Este ano o Verão chegou quente, muito quente, depois de uma chuva que fazia adivinhar dias muito complicado para uma das maiores riquezas deste país, a floresta. Os números do começo de Agosto confirmam o que se previa, praticamente o dobro dos incêndios do ano passado, mas o sistema tem funcionado.
Conheço bem o verde deste país e nos meus tempos de juventude trabalhei no sistema de combate aéreo aos incêndios, na altura altamente eficaz. Os números permitem sempre muitas leituras, mas cá fica a minha sobre a primeira intervenção, daquelas que não dão notícias em televisões em directo, mas funcionam verdadeiramente naquilo que deveria ser um desígnio nacional, a defesa da florestas.
O Grupo de Prevenção e Socorro (GIPS) da GNR, que tem essa missão de apagar os fogos logo no começo em mais de metade do país, combateu com sucesso nesta fase Charlie 671 incêndios. Vinte e três acabaram por ser notícia, depois de ter falhado este ataque inicial com um helicóptero e uma brigada de profissionais altamente treinados, ganhando dimensão.
É uma taxa de eficácia de cerca de 97%. Nos meus tempos na torre da Lousã seria um mapa repleto de bandeirinhas e muitos sorrisos ao fim do dia de uma equipa que dava tudo para defender a floresta. Dia feliz tinha apenas fogos apagados logo no começo, mas nem todos eram assim. Hoje há um número que me deixa preocupado; em 148 incêndios, alguns a ganharem dimensão, não foi utilizada a primeira intervenção dos GIPS. Porquê? O objectivo não é um Portugal sem fogos? Investimos milhões no combate e depois não temos capacidade para apagar os fogos antes de serem uma tragédia?
Nenhum combate será eficaz sem um sério sistema de primeira intervenção. Estamos a voltar a pôr a pedras certas neste delicado xadrez, com a profissionalização das equipas que respondem à nossa guerra anual de Verão, com um forte apoio do voluntariado competente dos bombeiros.
Como se diz no Norte, por favor não inventem e não estraguem de novo um sistema de combate a incêndios, que já foi dos melhores do mundo, nos longínquos anos 80. Os interesses de alguns conseguiram fazer o impensável.
Jornalista RTP
Coordenador Jornal 2 – RTP2
Escreve à sexta-feira