Poucas horas depois da maratona negocial entre as instituições europeias e Tsipras – que culminou com um acordo para o terceiro resgate –, vários membros do Syriza terão reunido para delinear um plano para a saída do euro e reintrodução da dracma. O plano, avançou o jornal “Financial Times” na sexta-feira passada, envolvia a detenção de Yannis Stournaras, governador do banco central grego, e a ajuda financeira da Rússia na transição para a moeda antiga.
Como cabecilhas desta manobra secreta estavam alguns membros mais radicais do Syriza, liderados pelo ex-ministro da Energia, Panayotos Lafazanis, que entretanto apresentou a demissão alegando não se sentir representado no acordo que impõe mais austeridade ao povo helénico. Segundo o jornal britânico, o plano para levar a cabo uma insurreição contra o acordo assinado contaria com o apoio do próprio Alexis Tsipras. O jornal cita conversas tidas numa reunião que juntou os arquitectos do plano, no dia a seguir ao agreement entre o primeiro--ministro grego e as instituições credoras.
“O nosso plano é ir para uma moeda nacional. É isso que devíamos ter feito há muito tempo, mas podemos fazê-lo agora”, disse Panayotos Lafazanis, na altura ministro da Energia e ainda hoje líder da Plataforma de Esquerda do Syriza, segundo disse ao “Financial Times” uma das pessoas que estiveram presentes na reunião.
Para levar a cabo tal manobra, o primeiro passo seria levar o Estado a assumir o controlo do banco central. E se o presidente desta instituição, Yannis Stournaras, se opusesse, o plano previa que este fosse colocado na prisão pela polícia grega, escreve o jornal.
Concluída a primeira etapa, seguia-se então o controlo da casa da moeda grega, o Nomismatokopeion, onde estariam mais de 22 mil milhões de reservas, segundo Lafazanis – o suficiente para pagar pensões e salários e importar combustível e bens alimentares durante o tempo de transição para a antiga moeda nacional.
Ora, de acordo com o mesmo jornal, as reservas não iriam além dos 10 mil milhões, o que daria apenas para umas semanas. Além disso, esta seria uma operação que colocaria a Grécia numa posição “desastrosa” porque, ao perder a independência, o banco central deixaria de poder cunhar moedas e imprimir notas de euro. E se o fizesse, esse dinheiro seria considerado contrafeito, explicou uma fonte do BCE ao jornal britânico. “A Grécia ficaria isolada do sistema financeiro internacional, com os seus bancos incapazes de funcionar e os euros das suas reservas sem qualquer valor”, detalhou a fonte.
O terceiro eixo do plano envolvia o apoio financeiro de cerca de 10 mil milhões de euros do Kremlin. Desde que o Syriza venceu as eleições, Lafazanis visitou Moscovo três vezes, a pedido de Tsipras. Além do apoio pedido à Rússia, a imprensa grega revelou que Tsipras terá pedido ajuda também à China e ao Irão, mas sem sucesso.
As negociações para o novo empréstimo, previstas no acordo do passado dia 13, começam esta segunda-feira com a chegada da troika ao país. O objectivo é conseguir finalizar até 20 de Agosto um terceiro empréstimo à Grécia, que nessa data terá de pagar 3,19 mil milhões de euros ao BCE.