Um grupo de investigadores escoceses conseguiu pela primeira vez transplantar células estaminais cultivadas laboratorialmente e regenerar o fígado de ratos, no que poderá ser a cura do futuro para a insuficiência hepática, disse à Lusa um dos cientistas.
Foi a primeira vez que os investigadores conseguiram comprovar que as células estaminais do fígado podem regenerar o órgão até certo ponto, disse à Lusa o chefe da investigação, StuartForbes, da Universidade de Edimburgo.
"Esta pesquisa tem o potencial de revolucionar os cuidados ao paciente, encontrando formas de optar por recursos do seu próprio corpo para reparar ou substituir os tecidos danificados ou doentes”, acrescentou o professor de transplantação e medicina regenerativa do Centro de Pesquisa Médica (MRC na sigla inglesa) do conselho de Medicina Regenerativa da Universidade de Edimburgo.
“O fígado tem uma grande capacidade de se auto-regenerar, até cerca de 70 por cento do seu volume, mas em situações como cirrose e insuficiência hepática aguda fica demasiado danificado para o fazer”, referiu.
“Os danos no fígado ocorrem por diversas causas, incluindo doenças genéticas, infecções virais, doenças do sistema imunológico, obesidade, consumo excessivo de álcool ou de droga”, salientou Stuart Forbes, que é também o consultor hepatologista da Unidade Escocesa de transplante de fígado, referindo que se a afectação do órgão for muito grave, tal pode levar à insuficiência hepática.
Quando o problema se torna crónico aumenta também a possibilidade de cancro do fígado, insistiu, sublinhando que o colangiocarcinoma – cancro do ducto biliar [rede de tubos que drena as toxinas do fígado] afecta cerca de 1.000 pacientes por ano no Reino Unido.
“Muitas vezes, [essa doença] é diagnosticada em estado avançado, tornando-se muito difícil tratar através da cirurgia, e por normalmente não responder à quimioterapia”, apontou o especialista.
Perante lesão hepática grave, os hepatócitos [principais células do fígado, que o desintoxicam e produzem as proteínas essenciais] envelhecem e tornam-se incapazes de se dividirem de forma a espalharem-se pelo órgão, regenerando-o.
“Ainda não conseguimos reproduzir hepatócitos em laboratório”, referiu o especialista, salientando contudo que, “se os avanços científicos alcançados nos ratos se repetirem em seres humanos, a redução das cicatrizes do fígado por lesões hepáticas graves e a alternativa ao transplante de fígado poderá estar na transplantação de células estaminais”.
Demorará algum tempo até tal ser possível, acrescentou, sublinhando que “isso significaria uma cura a partir de dentro”, cujo desenvolvimento é extremamente necessário dado a doença do fígado ser uma causa de morte muito comum para pacientes do Reino Unido e do resto do mundo.
Lusa