© Nuno Veiga/Lusa
Os contorcionismos em política são normalmente geradores de derrotas irreversíveis. Tudo parecia correr bem, existindo de facto uma maioria sociológica à esquerda, quando no devido tempo chegou ao terreno um candidato em condições de fazer esse pleno, e ao qual o PS acenara oferecendo-lhe palco e visibilidade.
Independente, prestigiado, e muito significativamente suportado pelos três inquestionáveis ex-presidentes, Sampaio da Nóvoa seria assim à esquerda, e com todas as probabilidades, o homem certo para Belém.
Só que agora, contra tudo o que seria expectável, depois do intenso nervosismo opinativo da direita e do “centrão”, registamos o seu enorme suspiro de alívio face às notícias da candidatura de Maria de Belém às presidenciais.
O PS, ou melhor, um certo PS, assolado uma vez mais por aquela atávica e intangível autofagia que em momentos chave o afasta de opções políticas claras e perceptíveis ao cidadão comum, resolveu lançar areia na engrenagem e entregar ouro ao bandido, empurrando Maria de Belém para uma candidatura que, se tivermos em conta o húmus dos apoios que reúne, se irá mover na disputa do centro político.
O erro é fatal, porque pretender-se entrar no quintal do professor Marcelo será sempre melhor do que a encomenda. Para tanto, e não sendo nada complicado, bastaria que a direita deslocasse algum voto útil para que a piedosa senhora fosse a uma hipotética segunda volta, que seria assim a passadeira vermelha do seu inefável candidato.
Só me espantam os incautos que duvidam disto, e os que sentem tanto prazer em dar tiros no pé. Irra.
Escreve ao sábado