Bola


Doeu-me muito ver o Jorge Jesus ir para o Sporting mas, como sou uma benfiquista sensata (ou ingénua, escolham), até achei bonito que ele se permitisse abraçar o clube do seu coração.


© Luis Forra/Lusa

O futebol parece, hoje em dia, um terreno pouco fértil para se semear paixão. Porém, mais ou menos relutantemente, continuamos a ser milhões de adeptos a inventar formas de manter a chama acesa – no meu caso, uma chama imensa – e de ignorar o jogo badalhoco por detrás do jogo bonito. A paixão pelo futebol é quase obsoleta mas permanece estranhamente intacta. Mais do que "acarditar", é mais querer acreditar.

Doeu-me muito ver o Jorge Jesus ir para o Sporting mas, como sou uma benfiquista sensata (ou ingénua, escolham), até achei bonito que ele se permitisse abraçar o clube do seu coração em vez de ir para um grande clube estrangeiro, como seria de esperar.

O que me doeu mais foi esta desmesurada bazófia que lhe deu, sobretudo a história das SMS enviadas aos jogadores do Benfica antes da Supertaça, qual ex-namorado controlador que acaba de arranjar uma miúda nova mas quer continuar a convencer-se – e a convencer-nos – de que é a pessoa mais importante da nossa vida.

Estas coisas deixam-me triste. Deixam-me triste porque sou uma benfiquista tão sensata (ou tão ingénua), que uma das minhas memórias futebolísticas mais distantes e mais queridas é a do dia em que o Futebol Clube do Porto foi campeão europeu contra o Bayern de Munique, em 1987.

Lembro-me de desenhar o golo de calcanhar do Madjer numa sebenta e lembro-me, sobretudo, do meu pai – benfiquista ferrenho – ter um inusitado acesso de alegria por esta vitória histórica do futebol português.

Hoje em dia, claro que o contexto é bem diferente, mas nunca cairia bem a adepto de clube nenhum este orgulho alheio. Já oiço o caps lock da #indignação nas redes sociais.

Foi por isso que eu perguntei ao jornalista e amigo do coração Mário Lopes, que acaba de lançar uma deliciosa biografia ergonómica do seu Sportinguismo (A Ganhar ou a Perder, Ed. Paquiderme), se ele não me arranjava um papel bem opaco para eu forrar a capa e levá-lo para ler durante as férias.

Vá, era uma provocação ternurenta. Cá ando a passear a capa verde e branca pelos caminhos de Portugal. E não se esqueçam que amanhã joga o Benfica.

Guionista, apresentadora e porteira do futuro
Escreve à sexta e ao sábado

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Doeu-me muito ver o Jorge Jesus ir para o Sporting mas, como sou uma benfiquista sensata (ou ingénua, escolham), até achei bonito que ele se permitisse abraçar o clube do seu coração.


© Luis Forra/Lusa

O futebol parece, hoje em dia, um terreno pouco fértil para se semear paixão. Porém, mais ou menos relutantemente, continuamos a ser milhões de adeptos a inventar formas de manter a chama acesa – no meu caso, uma chama imensa – e de ignorar o jogo badalhoco por detrás do jogo bonito. A paixão pelo futebol é quase obsoleta mas permanece estranhamente intacta. Mais do que "acarditar", é mais querer acreditar.

Doeu-me muito ver o Jorge Jesus ir para o Sporting mas, como sou uma benfiquista sensata (ou ingénua, escolham), até achei bonito que ele se permitisse abraçar o clube do seu coração em vez de ir para um grande clube estrangeiro, como seria de esperar.

O que me doeu mais foi esta desmesurada bazófia que lhe deu, sobretudo a história das SMS enviadas aos jogadores do Benfica antes da Supertaça, qual ex-namorado controlador que acaba de arranjar uma miúda nova mas quer continuar a convencer-se – e a convencer-nos – de que é a pessoa mais importante da nossa vida.

Estas coisas deixam-me triste. Deixam-me triste porque sou uma benfiquista tão sensata (ou tão ingénua), que uma das minhas memórias futebolísticas mais distantes e mais queridas é a do dia em que o Futebol Clube do Porto foi campeão europeu contra o Bayern de Munique, em 1987.

Lembro-me de desenhar o golo de calcanhar do Madjer numa sebenta e lembro-me, sobretudo, do meu pai – benfiquista ferrenho – ter um inusitado acesso de alegria por esta vitória histórica do futebol português.

Hoje em dia, claro que o contexto é bem diferente, mas nunca cairia bem a adepto de clube nenhum este orgulho alheio. Já oiço o caps lock da #indignação nas redes sociais.

Foi por isso que eu perguntei ao jornalista e amigo do coração Mário Lopes, que acaba de lançar uma deliciosa biografia ergonómica do seu Sportinguismo (A Ganhar ou a Perder, Ed. Paquiderme), se ele não me arranjava um papel bem opaco para eu forrar a capa e levá-lo para ler durante as férias.

Vá, era uma provocação ternurenta. Cá ando a passear a capa verde e branca pelos caminhos de Portugal. E não se esqueçam que amanhã joga o Benfica.

Guionista, apresentadora e porteira do futuro
Escreve à sexta e ao sábado