Maria de Belém. A socialista profundamente cristã que quer ser Presidenta

Maria de Belém. A socialista profundamente cristã que quer ser Presidenta


Confessou numa entrevista em 2010 que gostava de ser mais alta, mas que isso “nunca foi um drama”.


Quando, em 2005, Manuel Alegre decidiu avançar para as presidenciais contra o seu amigo de sempre Mário Soares, Maria de Belém teve de tomar uma decisão difícil: o partido ou o seu candidato preferido. Optou pelo partido e justificou: “Com todo o respeito e amizade por Manuel Alegre, o candidato à Presidência da República, o candidato apoiado pelo PS é o dr. Mário Soares.”

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Dez anos depois, a história repete-se e o PS está dividido entre dois candidatos, mas Maria de Belém é a protagonista principal de um filme que ninguém sabe como vai acabar. Aos 66 anos, a mulher que um dia disse que nunca teve “projectos de poder nem de ambição” soma apoios para entrar na corrida à Presidência da República. 
José Junqueiro, ex-governante e deputado socialista, garante que não lhe falta currículo. “Tem uma experiência política notável. Foi ministra de Guterres, tem experiência parlamentar, é desde sempre ligada às grandes causas. Está ligada a todo o movimento que se de-senvolveu no contexto das Misericórdias portuguesas e das instituições de solidariedade social”. 

Licenciada em Direito pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, Maria de Belém Roseira Martins Coelho Henriques de Pina (é este o seu nome completo) começou a carreira na então Direcção-Geral da Providência, nos tempos de Marcelo Caetano. A seguir ao 25 de Abril, Belém trabalhou com Maria de Lurdes Pintasilgo, na altura secretária de Estado da Segurança social. “Foi um privilégio ter trabalhado com ela. Mostrou-nos a importância de construir uma sociedade mais justa, mais igualitária”, contou, em 2010, numa entrevista de vida à jornalista Anabela Mota Ribeiro, publicada no “Jornal de Negócios”. 

RACIONAL E CONTIDA Nesta entrevista, a ex-ministra descreve-se como uma mulher “racional”, “contida”, pragmática, que está bem consigo própria. “Estou bem comigo mesmo, gosto de mim como sou e não pretendo ser coisa diferente.” Nem o facto de ser pequena constituiu algum dia um problema. “Se gostava de ter sido mais alta? Com certeza que gostava! Mas isso nunca constituiu um drama. Sempre convivi bem com a minha anormalidade em termos de tamanho”, diz Maria de Belém, confessando que sempre teve muitos “pretendentes”. 

Descreve-se como “profundamente cristã” e no currículo tem vários projectos associados às causas sociais. Foi, por exemplo, vice-provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, com os pelouros da Saúde e da Acção Social, quando o provedor era o padre Vítor Melícias. Actualmente é presidente da assembleia--geral da União das Misericórdias Portuguesas, pertence à direcção da APAV e está ligada à Fundação do Gil, que apoia crianças. 

MISERICÓRDIAS “Tenho uma relação muito grande com algumas instituições, desde as Misericórdias às IPSS, e ainda há pouco tempo estive numa conferência onde estava o padre Lino Maia e ele dizia que ‘se o Estado não for social, não serve para nada’. Concordo, pois é através do Estado social que podemos garantir que são seguidas e promovidas as políticas públicas adequadas”, disse há um ano numa entrevista à Rádio Renascença.
Mas foi na política que Maria de Belém, natural do Porto, construiu a popularidade de que hoje goza. Foi ministra da Saúde e da Igualdade nos tempos de António Guterres, deputada, líder do grupo parlamentar, dirigente e presidente do Partido Socialista. No PS, foi a primeira mulher a ocupar a presidência do partido, nos tempos de António José Seguro. “É chegada a hora de colocar todo o meu percurso de vida e o que eu sou em função da minha circunstância, a minha magistratura moral, como lhe chamam os estatutos do PS, na defesa da unidade e coesão do partido”, disse em Setembro de 2011, no congresso em que foi eleita para a presidência do PS. O próximo passo é a Presidência da República.