Zez Vaz é José Vaz, mas a abreviatura do nome traduz um traço artístico maior que o espaço ocupado pelas três letras. Multifacetado, como de resto vem logo indicado na apresentação da sua página do Facebook, Zez dá também nome a um jogo gratuito, lançado na App Store no início de 2014, para plataformas mobile.
O artista ilustrou esta criação, com marca da Artbit Studios, do Porto, que funciona como uma espécie de Candy Crush, mas com um gato com luva de boxe que destrói os robôs quando estes estão perfilados em linha e em grupos de três. Porém, como não consegue estar parado – confissão do próprio –, no mesmo ano desenvolveu uma banda desenhada (BD), intitulada “Lelo e Zezinha”, que retrata um casal idoso, mas com espírito jovem e moderno, inspirada nos seus avós, Aurélio e Maria José, conhecidos precisamente pelos nomes das personagens.
De início não pensou que as suas tiras de BD viessem a centrar-se num casal de idosos, mas por os avós “serem como são”, acabaram convertidos nas suas “musas”, que derem origem à história. “Eles têm uma série de características que os tornam um casal engraçado. É vagamente inspirada neles, mas depois acabo por meter os meus próprios problemas ou as minhas características, que revejo nos meus avós.”
Talvez por isso diga que Aurélio e Maria José não percebem onde quer chegar com a maior parte das piadas, ainda que gostem de ser as estrelas da BD. As influências de Zez Vaz vão dos Simpsons a Calvin & Hobbes e a alguns desenhos animados da Cartoon Network, passando por Seinfeld ou comediantes como Louis C. K. Foi, aliás, a comédia que o empurrou para este território. “De certa maneira, o ‘Lelo e Zezinha’ existe por causa de uma espécie de frustração. Tentei fazer stand-up comedy, mas é muito duro, porque o feedback é imediato. Se resulta, é muito bom, se não resulta é brutal. Pondo a banda desenhada na internet, não preciso de ver a reacção das pessoa.”
Não foi, no entanto, na rede que a saga “Lelo e Zezinha” começou, mas sim no jornal da região de Gondomar, o “Vivacidade”, onde trabalhava como designer gráfico. “Apareceu um espaço para o comic ao qual me candidatei. Quando mostrei o primeiro esboço dos desenhos a reacção foi muito positiva e então continuei.” Depois do “Vivacidade”, a banda desenhada passou a sair igualmente noutro regional, o “VivaDouro”, até ultrapassar as páginas dos jornais. Actualmente, é também uma webcomic – termo geral que designa as bandas desenhadas publicadas na internet –, semanal, divulgada através das redes sociais.
“Tive de ser eu produtor e dizer na internet que todas as segundas-feiras tenho um novo comic. Mantenho isso porque dei a minha palavra [risos], mas às vezes é complicado arranjar um comic forte no espaço de uma semana”, admite o designer, natural do Porto, que esteve um ano em Birmingham a estudar animação, nas vertentes de desenhos animados de televisão ou videojogos. Neste momento, e paralelamente à webcomic que mantém, está a trabalhar num jogo para computador, adiando o plano de vir a reunir em livro a história de “Lelo e Zezinha”.
“Eventualmente, poderia vir a publicar num livro, provavelmente com conteúdo original extra, mas incluindo isto que estou a fazer na internet. Mas ainda é cedo.” Para já, é possível seguir o moderno casal de idosos em leloezezinha.tumblr.com e tentar decifrar as piadas que saem da cabeça de Zez, pelas bocas da versão animada dos seus avós.