Como olha para estas pessoas que agora concorrem às eleições, ligadas às minorias?
Não são sinais de mudança. Os partidos têm de se adaptar, mas funcionam como federações de grupos de interesses. A hipocrisia mantém-se, quer a nível do racismo, quer em relação às restantes minorias, porque só interessa manifestar preocupação pelas minorias se forem membros que os partidos pretendam mobilizar.
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E a nossa sociedade, está preparada?
Como temos uma grande homogeneidade social em Portugal, o grupo maioritário é tão forte de identidade (“superidentidade”, diria EduardoLourenço) que não se sente ameaçado. E por isso é que somos tolerantes. As minorias estão muito repartidas.
E Júlia Pereira, como se explica?
O caso da Júlia Pereira, do Bloco de Esquerda, só surge no contexto em que dentro do partido existe uma espécie de representatividade da sociedade civil deste tipo de grupos. Mas, em geral, a comunidade LGBT não quer ter uma posição reivindicativa.
E como olha para estes dois candidatos do PS?
O PS poderia ser mais ousado na defesa das minorias, mas como trabalha pelo “centrão”, mesmo que tenha pessoas LGBT, não diz que tem.Mas, por exemplo, o professor Alexandre Quintanilha não está nas listas pela sua militância sexual; ele está ali como cientista, como professor, não se refugia na não revelação da sua condição. Ou a Ana Sofia Antunes: não é só por ela ser invisual, é por ter qualidades. É preciso ter uma capacidade individual e um apoio familiar para poder vencer a deficiência.
Existe maior preocupação política?
Salvo alguns ataques políticos, não vejo ninguém preocupado com estas minorias porque também não dão votos. Por cúmulo histórico, prescrição secular, é lento, demora muito tempo e vai penetrando nos costumes. Nunca vi um partido a dizer que tem um cigano.Estas questões culturais não vêm por decreto.
Continuamos um país de brandos costumes?
Em Portugal, este tipo de respeito dos ditos “brandos costumes” continua assim, de facto. Não temos um exagero de posições sociais. Nem o salazarismo teve esse problema.