candidaturas assumidas e o PS sem posição definida além da ladainha de António Costa de que “a prioridade são as legislativas”, a divisão dos socialista vai ganhando terreno. Ontem, em declarações ao “Expresso Diário”, Ferro Rodrigues disse que “o PS teria completa miopia se não percebesse isso e se se entretivesse nas próximas semanas a contabilizar apoios a candidaturas ou pré-candidaturas presidenciais”.
Esta divisão nesta altura do campeonato era precisamente o que Costa queria evitar quando empurrou a definição presidencial do partido para depois das legislativas. O líder socialista estava mesmo convicto que a mensagem estava cimentada no PS, até porque Maria de Belém a repetira várias vezes.
Há pouco mais de 15 dias, em entrevista ao i, António Costa foi duro no aviso interno, aproveitando uma recomendação que Alegre fizera sobre não se cometerem os erros do passado, numa referência à disputa de 2006. “O PS não deve repetir o espectáculo de ter vários candidatos presidenciais”, disse então o líder socialista. É frequente a comparação com as presidenciais onde a candidatura saída de um movimento do cidadãos de Manuel Alegre ficou à frente do candidato socialista Mário Soares, numa dramatização onde são os socialistas que apoiam Nóvoa que carregam mais nas tintas.
É nesta frente que se recorda, por exemplo, a presidenciais francesas de 2002, onde a divisão à esquerda acabou por ver passar à segunda volta o candidato da direita Jacques Chirac e o nacionalista Jean-Marie Le Pen. Nada que o PS português não conheça bem. Em 2006 a esmagadora maioria dos socialistas (incluindo os regressados do PRD, como Medeiros Ferreira) ficaram com Soares, a divisão maior foi mesmo sentida no resultado eleitoral. Mas em 2015/2016 a desunião presidencial começa bem mais cedo.