Sobre um projecto artístico de André Sousa


O título da exposição era ambíguo, Sala de Exposições Temporárias (Projecto do Canal), uma instalação concebida para a sala de exposições temporárias do museu.


Entre 2007 e 2008, a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) realizou um primeiro ciclo de três exposições em cooperação com a Direcção Regional da Cultura do Governo Regional dos Açores. Cada uma das exposições versava sobre um tema plasmado na escolha de artistas cuja obra se aproximava de uma ideia central a cada uma das exposições.

Sinais, em Ponta Delgada; Corpo Intermitente, em Angra do Heroísmo; e por último a exposição Passagem, na Horta, foram, por assim dizer, tópicos que permitiram relacionar outros pontos de vista sobre a colecção.

Na exposição Passagem, que encerrou este programa, foi endereçado um convite a um artista exterior à colecção, André Sousa (Porto, 1980), para pensar num projecto para o Museu da Horta, na ilha do Faial.

Na sua obra existiam pontos de interesse muito específicos sobre as ilhas dos Açores e que já tinham sido objecto da sua investigação e prática artística, numa estratégia de ressonância que revelava uma ideia de dentro e fora, de descentramento, de ligar ou replicar elementos da paisagem e da vida cultural dos lugares e contextos onde trabalhava. 

O título da sua exposição era de certo modo ambíguo, Sala de Exposições Temporárias (Projecto do Canal), uma instalação concebida para a sala de exposições temporárias do museu. Não se tratou de um mero trocadilho, mas de uma replicação através da linguagem, como num jogo de espelhos. A apropriação da denominação do espaço expositivo revela uma ironia característica do seu processo de trabalho na relação com os espaços expositivos. A sala onde se realizavam exposições temporárias acolheu uma outra exposição, temporariamente.

O título, dividido em duas partes – (Projecto do Canal) – evidenciou a geografia do lugar em que foi apresentada: o canal que liga as ilhas do Faial e do Pico. Ainda, a palavra “canal” é comum na linguagem da cultura açoriana, e foi tomada pelo artista como matéria do seu trabalho.

A exposição assumiu a forma de uma instalação, como uma espécie de cabinet d’amateur em que André Sousa incluiu objectos encontrados na ilha, que embora recontextualizados denunciavam a sua proveniência. A “Sala” passou assim a ser um lugar de mediação, no sentido em que cada objecto se converteu num dispositivo linguístico e referencial.

A sala de exposições temporárias resgatou o Abstract Cabinet de El Lissitzky, convertendo o espectador em participante activo em confronto com uma estrutura escultórica/arquitectónica que agia sobre a nossa memória do lugar, como se estivéssemos no interior de uma caixa de ressonância. Da mesma forma, as reproduções do catálogo em que as obras foram publicadas, acompanhadas de um texto que escrevi sobre o seu trabalho e que aqui revisito, criavam ligações com aspectos da arquitectura local, reinventando a esteira ainda recente da modernidade.

A imagem que acompanha este artigo é exemplar do trabalho do artista. Trata-se de um fragmento do topo de um hotel icónico que nos recebe quando chegamos à vila da Madalena, na ilha do Pico. Uma imagem que converte a arquitectura numa forma, quase construtivista, que religa o imaginário fantástico e mitológico que o oceano resguarda. Esta imagem é demonstrativa do interesse etnográfico e antropológico de André Sousa, que lhe permite desenvolver no trabalho de campo ressonâncias estéticas e simbólicas que recontextualizam a nossa experiência do lugar. 

Sobre um projecto artístico de André Sousa


O título da exposição era ambíguo, Sala de Exposições Temporárias (Projecto do Canal), uma instalação concebida para a sala de exposições temporárias do museu.


Entre 2007 e 2008, a Fundação Luso-Americana para o Desenvolvimento (FLAD) realizou um primeiro ciclo de três exposições em cooperação com a Direcção Regional da Cultura do Governo Regional dos Açores. Cada uma das exposições versava sobre um tema plasmado na escolha de artistas cuja obra se aproximava de uma ideia central a cada uma das exposições.

Sinais, em Ponta Delgada; Corpo Intermitente, em Angra do Heroísmo; e por último a exposição Passagem, na Horta, foram, por assim dizer, tópicos que permitiram relacionar outros pontos de vista sobre a colecção.

Na exposição Passagem, que encerrou este programa, foi endereçado um convite a um artista exterior à colecção, André Sousa (Porto, 1980), para pensar num projecto para o Museu da Horta, na ilha do Faial.

Na sua obra existiam pontos de interesse muito específicos sobre as ilhas dos Açores e que já tinham sido objecto da sua investigação e prática artística, numa estratégia de ressonância que revelava uma ideia de dentro e fora, de descentramento, de ligar ou replicar elementos da paisagem e da vida cultural dos lugares e contextos onde trabalhava. 

O título da sua exposição era de certo modo ambíguo, Sala de Exposições Temporárias (Projecto do Canal), uma instalação concebida para a sala de exposições temporárias do museu. Não se tratou de um mero trocadilho, mas de uma replicação através da linguagem, como num jogo de espelhos. A apropriação da denominação do espaço expositivo revela uma ironia característica do seu processo de trabalho na relação com os espaços expositivos. A sala onde se realizavam exposições temporárias acolheu uma outra exposição, temporariamente.

O título, dividido em duas partes – (Projecto do Canal) – evidenciou a geografia do lugar em que foi apresentada: o canal que liga as ilhas do Faial e do Pico. Ainda, a palavra “canal” é comum na linguagem da cultura açoriana, e foi tomada pelo artista como matéria do seu trabalho.

A exposição assumiu a forma de uma instalação, como uma espécie de cabinet d’amateur em que André Sousa incluiu objectos encontrados na ilha, que embora recontextualizados denunciavam a sua proveniência. A “Sala” passou assim a ser um lugar de mediação, no sentido em que cada objecto se converteu num dispositivo linguístico e referencial.

A sala de exposições temporárias resgatou o Abstract Cabinet de El Lissitzky, convertendo o espectador em participante activo em confronto com uma estrutura escultórica/arquitectónica que agia sobre a nossa memória do lugar, como se estivéssemos no interior de uma caixa de ressonância. Da mesma forma, as reproduções do catálogo em que as obras foram publicadas, acompanhadas de um texto que escrevi sobre o seu trabalho e que aqui revisito, criavam ligações com aspectos da arquitectura local, reinventando a esteira ainda recente da modernidade.

A imagem que acompanha este artigo é exemplar do trabalho do artista. Trata-se de um fragmento do topo de um hotel icónico que nos recebe quando chegamos à vila da Madalena, na ilha do Pico. Uma imagem que converte a arquitectura numa forma, quase construtivista, que religa o imaginário fantástico e mitológico que o oceano resguarda. Esta imagem é demonstrativa do interesse etnográfico e antropológico de André Sousa, que lhe permite desenvolver no trabalho de campo ressonâncias estéticas e simbólicas que recontextualizam a nossa experiência do lugar.