“Reina de Todas Las Fiestas” é o nome do mais recente disco dos Chico Trujillo e o título resume bem o que se passa lá dentro: a cumbia, que é o mesmo que dizer farra sem fim, directamente saída deste EP editado no ano passado e de outros trabalhos do colectivo. Os Chico Trujillo actuam hoje no Festival Sons do Atlântico, em Lagoa (Algarve), depois de ontem terem animado o B.Leza, em Lisboa. “Super, superalegres. Vamos com muita força mostrar a nossa arte”, tinha-nos prometido, no início da semana, Leo Ruiz, saxofonista da banda, quando esta ainda estava a dar concertos em França. A arte a que se refere é a de misturar a cumbia, com raízes na Colômbia, com outros géneros, desde as tradições musicais chilenas aos boleros e às sonoridades mais actuais e globais. Àquilo que fazem, os Chico Trujillo chamam “cumbia chilombiana”, termo que acaba por sintetizar as ramificações do género quando passou as fronteiras no mapa da América do Sul. Depois adicionam outros condimentos para lhe conferir um toque de distinção – até porque a concorrência no meio da nova cumbia chilena trabalha bem. “A raiz é colombiana, mas [no Chile] foi bebendo outras influências e usando outros instrumentos. No nosso caso, fundimo-la, por sua vez, com o rock ou o ska”, explica o músico. Mas há aqui outros recursos em jogo, como a electrónica. Se se pensar que o género, na sua origem, também resultou de misturas culturais, não é assim tão surpreendente que ao longo dos tempos tenha vindo a conhecer tantas variações e actualizações. No país que faz fronteira com a Argentina – onde, nos anos 60, a cumbia ganhou outro ritmo e um traço distintivo, através do piano, da introdução de secções de metais e de uma percussão mais rápida – diz-se que é a música mais dançada e Leo Ruiz explica porquê: “A cumbia tem uma característica muito especial: quando se ouve dá vontade de dançar e de partilhar a dança, sozinhos ou em par.”
Foi tudo isso que se ouviu e viu ontem, no espaço lisboeta que agora se situa num armazém à beira-Tejo. No B.Leza, bastaram as primeiras notas, para que as dezenas de pessoas de diferentes nacionalidades – o que não é difícil numa altura em que a capital está cheia de turistas – e estilos começassem a dançar ao seu ritmo, sós ou acompanhadas, em pares fixos ou improvisados.
E isso acontece um pouco por todo o mundo, como já tinha contado Leo Ruiz quando o questionámos sobre os diferentes festivais e públicos aos quais levam a sua música. Do Roskilde e do Lollapalooza a digressões pela Europa e pelos Estados Unidos, há sempre algo de comum em todos os lugares por onde passam. “Há muita mistura de gente, de raças, e para nós é incrível, quando começamos a tocar, ver o público a dançar, a saltar… É maravilhoso”, recorda o saxofonista do grupo, que nasceu em 1999, quando alguns elementos de uma outra banda, La Floripondio, começaram a explorar mais a fundo a música tradicional latino-americana e, a partir daí, as potencialidades da cumbia.
Potencialidades que boa parte do público já experimentou e revela conhecer bem. Se os temas onde o ska estava mais presente convidavam aos saltos e a um frenesim instântaneo, noutros os sons mais tradicionais da cumbia e até do bolero, como "Loca", davam o tom para o público se manifestar em coro, seguindo a letra, ou para retomar a dança, como se estivessemos num salão de baile da américa latina, vendo desfilar diferentes passos e movimento. Tão distintos como os elementos da própria banda, cada um com o seu estilo, uns vestindo camisas de padrões floridos ou étnicos, outros fato completo ou gorro e indumentária ao estilo do hip-hop.
Descontraídos e incansáveis, voltaram ao palco acedendo aos pedidos do público, mesmo que para os Chico Trujillo a festa não tenha terminado ali. Hoje seguem para o Algarve, para levar a sua arte em força, como dizia Leo, aos Sons do Atlântico, onde também actuam os portugueses Marafona (hoje) e Paulo Flores e Camané (amanhã).