Imagine o leitor que tem uma empresa que quer fazer alguns anúncios para promover um determinado produto: uma marca de azeite, uma clínica de oftalmologia ou uma prótese dentária. Precisa de imagens, claro.Onde as vai buscar? A um banco de imagens, certamente – uma prática regular em publicidade e comunicação, e a técnica utilizada agora pela coligação PSD/CDS nos seus cartazes, que criaram uma narrativa dos últimos quatro anos, repleta de melhorias em diversas áreas, como a economia e as exportações.
{relacionados}
O problema?As redes sociais, em especial as dos socialistas, demonstraram que as pessoas que ilustram as imagens da coligação são, na verdade, estrangeiras. Depois da polémica dos outdoors doPS, que levou à demissão de Ascenso Simões e a um pedido de desculpas público do partido por uso indevido de fotografias de pessoas, é a vez de a direita ver escrutinada a sua campanha.
só com licença especial Se fizermos uma viagem rápida pelas regras de licenciamento desta empresa, damos de caras com as restrições de uso do conteúdo visual: “c) é proibido num contexto político, como a promoção, propaganda a qualquer partido, candidato ou político eleito, ou com ligação a qualquer ponto de vista político”. Mas esta regra, segundo a empresa, só se aplica a um regime--padrão. O i contactou a Shutterstock, que esclareceu que “só se podem usar imagens para fins políticos ou, neste caso, para campanha, com uma licença especial”. Caso contrário, a pessoa em causa pode ser processada, quer pela empresa, quer por quem detém os direitos da imagem, ou seja, os fotógrafos que colaboram connosco”.
E acrescenta: “Para fazer esse licenciamento terão de nos contactar para fazermos uma licença customizada, onde o cliente nos diz o que quer usar e para que finalidade.” Horas mais tarde, aShutterstock respondeu afirmando que “o cliente mencionado dispõe de um licenciamento especial que permite o uso das nossas imagens em campanhas políticas”.Ora parece que no fim de contas, embora cause estranheza utilizar caras de modelos de outros países para vangloriar uma governação, a prática é legal.
ps contra-ataca A empresa Shutterstock, fundada em 2003, tem dos bancos de imagens mais conhecidos do mundo.Aqui qualquer cliente pode encontrar imagens para fins publicitários ou de marketing, ficando a empresa encarregue do seu licenciamento. As comparações [ver imagens ao lado] entre os cartazes e as imagens da Shutterstock levantaram um coro de vozes de esquerda que aproveitaram o momento para retaliar. Não só porque os cartazes sob o lema “Agora Portugal Pode Mais” têm as tais caras estrangeiras, mas também porque já foram anteriormente utilizadas por outros anúncios publicitários à volta do mundo, como a rapariga feliz com a evolução do turismo, que já serviu para promover um azeite húngaro. “Folgo em saber que este modelo francês é um português confiante nas exportações por esse país fora”, escreveu Tiago Barbosa, da concelhia do PS/Porto, partilhando a fotografia da coligação, onde vemos um homem feliz com o “recorde de exportações”. Já o ex-deputado socialista Eurico Brilhante Dias escreveu no Facebook: “Parece um francês contente porque as exportações portuguesas estão a subir.” O director de campanha social-democrata José Matos Rosa tentou amenizar a polémica. “Oque fizemos é o que mandam as boas práticas nacionais e internacionais em termos de comunicação”, disse ao “Diário de Notícias” ontem. “OPSD utiliza muitas vezes bancos de imagens”, rematou. Também Carlos Carreiras, vice-presidente do partido, em conferência de imprensa na sede do PSD no mesmo dia, afirmou que o uso de bancos de imagens “é uma prática recorrente”.
Ontem, AntónioCosta, em entrevista à “Visão”, pediu desculpas pelo episódio dos cartazes sobre desempregados que tinham uma fotografia de uma pessoa que não estava desempregada.