Está instalada uma verdadeira guerra em torno do preço do petróleo, que vive o pior Verão de sempre.
Analistas consultados pela agência de informação financeira Bloomberg prevêem cenários catastróficos: há mesmo quem acredite que o preço do barril de crude pode escorregar para os 10 dólares.
O preço do petróleo já afundou 30% desde o início do semestre – isso mesmo, em pouco mais de dois meses – e não dá sinais de recuperação. Se tivermos em conta que o Verão até costuma ser uma época de preços altos para o ouro negro, o cenário é ainda mais grave. Este desempenho do preço dos barris de petróleo supera a queda dos preços no pico da crise financeira, em 2008, a derrocada provocada pela crise da economia asiática, em 1998, e até o excesso de produção mundial que em 1986 penalizou significativamente a matéria-prima, compila a Bloomberg.
Na sessão de sexta-feira passada, o WTI, referência para o crude nos EUA, caiu para 41,35 dólares o barril, e o Citigroup espera que continue a escorregar.
Longe, portanto, vão os tempos em que o barril de petróleo disparava para os 110 dólares – na verdade, foi somente há um ano –, penalizando o consumo de combustíveis um pouco por todo o mundo e sobretudo numa Europa ainda dorida da crise.
Mas os produtores de petróleo não parecem dispostos a abdicar das suas quotas de mercado e, como tal, já avisaram que vão continuar a produzir nas quantidades habituais. Seth Kleinman, estratego do Citigroup, afirmou à agência de informação que acredita que o mercado vai continuar com demasiada oferta e que esta pode mesmo aumentar, “uma vez que as refinarias não dão sinais de abrandamento”.
O ponto de vista é partilhado por Gary Shilling, que disse em entrevista à Bloomberg que os produtores querem, no fundo, perceber quem vai sucumbir primeiro aos preços baixos. “A Organização dos Países Exportadores de Petróleo está basicamente a dizer ‘não vamos cortar na produção, queremos ver quem consegue aguentar mais tempo com preços mais baixos’”, afirmou. “O petróleo está a preparar-se para cotar entre 10 a 20 dólares o barril”, concluiu.
Países em dificuldades Países como Brasil e Angola atravessam, à conta da baixa do preço do petróleo, dificuldades económicas significativas.
O Fundo Monetário Internacional iniciou, aliás, na semana passada uma visita de trabalho a Angola, para avaliar o impacto da abrupta queda do preço do petróleo na economia do país, que é demasiado dependente desta matéria-prima. “A equipa do FMI irá também colher dados e avaliar as políticas económicas e financeiras que estabelecem a base para permitir a transformação estrutural e a diversificação da economia angolana”, referia o Ministério das Finanças numa nota enviada à agência Lusa.
No Brasil, a Petrobras tem tentado desfazer-se de alguns activos para fazer face à crise, mas a cotação do ouro negro deixou de os tornar atractivos para os investidores, o que não está a ajudar nas contas da maior empresa pública do país.
No mesmo sentido, a anglo--holandesa Shell anunciou, por exemplo, no final do mês passado que vai cortar 6500 postos de trabalho no mundo inteiro, ainda este ano, para fazer face à quebra do preço do petróleo.